O senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou ao empresário Joesley Batista, dono do grupo JBS, ter pressionado o presidente Michel Temer (PMDB), junto com outros empresários, para fossem feitas mudanças na Polícia Federal que incluíam a substituição do diretor-geral do órgão, Leandro Daiello.

De acordo com o jornal Folha de S.

Paulo, a conversa foi gravada pelo próprio Joesley no hotel Unique, em São Paulo, em 24 de março, e anexada ao acordo de delação que o grupo JBS fechou com a Procuradoria Geral da República.

Aécio disse ao empresário que o governo deveria aproveitar a crise gerada pela Operação Carne Fraca para a troca.

Joesley ponderou que era uma boa chance para trocar Daiello. “Não vai ter outra.

Porque nós nunca tivemos uma chance onde a PF ficou por baixo, né?”, disse o dono da JBS.

Aécio concordou: “Aécio vai ter quem vai falar, ‘é por causa da Lava Jato’. [O governo pode responder] ‘Não, é por causa da Carne Fraca’”, disse. “Tem que tirar esse cara”, respondeu Joesley.

Aécio repetiu “Tem que tirar esse cara”, pontuou.

Durante a conversa, Daiello não foi citado diretamente, mas sim de forma cifrada.

Em determinado momento, por exemplo, Aécio disse que “ele próprio [Daiello] já estava preparado para sair”.

Em outro momento do diálogo, afirma que era uma boa hora para o governo fazer “mea culpa” e “o cara da Polícia Federal chegar a cair”.

Na passagem entre os governo Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer, no ano passado, circularam rumores de que Daiello estava disposto a deixar a direção-geral da PF.

Ele ocupa o cargo desde 2011.

O senador mineiro criticou ainda a nomeação de Osmar Serraglio para o Ministério da Justiça, dizendo que ele “não dá nenhum alô”, sugerindo que não tentava interferir na Operação Lava Jato.

Serraglio deixou o cargo no último domingo (29) e Torquato Jardim o substituto na pasta.

Aécio contou a Joesley que outros empresários estavam “pressionando” o presidente Temer a tomar medidas contra a PF.

Ele disse que participou de um jantar com o peemedebista, o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, e uma pessoa citada apenas como Pedro. “Pressionaram.

A polícia tem que fazer um gesto, Errou.

Não adianta os caras ficarem falando que não, a Polícia Federal tem que falar: ‘ó, realmente foi um erro do delegado que, enfim, não dimensionou a porra.

Era um negócio pontual.

Em três lugares, Já está contido e tal’.

O laudo, pãpãpã, e zarpar com esse cara”, disse Aécio.

Ele também afirmou que estava pressionando Temer para que apoiasse o projeto que trata de “abuso de autoridade”.

Outro lado O encontro narrado pelo senador, entre Temer e banqueiros, ocorreu na noite anterior ao diálogo, na casa do empresário Carlos Jereissati.

O senador confirmou à reportagem da Folha de ter viajado com o presidente peemedebista para São Paulo, conforme disse no di´logo com Joesley.

O Palácio do Planalto informou que o presidente deu carona ao senador em 23 de março.

O governo não disse qual assunto foi tratado.

A assessoria do tucano disse que o senador “teve um longo despacho sobre a pauta de reformas”.

O Bradesco disse que Trabuco esteve com Aécio no dia 24, em encontro com o presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffareli, para tratar da mudança na presidência da Vale.