Por Marcondes de Araújo Secundino, antropólogo, e Rafael Lemos, sociólogo Após longa lua de mel, Ministério Público, Judiciário, agremiações partidárias, artistas e veículos midiáticos de alto escalão ocupam-se em centrar fogo no presidente da República, outrora autodenominado de vice decorativo e até a pouco atleta útil para tocar o jogo das reformas desejadas pelo mercado e seus representantes políticos.

Estaria Temer fadado ao mesmo destino do seu correligionário Eduardo Cunha?

Decerto são graves as acusações que pesam sobre os ombros do atual ocupante da cadeira presidencial.

O que salta à vista é a mudança de tom das forças políticas arroladas, agora empenhadas em defenestrar do assento maior o antigo aliado que destronou os petistas, entre acusações sobre pedaladas e pedalinhos.

Embora não abram mão de ministérios, muitos partidos estão indignados com as revelações sobre Temer, inclusive o PSDB, que ora apoia ora apedreja.

Curiosamente este partido, que teve seu presidente abatido sumariamente nas inconfidências dos donos da apreciada marca de carnes para churrasco, apressa-se em ofertar candidatos à eleição indireta, ao mesmo tempo em que avalizam o governo agonizante.

Mas será que o tucanato não está de olho na PEC 77-A/2003, que pode prorrogar as eleições presidenciais para 2020, desengavetada pelo presidente do Congresso, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para tentar frear a escalada nas pesquisas de intenção de voto de Luiz Inácio Lula da Silva?

Agora, não parece razoável prorrogar o mandato de um presidente desprovido de carisma e com popularidade quase zero.

Mas que tal prorrogar o mandato de um tucano ficha limpa até 2020, que se proponha a atravessar a pinguela de que fala FHC?

Claro, uma pinguela com extensão de mais 2 anos de bônus.

Não será essa a razão pela qual os tucanos jogaram Aécio Neves para fora do ninho e lançam, embora de forma um tanto camuflada, tantas candidaturas à eleição indireta pós-Temer?

Então parece melhor cortar o entrave, mesmo no momento em que dava o melhor de si? É o que parecem dizer as ações do Combate dos Soldados de Cristo na Terra dos Papagaios na conveniente cruzada atual contra o ente abstrato denominado de corrupção, na paralela luta por cargos e carreiras de herdeiros dos Donos do Poder.

Ademais, parece uma forma mais rápida do PSDB, dos ensaios de sociologia de uma história lenta, subir a rampa do Planalto sem as credenciais da participação popular que o partido tem se esquivado.

Dessa forma, quem sabe o PSDB e o Príncipe da Sociologia não fazem as vezes do PSD de outrora e de Carlos Lacerda e definem a continuidade de uma tradição da cultura política brasileira.

Quem sabe, e de uma só vez, prorrogam as eleições para 2020 e ganham tempo para lidar com um contexto menos desfavorável.

Ou não?