Por Fernando Holanda, especial para o Blog de Jamildo As manifestações ocorridas na manhã desta terça-feira (9) em frente à Câmara Municipal do Recife são um retrato do sentimento das pessoas em relação à política. É que, em tempos de disrupção digital, economia do compartilhamento e empoderamento cidadão, ninguém mais aguenta se relacionar com uma classe política improdutiva, cheia de privilégios e que insiste em legislar em causa própria.

A frustrada tentativa das Vereadores e Vereadores de aumentar o próprio auxílio-alimentação em 53% - de vergonhosos R$ 3.000 para ultrajantes R$ 4.595 - pode ter sido o estopim para uma oportuna crise nessa relação aqui no Recife.

A revogação do aumento em menos de 24 horas após a imprensa noticiá-lo mostrou que a pressão popular funciona.

E que publicar um post numa rede social, enviar um e-mail através de uma plataforma ou criticar direta e abertamente um parlamentar deixou de ser uma gota no oceano para tornar-se uma onda capaz de envolver milhares de pessoas.

Ao longo dos últimos dias, o debate sobre a boquinha dos Vereadores se intensificou.

Qual foi a punição para os que faltaram sem justificativa a mais da metade das sessões ordinárias da Casa no ano passado?

Será que é preciso mesmo ter R$ 3.000 por mês de auxílio-alimentação para cada um dos 39 mandatos?

E o aumento de R$ 9.287,57 para R$ 15.031,76, aprovado em 2012, foi justo?

São questões pertinentes, que precisam ser debatidas com a sociedade, mas que até então foram convenientemente ignoradas por quem deveria estar nos representando.

Nas próximas semanas, o Recife pode se juntar a um seleto grupo de cidades que revogaram privilégios do Legislativo Municipal através da pressão popular. É o caso da cidade de Jacarezinho, no norte do Paraná, onde os Vereadores foram obrigados a reduzir os próprios salários em 30%.

O movimento, que ficou conhecido como “Gatos Pingados”, começou pequeno, foi ironizado pelos políticos e, no final, prevaleceu.

Situação semelhante à do município de Francisco Sá, no Norte de Minas Gerais, onde os parlamentares foram obrigados a reduzir os salários de R$ 6.891 para R$ 2.200, um corte de 68%.

O movimento se estendeu também a cidades como Pouso Alegre, também em Minas, Mauá da Serra, Santo Antônio da Platina e São Mateus do Sul, todas no Paraná.

O recado para a classe política é claro: parem de abusar do bom senso das pessoas.

O que se espera de vocês é fiscalização, representação e legislação, não a busca desenfreada por (mais) privilégios.

A ordem do dia é agir com prudência, transparência e compromisso com o dinheiro público.

Estamos de olho!

Fernando Holanda representa a RAPS - Rede de Ação Política pela Sustentabilidade no Conselho da Cidade do Recife. É filiado à Rede Sustentabilidade.

Holanda foi candidato a vereador no Recife nas últimas eleições pelo partido Rede, de Marina Silva