AFP - O presidente Michel Temer (PMDB) enfrenta na próxima terça-feira (6) mais uma ameaça a seu frágil governo: o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da chapa que o elegeu como vice de Dilma Rousseff por abuso de poder econômico e financiamento ilegal de campanha.

O processo, que até pouco tempo parecia condenado ao fracasso, ganhou relevância após a divulgação de uma gravação, há duas semanas, na qual o presidente conversa com um empresário sobre a suposta compra do silêncio de um ex-deputado preso e sobre o pagamento de suborno a um procurador.

LEIA TAMBÉM » Julgamento da chapa Dilma-Temer está mantido para o dia 6 de junho » Julgamento da chapa Dilma-Temer vai discutir validade de depoimento de delatores » Novo ministro da Justiça já defendeu cassação da chapa Dilma-Temer no TSE A gravação, feita pelo próprio empresário, foi entregue à justiça como parte de um acordo de “delação premiada”.

Os apelos pela renúncia de Temer e os pedidos de impeachment se multiplicaram, e apesar de o presidente ter conseguido um fôlego nos últimos dias, sua delicada situação faz com que o país se volte para o TSE, que julgará o caso entre os dias 6 e 8 de junho.

Para Fernando Schüler, cientista político do Instituto de Investigação e Educação (Insper), trata-se de uma “coincidência histórica”. » Crise pode influenciar julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE » Para Marina Silva, cassação da chapa Dilma-Temer no TSE é o ‘melhor caminho’ “É apenas uma coincidência histórica E eticamente condenável, mais por outro lado é vaga.

Em Brasília não há um convencimento generalizado que o presidente cometeu um delito grave.

Há gente que acha e outros que não.

O julgamento do TSE não é um julgamento político, é um equívoco achar isso.

O sistema político até gostaria que fosse e especula (…), mas acho que o tribunal vai reagir fortemente contra qualquer tipo de ingerência política.

Não e um impeachment”.

Caso o TSE decida contra Temer, deverá definir se o presidente sai imediatamente ou permanece na presidência até o julgamento do recurso, que certamente chegará ao Supremo Tribunal Federal (STF), podendo retardar uma definição por várias semanas, segundo especialistas.

Se Temer cair, caberá ao Congresso eleger o novo presidente, no prazo de 30 dias, para completar o mandato presidencial até o final de 2018. » Imbassahy diz que não vê instabilidade com o julgamento da chapa Dilma-Temer Adiamento O julgamento começou no dia 4 de abril, mas foi interrompido para dar mais prazo à defesa e citar novas testemunhas ligadas ao escândalo de subornos envolvendo a Petrobras, que teria abastecido a campanha da chapa Dilma-Temer com somas astronômicas.

A possibilidade de o processo ser retardado é real, admitiu à AFP um jurista que segue a situação de perto.

Esta situação ajudaria Temer, que age para controlar o escândalo provocado pela gravação, que chegou ao Supremo. » Lula avalia que Temer ganhou sobrevida » Defesa de Temer diz que Janot age com ‘nítido viés político’ O TSE substituiu dois de seus membros durante a gestão de Temer e muitos acreditam que haverá um “pedido de vista”, o que retardará uma decisão por tempo considerável.

O presidente do TSE, Gilmar Mendes, reagiu acidamente aos boatos sobre manobras para beneficiar Temer: “Em um julgamento complexo é normal pedir vista e se alguém fizer isto não será um pedido do Planalto (…).

O TSE não é um brinquedo nas mãos do governo”. » Ninguém vai nos impedir de continuar nossas políticas públicas, garante Temer » Vou entregar a casa em ordem ao fim de 2018, garante Michel Temer O julgamento no TSE é para muitos um atalho para se evitar cenários mais críticos, como uma denúncia contra Temer no Supremo. “As provas são grandes, são muito graves (…) então é uma alternativa possível sim de uma saída institucional, legitima e tranquila. É uma alternativa viável”, disse à AFP Silvana Batini, procuradora da República. » Em duas semanas, Câmara recebe 14 pedidos de impeachment de Temer Paradoxo A denúncia afirma que a chapa Dilma-Temer superou o gasto permitido, usou a máquina estatal a seu favor e recebeu doações ilegais.

Paradoxalmente, a ação foi movida pelo PSDB, cuja chapa Aécio Neves-Aloysio Nunes foi derrotada por estreita margem por Dilma-Temer.

No final, tudo se resume em saber se o TSE acabará com a presidência de Temer e o Brasil terá mais um governo de transição, o segundo em 13 meses. » Lula defende saída de Temer e eleições diretas O professor Schüler acredita que isto não será necessário: “Temer tem todas as condições de sobreviver.

Depois do escândalo, o governo ganhou várias votações no Congresso.

O que não tem é popularidade. É um governo de transição, e para ser um governo de transição tem condições para sobreviver (…).

Temer tem base no Congresso, as expectativas econômicas são boas, a oposição é muito frágil e não tem movimentos de rua”.