Por Fernando Holanda, especial para o Blog de Jamildo Confesso que tem sido difícil acompanhar o caldeirão de acontecimentos políticos que tem fervido Brasília nestes últimos dias.
Antes mesmo de o STF quebrar o sigilo das delações dos executivos da JBS, a renúncia do Presidente já foi tida como certa e a Bolsa chegou a parar.
Depois disso, em menos de uma semana, o ex-presidente Lula já foi formalmente acusado de 10 crimes de corrupção, Paulo Maluf foi condenado a 7 anos de prisão por lavagem de dinheiro, dois ex-governadores do Distrito Federal foram presos e o Senador Aécio Neves, afastado do cargo, tendo ainda sua irmã e primo presos.
Parece até que é muita Justiça para um Brasil só.
Em Pernambuco, os efeitos da Operação Lava Jato começam a ser sentidos.
Delatado por quatro executivos da Odebrecht, o Ministro das Cidades Bruno Araújo teria sido o primeiro a desembarcar do Governo Temer, o que acabou não acontecendo.
Já o Governador Paulo Câmara e o Prefeito Geraldo Julio, citados na delação da JBS, vieram a público declarar que a negociação com a JBS não se configura como propina e, sim, doação eleitoral.
Por fim, o Senador Armando Monteiro - listado na superplanilha da Odebrecht - tentou liderar o incipiente coro da oposição ao PSB.
Nas redes sociais, simpatizantes e antipatizantes dos mais diferentes partidos se engalfinham em avaliações seletivas e enviesadas.
Quando a Lava Jato atinge um simpatizado, é uma operação politizada, cheia de aberrações jurídicas e arquitetada exclusivamente para prendê-lo.
Quando indicia ou prende um antipático da oposição, a casa finalmente caiu, eu sempre disse.
Não tem Justiça, Política Federal ou Procuradoria Geral da República.
Estão todos implicados, desde que não afrontem meus preferidos.
Enquanto isso, a Câmara Municipal do Recife parece alheia ao clamor popular por uma política mais transparente e verdadeiramente capaz de representar as pessoas.
A oposição aproveitou a delação da JBS para fazer a velha politicagem, solicitando a presença do Prefeito para prestar esclarecimentos - coisa que nem mesmo a Justiça demandou.
E a bancada governista escancarou todo o seu conservadorismo ao rejeitar a indiscutivelmente oportuna criação do Conselho Municipal LGBT, proposta pelo próprio Poder Executivo.
Nesse caldeirão de acontecimentos, a honestidade intelectual parece que tem sido um ingrediente em falta.
Os inocentes deveriam ser os primeiros a apoiar as investigações da Justiça, já que não têm o que temer.
Os partidários, a exigir que todos sejam investigados, julgados e condenados se culpados, independente de sua preferência.
E os políticos, a entender de uma vez por todas que as pessoas cansaram dessa fome insaciável pelo Poder, que gera tanta corrupção e tão pouca representatividade.
O Recife, Pernambuco e o Brasil podem sim esperar que desse limão se faça uma limonada.
Que os inocentes sejam inocentados e os culpados, condenados.
Que o Executivo e o Legislativo se renovem de verdade, nos seus quadros e nas suas práticas.
E que, finalmente, o Judiciário funcione.
Mas, para isso, é preciso que a população aprenda a receita, temperando o debate com pitadas de lucidez e a política com uma boa dose de bom senso.
Fernando Holanda representa a RAPS - Rede de Ação Política pela Sustentabilidade no Conselho da Cidade do Recife. É filiado à Rede Sustentabilidade.