A falta de planejamento financeiro e o descontrole nos gastos têm sido os maiores vilões na hora de honrar com as dívidas.
A Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL Recife), através da Pesquisa do Perfil do Inadimplente realizada em abril deste ano, constatou que mais da metade dos endividados (57,4%) afirmam ter entre 31% e 50% da sua renda comprometida com a quitação de débitos atrasados, um aumento de 51,8 p.p. na comparação anual.
Esse resultado indica um alto grau de endividamento das famílias, já que o recomendado é que não ultrapasse os 30%.
Segundo a pesquisa, 43,4% dos consumidores estão com orçamento comprometido com o pagamento de dívidas por falta de organização orçamentária e controle dos gastos.
Esse fato não acontecia desde abril de 2015, quando o principal motivo da inadimplência passou a ser o desemprego.
Apesar de o número de desempregados não ter diminuído, visto que, segundo o IBGE, há cerca de 13,5 milhões de inativos no país, esse fator é um agravante e tem dificultado que a população obtenha crédito, uma vez que a queda dessa condição influencia diretamente, como motivador da inadimplência.
A segunda maior causa da negativação foi o atraso salarial com 21,1%. “Esse resultado é um sinal evidente de que as famílias não se planejam financeiramente, é visível a falta de organização orçamentária.
O cartão de crédito, por exemplo, é um golpe fatal.
As pessoas gastam desregradamente e quando se dão conta, estão com dívidas acumuladas.
Também há outros fatores como desemprego e a instabilidade econômica que agravam a situação”, comenta o presidente da CDL Recife, Eduardo Catão.
Houve considerável crescimento no número dos que se endividaram por causa do cartão de crédito.
Passaram de 26,8% em abril do ano passado, para 56,6% em abril deste ano.
A dupla cartão de crédito + cartão de loja corresponde a 72,4% do total.
Para não ficar inadimplente, o consumidor tinha a opção de fazer o pagamento mínimo da fatura, porém as novas regras para o rotativo do cartão de crédito mudaram e, diferente do que acontecia antes, quem optar por pagar o valor mínimo da fatura, não poderá fazer isso por vários meses consecutivos.
A modificação deve ajudar a equilibrar o saldo devedor das famílias.
Outro tipo de crédito que cresceu como causador da negativação foi o cheque especial, que passou de 0,8% em abril de 2016, para 10% em abril de 2017.
Neste contexto, o recurso surge como alternativa rápida de crédito.
O problema é quando ele passa a ser usado como complemento da renda por longos períodos e gera uma dívida que cresce rapidamente.
O atual cenário econômico também tem levado muitos consumidores a ficarem inadimplentes.
O número de negativados pela primeira vez aumentou consideravelmente, tanto na comparação anual, quanto comparado a dezembro do ano passado.
Eles eram 28,1% do total em abril do ano passado, passando para 56,6% em 2017.
As classes D e E vem enfrentando dificuldades devido a recessão econômica e ao desemprego: a população com renda entre um e dois salários mínimos permanece como maioria entre os endividados, mas comparado a abril de 2016 houve queda, passaram de 61,1% para 50,7% em abril deste ano.
Já os que possuem renda de até três salários mínimos corresponderam a 95,8% dos negativados.
Devido à recessão e ao desemprego, muitos consumidores estão enfrentando dificuldades na quitação de seus débitos.
Para 42,6% dos negativados o principal motivo da falta de pagamento é o fato de a despesa ser muito superior aos seus ganhos.
Caiu o número dos que pretendem pagar totalmente as dívidas comparado a dezembro de 2016, são 23,2% do total.
No entanto, aqueles que pretendem pagar os débitos, ainda que de forma parcial, cresceu 46,3 p.p., passando a 72,2%.
Perfil da dívida A maioria (58,7%) possui atraso de 6 meses a 3 anos.
A faixa de dívida compreendida entre R$ 100 e R$499 cresceu 22,0 p.p. em um ano e equivale a 38% do total, a outra faixa que corresponde a R$1000 e R$1.999 aumentou 9,6 p.p. e são agora 29,8%.
São as duas faixas que englobam maior parcela das dívidas em abril, ambas registraram crescimento tanto na comparação anual, quanto comparado a dezembro do ano passado.
Perfil do Inadimplente Embora quase empatados, os homens continuam sendo maioria entre os negativados com 50,9% contra 49,1% das mulheres.
A população que vai de 21 a 50 anos, que compõem maior parte da população economicamente ativa, não conseguiu honrar seus débitos em abril, somando 83,3% dos devedores.
A faixa etária entre 31 e 40 anos permanece predominantemente entre os negativados, atingindo 32,8%, um aumento 6,6 p.p. em relação a setembro de 2017.
Os negativados com idades entre 41 e 50 vêm em seguida com 29,4%.
Os de idade entre 21 e 30 correspondem a 21,1%.
A população de inadimplentes com mais de 50 anos voltou a reduzir, passando de 29,1% em dezembro de 2016, para 16,3% nesta última pesquisa.
Os inadimplentes com ensino médio completo ou incompleto são maioria entre os negativados com 66,4%.
No entanto, houve queda em relação a abril do ano passado (-9,3 p.p.).
Em contrapartida, os que estão cursando Ensino Superior ou já concluíram, registraram aumento de 9,5 p.p. na comparação anual e agora são 22,6% do total.
Os que possuem algum tipo de pós-graduação são apenas 1,9% do total.
Os profissionais de empresa privada se mantêm como maioria entre os que não puderam pagar suas dívidas sendo 43,4% do total, um aumento de 17,5 p.p. comparado a dezembro.
Os autônomos permanecem com a segunda maior participação entre os endividados, com 22,6%.
Isso é resultado do crescimento do trabalho autônomo em detrimento a redução de mercado de trabalho formal e ao fato de que a renda variável desse serviço, somado a falta de planejamento podem contribuir para a elevação da inadimplência desses profissionais.
Metodologia Durante o período de 11 a 20 e 24 de abril, 521 consumidores inadimplentes do Recife e Região Metropolitana, de ambos os gêneros, acima de 18 anos e de todas as classes sociais foram ouvidos.
A soma das respostas de algumas perguntas são superiores a 100% devido ao fato da questão admitir mais de uma resposta.
Pesquisa de Perfil do Inadimplente – Desde de 2011 a CDL Recife vem realizando periodicamente pesquisas para identificar o perfil da inadimplência dos consumidores do Recife e Região Metropolitana.
No levantamento são aferidas as informações com relação a origem do débito, grau de escolaridade, renda familiar, causas da inadimplência, período de atraso(s) do(s) título(s), valor da dívida, recurso que pretende utilizar para quitação da pendência, entre outros.
As entrevistas são executadas no setor de atendimento público do SPC, onde circulam diariamente cerca de 800 pessoas.