Por Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife pelo PCdoB O PSDB decidiu permanecer no governo, mas nem tanto.
Temer se apoia no PSDB, mas nem tanto…
Como se dizia antigamente, tudo “meia sola”.
A relação entre tucanos e peemedebistas se faz assim, sob a espada de Dâmocles de novas revelações de envolvimento de ambos com atos de corrupção.
Nenhuma das partes se sente segura.
Por que, então, celebram de público uma aliança tão movediça?
Porque não têm outra alternativa, ora.
LEIA TAMBÉM » Em reunião após julgamento, PSDB decide ficar no governo Temer » Daniel Coelho: deputados que querem desembarque do PSDB devem votar pela investigação contra Temer Da parte dos tucanos, o argumento principal para a manutenção de tão conturbado casamento é o interesse de concretizar as reformas trabalhista e previdenciária, pontas de lança da agenda regressiva neoliberal encetada pelo governo Temer.
Como disse recentemente o senador afastado Aécio Neves, “como sair de um governo cujo programa foi o PSDB que formulou?”.
Mas estamos quase às vésperas de um novo pleito, previsto para outubro do ano vindouro.
Deputados e senadores (e também parlamentares temporariamente ministros) envolvidos com um governo cuja aceitação pela população é inferior a dez por cento certamente temem o revés nas urnas.
Temem, mas não o suficiente para mudarem de lado agora.
Por duas razões muito concretas.
Uma, o compromisso das duas agremiações, sustentado pelo núcleo duro das direções partidárias e das suas lideranças no parlamento, com o chamado mercado (ou seja, o setor rentista da elite dominante).
Afinal, por trás das cortinas é o mercado que dita as regras a serem seguidas pelo complô parlamentar-policial-judiciário-midiático que patrocina e mantém a atual situação de absoluta falta de rumo e de instabilidade política e institucional. » Presidente interino do PSDB nega ‘chantagem’ do PMDB » Humberto Costa diz que PSDB mantém apoio a Temer para salvar Aécio Isto como consequência de inteligente e eficaz exploração dos erros cometidos no primeiro ano do governo deposto, causados em boa parte por concepções exclusivistas e sectárias da força hegemônica da coalizão que então dirigia o país.
Erros políticos, sobretudo, que abriram flancos para o desmonte do conjunto das políticas que vinham proporcionando transformações sociais de grande monta, sem precedentes na história de nossa frágil república.
O centro político, que em aliança com a esquerda, dava sustentação aos governos petistas, migrou para a direita e gerou a cena atual.
Acresce que, se a direção do processo situada no establishment financeiro tem norte claro e determinação suficiente para segurar as rédeas, a operação política se faz por uma gama de legendas partidárias internamente fracionadas e de lideranças chamuscadas por denúncias de corrupção. É o pano de fundo da aparentemente esdrúxula aliança PMDB-PSDB, com os tucanos a condicionando ao noticiário diário.
Em tempo: o mesmo PSDB que decidiu ficar no governo apela ao STF contra a decisão do TSE que absolveu o chefe desse governo, tentando ainda cassá-lo.