Estadão Conteúdo - Em delação ao Ministério Público, o diretor de Relações Institucionais e de Governo da JBS, Ricardo Saud, relatou, no último dia 7, que o grupo pagou R$ 80 milhões para a campanha do então candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves.
Principal braço direito de Joesley Batista, dono da JBS, nas negociações com políticos do governo ou da oposição, Saud não deu detalhes sobre a forma do repasse ao tucano, mas disse que as “questões” eram na maioria das vezes “ilícitas”.
O delator contou que Joesley sempre “correu” do candidato. “Ele (Aécio) continuou pedindo mais dinheiro após a campanha”, relatou.
Saud ainda contou que um homem de prenome Fred era o interlocutor de Aécio para receber o dinheiro, sempre em shopping center movimentado.
O dinheiro era guardado por Fred numa mochila de cor preta.
Uma pessoa próxima de Aécio conhecida por Fred é o primo dele Frederico Pacheco de Medeiros, preso no âmbito das investigações nesta quinta-feira, 18.
O delator ainda contou que pagava “propina” a dois intermediários de Eduardo Cunha, Altair e Lúcio Funaro.
Irmã de Aécio queria R$ 40 milhões para apartamento, diz Joesley A empresária Andrea Neves, irmã de Aécio Neves, pediu R$ 40 milhões ao dono da JBS, Joesley Batista, para a compra de um imóvel no Rio de Janeiro.
A informação foi revelada por Joesley em depoimento.
Ele disse que condicionou o pagamento à nomeação de um indicado seu para o comando da Vale, mas que a operação não se concretizou.
Andrea Neves foi presa preventivamente nesta quinta-feira, 18, por suspeita de intermediar pagamento de propina de R$ 2 milhões ao irmão, que foi afastado do cargo.
Além dela, foi preso Frederico Pacheco, primo do tucano, flagrado recolhendo o dinheiro.
O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), entendeu ser “imprescindível” a decretação da prisão de Aécio, mas não o fez, justificando que a Constituição não autoriza encarcerar integrantes do Congresso, salvo “em flagrante de crime inafiançável”.
O ministro deixou a decisão para o plenário da Corte, em caso de eventual recurso do procurador-geral da República, Rodrigo Janot Nomeações Conforme um dos depoimentos do delator, Andrea cobrou os R$ 40 milhões para a compra de um apartamento da mãe.
Nesse contexto, ele explicou que pediu a Aécio a nomeação de Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras, para presidir a Vale.
O dono da JBS explicou que, com a nomeação de Bendine, resolveria o problema dos R$ 40 milhões pedidos por Andrea.
Mas Aécio, segundo ele, disse que já havia indicado outra pessoa para a vaga, dando a ele a oportunidade de escolher qualquer uma das outras diretorias da mineradora.
O tucano teria dito para o delator esquecer o pedido milionário da irmã, pois todos os contatos seriam feitos com ele próprio.
O depoimento de Joesley diz que Aécio teria pedido várias outras quantias a ele.
Chegou, por exemplo, a vender um apartamento superfaturado, de R$ 17 milhões, a uma pessoa indicada pelo senador para passar o dinheiro a ele.
O advogado de Andrea Neves, Marcelo Leonardo, disse que só se pronunciará depois de ter acesso integral ao inquérito.
A defesa de Aécio justificou, em nota, que a conversa com Joesley se referia a uma relação entre “pessoas privadas”, sem a negociação de contrapartidas, ato ilegal ou relação com o poder público. “Tratou-se única e exclusivamente de uma relação entre pessoas privadas, em que o senador solicitou apoio para cobrir custos de sua defesa, já que não dispunha de recursos para tal”, afirma o advogado José Eduardo Alckmin.