Por Jayme Asfora, vereador do Recife e ex-presidente da OAB-PE De janeiro até agora, 117 foram assassinadas no Brasil por um único motivo: eram diferentes da maioria por causa da sua orientação sexual ou da sua identidade de gênero.

A população de pessoas trans, gays, lésbicas ou bissexuais sofre todo dia com a violência, com as humilhações, com situações vexatórias que, muitas vezes, levam à depressão e à morte.

Por tudo isso, o Recife perdeu a enorme oportunidade, esta semana, de contribuir contra toda essa crueldade quando a Câmara dos Vereadores rejeitou o projeto de lei que criava o Conselho Municipal de Políticas LGBT.

Se o seu funcionamento permitisse que uma única vida fosse salva, seu funcionamento já iria valer a pena.

LEIA TAMBÉM » Projeto que cria ‘Conselho Municipal LGBT’ é rejeitado na Câmara do Recife O Conselho Municipal LGBT deveria focar sua atuação na proposição de ações que visassem diminuir tudo isso que eu falei lá em cima.

Formado por pessoas da gestão pública e, principalmente, de representantes da sociedade que vivenciam o cotidiano desse preconceito tão irracional, o colegiado poderia encontrar caminhos para combater o bullying nas escolas através da capacitação de professores para lidar com a discriminação, garantir o atendimento respeitoso e de acordo com as especificidades de cada grupo de população nas unidades de saúde etc.

Além disso, caberia a ele fiscalizar e aprimorar o que já é feito.

E não podemos negar a existência de um olhar diferenciado e eficiente para a população LGBT que vem garantindo muitas conquistas, principalmente através da sua Gerência Livre Orientação Sexual, muito bem comandada por Welligton Pastor .

O Centro de Referência em Cidadania LGBT, por exemplo, em quase três anos de funcionamento, já realizou mais de 5 mil atendimentos.

Hoje, existem quase mil usuários cadastrados e inseridos em uma rede de proteção e cidadania. » Maria do Céu repudia ‘votos homofóbicos’ que barraram criação do conselho LGBT no Recife » No Recife, PPS ameaça vereador que votou contra criação do Conselho LGBT » Advertido por votar contra Conselho LGBT, vereador do PPS diz que não faz “oposição a esse segmento” Um outro exemplo que podemos dar foi a nossa luta para garantir que as pessoas trans pudessem usar seu nome social em todos os documentos da Prefeitura do Recife.

Do cadastro escolar à emissão do Imposto Sobre Serviços, tudo isso já pode ser emitido com o nome social, evitando constrangimentos desnecessários.

Mas, para chegarmos a esse momento, foi preciso mostrar, de diversas formas, ao governo municipal o quanto essa medida era importante.

A existência do Conselho seria fundamental para esse processo. É lamentável que cidades como Fortaleza, Maceió, São Paulo, Florianópolis, Niterói, entre tantas outras, tenham o seu Conselho e, logo Recife, não possa alcançar essa conquista porque alguns representantes da população não enxergaram a importância dessa construção. » Vereadora evangélica detona criação de conselho LGBT no Recife. ‘Vai inchar quadros públicos’ » Vereadora denuncia violência virtual após votar contra Conselho LGBT É uma contradição com nossa história libertária e vanguardista.

Vai de encontro a todos os movimentos de garantia dos direitos das população LGBT como, por exemplo, a decisão do Supremo Tribunal Federal, há seis anos, de assegurar a igualdade entre todos os tipos de famílias, inclusive as homoafetivas.

Uma vida perdida para o preconceito representa uma família destroçada, sonhos perdidos e um golpe na esperança de um mundo com mais fraternidade, tolerância e respeito.