A pressão do PTB contra o governador Paulo Câmara, depois das denúncias da JBS, na sexta-feira, não ficaram apenas na nota do senador Armando Monteiro Neto. o movimento foi articulado com a bancada de oposição na Alepe.

Nesta tarde, a Bancada de Oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) cobrou explicações do governador Paulo Câmara e do prefeito Geraldo Júlio sobre as declarações do executivo da JBS, Ricardo Saud, envolvendo o PSB pernambucano.

Na delação que veio a público na sexta-feira da semana passada, Saud afirma ter sido procurado por Paulo Câmara e pelo prefeito Geraldo Júlio para tratar de doações da empresa para a campanha de 2014 e que teriam liberado R$ 1 milhão para a campanha do governador. “Saud fala, inclusive, em ter recebido, na sede da empresa, ao lado do empresário Joesley Batista, o governador do Estado e o prefeito do Recife.

Li atentamente as notas divulgadas por Paulo e Geraldo e, no entanto, em nenhum momento vi nenhuma referência ao encontro.

De fato houve ou não esse encontro com o delator?

E se houve, e não foi tratado nada relacionado à campanha, o que o governador de Pernambuco e o prefeito da Capital foram tratar na sede da empresa”, questionou, Silvio Costa Filho (PRB).

O questionamento visa flagrar os adversários em omissão, em um eventual crime de prevaricação.

O deputado Álvaro Porto (PSD), dissidente da base governista, cobrou coerência do governador, exigindo explicações públicas sobre as denúncias envolvendo o seu nome. “Paulo Câmara cobrou explicações do presidente Michel Temer e os pernambucanos esperam o mesmo dele.

O governador vai renunciar, como propôs a Temer o prefeito Geraldo Júlio, de quem Paulo Câmara é aliado?”, perguntou o parlamentar, repetindo o que já havia dito na semana passada.

Para Edilson Silva (Psol), presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos, o episódio exige explicações do PSB e de seus dirigentes. “É mais um entre tantos mal feitos ainda mais graves do núcleo duro do PSB em Pernambuco”, destacou.

Como fez Armando Monteiro, os parlamentares lembraram que não foi a primeira vez que o PSB pernambucano e seus quadros são citados em delações ou envolvidos em operações da Polícia Federal. “O PSB de Pernambuco já foi citado nas delações de Marcelo Odebrecht e outros executivos da construtora, além de terem sido alvo de sete operações da Polícia Federal.

Foram cinco no âmbito da Lava-Jato (Vórtex, Filhotes, Vidas Secas, Politeia e Catilinárias) e duas que tratam especificamente de questões locais (a Fair Play, que investiga irregularidade na construção da Arena Pernambuco, e Turbulência, que apura um suposto esquema de corrupção que teria movimentado cerca de R$ 600 milhões desde 2010)”, acusaram, reverberando a mesma estratégia de Armando Monteiro. “O governador de Pernambuco, o prefeito do Recife e a direção do PSB devem explicações à sociedade pernambucana sobre esse encontro e sobre a afirmação de que teriam sido enviados R$ 1 milhão para a campanha do então candidato Paulo Câmara”, cobrou Silvio Costa Filho.

Entenda o caso Em delação premiada, o diretor da JBS Ricardo Saud afirma ter negociado propina para as campanhas de Eduardo Campos, falecido em 2014, e Paulo Câmara, ambos do PSB.

Ainda de acordo com o delator, o prefeito do Recife, Geraldo Julio, o governador Paulo Câmara e um homem chamado Henrique, eram mandados por Eduardo para tratar de propina. “Exatamente no dia que ele faleceu [Eduardo], eu estava com o Henrique que era a pessoa dele que ele mandava… Ou o Henrique, ou o Paulo Câmara ou o Geraldo Julio para ir lá tratar da propina”, afirma Saud.

O delator contou ao Ministério Público Federal (MPF) que foi procurado por Geraldo Julio, após a morte de Eduardo, pedindo para que fosse honrado o pagamento do que havia sido negociado com Eduardo. “Com a morte do Eduardo, o Paulo e o Geraldo me procurou e disse que tinha que honrar o pagamento para ganhar a eleição em Pernambuco em homenagem a Eduardo”, disse Ricardo Saud. “Aí chegamos ao meio termo de pagar o total e ainda dar uma propina ao Paulo Câmara em dinheiro vivo lá em Pernambuco”, completou.

Assista a delação de Ricardo Saud: Ricardo Saud afirma que trabalhava com propinas para três campanhas de candidatos à Presidência em 2014: a de Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

Na delação, Ricardo afirma que estava empolgado com o pernambucano, pois era “um cara novo, de futuro”. “A gente estava trabalhando com a Dilma, com propinas para Dilma, com o Aécio e com o Eduardo Campos e estávamos muito empolgados com a candidatura do Eduardo, estivemos com ele, o Paulo Câmara o Geraldo Julio.

Um cara novo de futuro e decidimos investir nele e colocamos um limite para iniciar.

Disse a ele: nós vamos deixar 15 milhões de propina, se você começar a crescer a gente vai te alimentando, melhorando isso aí e depois a gente acerta se você ganhar.

E isso foi feito”.

O delator conta que Eduardo indicou o Henrique e o dono da JBS, Joesley Batista, indicou o próprio Ricardo para tratar de valores para o socialista.

Foto: Guga Matos / JC Imagem Ele ainda cita que o senador pernambucano Fernando Bezerra Coelho foi “beneficiado” na época em um R$ 1 milhão. “Começamos a pagar e a primeira coisa que fizemos é que se ele fosse crescendo, iríamos fazer o investimento que fizemos no Aécio.

Aí fizemos R$ 14.650 milhões em pagamentos através de notas fiscais avulsas e pagamentos em espécie.

Depois R$ 210 mil em 27/06/2014 para a HNJ consultoria que é do próprio Henrique e R$ 1 milhão para Arcos que é do André Gustavo.

A Arcos foi apresentada pelo Fernando Bezerra que era candidato ao Senado”, disse.

Em nota, Fernando Bezerra Coelho diz que as afirmações do delator “não correspondem à verdade”. “A defesa do senador, representada pelo advogado André Luiz Callegari, afirma que todas as doações para a campanha de Fernando Bezerra Coelho ao Senado foram devidamente declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral.

A defesa do parlamentar, que não teve acessos aos referidos autos, repudia as declarações unilaterais divulgadas e ratifica que elas não correspondem à verdade”, diz a nota divulgada pela assessoria de FBC.

Na oposição, o deputado Alvaro Porto, do PSD, gravou uma mensagem nas redes sociais cobrando que o governador Paulo Câmara desse explicações aos pernambucanos.

O parlamentar, que está na base de sustentação de Paulo Câmara na Alepe, disse que o governador chegou a cobrar uma explicação de Temer, na véspera, comentando os escândalos do cenário nacional. “Seu aliado e prefeito do Recife, Geraldo Júlio, em entrevista pela manhã pediu a renuncia de Michel Temer.

Mas em delação premiada, o diretor da JBS, Ricardo Saud, afirma ter pago também 15 milhões em propina para Eduardo Campos, Paulo e Geraldo.

E agora governador?

Chegou sua vez de dar explicações ao povo pernambucano.

Faça melhor, siga o conselho do seu colega de partido e renuncie!”, declara o parlamentar.

Respostas: Paulo Câmara Foto: José Cruz/ Agência Brasil “Venho repudiar, veementemente, a exploração política do depoimento do delator Ricardo Saud, que, já antecipo, não corresponde à verdade.

Não recebi doação da JBS de nenhuma forma.

Nunca solicitei e nem recebi recursos de qualquer empresa em troca de favores.

Tenho uma vida dedicada ao serviço público.

Sou um homem de classe média, que vivo do meu salário.

Como comprovará quem se der ao trabalho de ler o documento que sintetiza a delação, o próprio delator afirma (no anexo 36, folhas 72 e 73) que nas doações feitas ao PSB Nacional “não houve negociação nem promessa de ato de ofício”, o que significa que jamais houve qualquer compromisso de troca de favores ou benefícios.

Desta forma, é completamente descabido o uso de expressões como “propina” ou “pagamento”.

Reafirmo a Pernambuco e ao Brasil que todas as doações para a minha campanha foram feitas na forma da lei, registradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral”.

Paulo Câmara Governador de Pernambuco Geraldo Júlio Foto: Rodrigo Lobo/Acervo JC Imagem “Diante da menção ao seu nome por um dos delatores da JBS, divulgada hoje pela imprensa, o Prefeito Geraldo Julio repudia veementemente as acusações e esclarece que nunca tratou de recursos ilegais com essa empresa ou com qualquer outra.

O próprio documento divulgado pela justiça registra que as doações feitas a campanha nacional do PSB não foram por troca de favores.

Todas as doações recebidas pelo partido foram legais.” Geraldo Julio Prefeito do Recife