“Creche Esperança.
Esperança de quê?
De chegar no trabalho e assinar a carta de demissão pelos incontáveis dias que tivemos que sair no meio do expediente para buscar nossas crianças?
Esperança de chegar em casa e por um milagre divino a dispensa e a geladeira estarem cheias por um estalar de dedos, um milagre divino, pois não podemos fazer um bico porque não temos creche o dia todo e temos que ficar com os nossos pequenos?
Esperança de conseguir um bom emprego e não poder aceitar porque não temos com quem deixar nossos filhos, pois a creche do bairro só atende até as 11h?
Ou a Esperança de conseguir um emprego cuja jornada de trabalho seja de apenas 4 horas (a lenda)?
Me digam qual a esperança que devemos ter?
Porque eu estou em dúvida.” Esse foi um trecho da denúncia da desempregada Cremilda Cardoso, moradora da comunidade do Vietnã, no bairro de San Martin, na Zona Oeste do Recife, sobre a creche onde ela tenta deixar o filho enquanto ajuda o marido na loja que ele abriu para tentar driblar as dificuldades no orçamento de casa.
Mas, sem funcionários, a instituição só tem funcionado meio expediente e, com a obrigação de cuidar do menino, ela tem que fechar o negócio todas as tardes. “Muitas mães não têm com quem deixar as crianças, que é o meu caso.
Pago dois aluguéis e a renda cai bruscamente”, reclamou.
A creche atende 121 crianças.
LEIA TAMBÉM » No Recife, vereador denuncia assalto a creche onde havia posto policial » Posto de saúde no Recife funciona em contêiner, denuncia vereador » Após denúncia, aliada de Geraldo Julio diz que posto de saúde em contêiner é temporário O filho de Cremilda passou a frequentar a instituição em fevereiro, com o início do ano letivo, e as dificuldades começaram no meio do mês seguinte, segundo ela. “Me informei com outras mães e soube que no ano passado já acontecia o mesmo problema”, disse.
Hoje desempregada, Viviane Ramos chegou a pedir demissão por não ter quem cuidasse dos filhos dela - de 2 e 4 anos. “Começou em setembro essa luta e eu tive que pedir as contas, perdi meus direitos todos.
Está muito complicado.
Hoje mesmo comecei a fazer bolos para vender, mas com as duas crianças é difícil”, lamentou. “São raros os dias que fica até 17h, que é o horário normal.
Faz duas semanas que não fica, por exemplo.
Quando a gente vai levar as crianças, só sabe no dia de que horas vai ter que ir buscar.
Tem dia que é às 11h, tem dia que é às 13h”, contou. “A administração disse que estavam faltando 12 professoras e agora são 13.
Foi solicitado à prefeitura e não foi enviado.
Os dois ofícios não foram respondidos”, denunciou.
Em nota, a Secretaria de Educação da Prefeitura do Recife prometeu que o atendimento será normalizado a partir da próxima segunda-feira (12). “O prazo é necessário para promover os ajustes de ordem contratual em relação a recursos humanos, o que ocasionou o funcionamento da unidade apenas pelo turno da manhã desde o final de abril”, disse o texto.