O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, informou que colocará em votação na próxima terça-feira (9) a proposta de emenda à Constituição que regulamenta os prazos de análise de medidas provisórias pelo Congresso Nacional (PEC 11/2011).

A informação foi comunicada ao Plenário pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), que foi relator da proposta.

Na sessão deliberativa da última quarta-feira (3), os senadores questionaram o tempo exíguo, de menos de 48 horas, que tiveram para tomar uma decisão sobre a MP 752/2016, que trata da prorrogação de concessões do setor de transportes.

Eles voltaram a cobrar que a Câmara vote a PEC 11/2011, que estabelece um prazo-limite para que as medidas provisórias cheguem ao Senado. “Esse é o mínimo que nós podemos fazer para respeitar o trabalho do Parlamento, para criar um equilíbrio entre as duas Casas.

Para nós é um incômodo enorme receber uma matéria dessa complexidade e sermos obrigados a aprová-la, muitas vezes sem saber exatamente o que contém, por essa questão da premência de prazo” disse Aécio Neves.

Histórico Atualmente as MPs têm um prazo único de tramitação no Congresso Nacional, que pode chegar a 120 dias.

Esse prazo inclui os trabalhos da comissão mista de análise prévia e a sua apreciação nos Plenários da Câmara e do Senado.

Dessa forma, não é raro que as medidas provisórias passem a maior parte desse tempo na Câmara e cheguem ao Senado com poucos dias antes do esgotamento do prazo, não permitindo que os senadores façam um debate aprofundado antes da decisão final.

Há anos o Senado reivindica uma norma que garanta um tempo razoável mínimo para análise das medidas provisórias.

Em 2011, os senadores aprovaram a PEC como forma de regulamentar esse processo e estabelecer prazos determinados para cada etapa do processo.

A proposta passou por duas comissões da Câmara, mas ainda não foi votada no Plenário daquela Casa.

Em 2013, um acordo de lideranças estipulou que o Senado não votaria medidas provisórias que chegassem à Casa com menos de sete dias para o encerramento do prazo de vigência.

Essa decisão não foi firmada no Regimento Interno, mas foi mantida como regra geral, de modo a pressionar a tramitação das MPs e garantir um período confortável de trabalho para os senadores.

Novas regras De acordo com a PEC 11/2011, a Câmara terá até 80 dias para analisar cada medida provisória (incluídos os dez dias da comissão mista).

A partir da aprovação pelos deputados, o Senado terá até 30 dias para exame e votação da matéria.

Caso os senadores promovam mudanças na MP, a Câmara terá mais dez dias para dar a palavra final.

O descumprimento de qualquer um desses prazos implica em perda de vigência e rejeição tácita da medida provisória.

Na Câmara, a PEC passou por modificações e pode ser votada pelo Plenário com novas regras.

A principal é o fim da comissão mista e o estabelecimento de uma comissão especial em cada Casa do Congresso para a análise de cada MP.

Segundo a versão dos deputados, a Câmara terá 70 dias (incluindo 35 para sua comissão) e, caso esse prazo não seja cumprido, a MP seguirá para o Senado mesmo sem ser votada naquela Casa.

O Senado terá 30 dias (sendo 15 para sua comissão) e, na ocorrência de mudanças, a Câmara terá mais 20 dias.

Nesses dois últimos casos, a extrapolação do prazo implica em perda de vigência da medida provisória.

Polêmica Na última quarta-feira (3), a MP 752 foi votada mesmo sob protestos de senadores que exigiam o cumprimento do acordo de 2013.

A medida perderia a sua vigência no dia seguinte.

O senador Humberto Costa (PT-PE) foi o primeiro a chamar atenção para a regra acertada pelos líderes há quatro anos.

O vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que presidia a sessão, apresentou uma ressalva para sustentar a votação da matéria. “Eu devo lembrar que o entendimento foi feito com um colégio de líderes diferente do que temos hoje e uma Mesa também outra.

Era preciso revalidar esse termo de acordo para que nós pudéssemos ter a prevalência sobre a norma regimental” disse o senador.

O líder do DEM, senador Ronaldo Caiado (GO), protestou contra essa interpretação, afirmando que a Mesa não poderia ter revogado um acordo de líderes sem consultar o atual colegiado.

Ele disse que o Senado não poderia ceder à pressão para votar a medida provisória. — Se o governo quis procrastinar [A MP]achando que o Senado ia convalidar aquilo que veio da Câmara nos últimos minutos, está redondamente enganado.

Esse tipo de ação nós não podemos admitir.

O Senado já deliberou sobre essa matéria, já deixou claro que esta Casa não vai se curvar a esse tipo de atitude.

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) também questionou a intenção de votar a MP fora do prazo estipulado.

Ela lembrou que o acordo foi firmado durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, e que ela, então como membro da base parlamentar, aceitou a decisão das lideranças do Senado.

Assim, ela cobrou a mesma postura da atual base — que era oposição naquele momento. — Nós estamos diante de uma medida provisória que vence amanhã [terça-feira, 4].

Então, o que nós vamos fazer aqui?

Nós vamos carimbar.

O único poder que nós teremos é carimbar.

Nós não podemos continuar agindo assim, porque não é agir contra a oposição, é agir contra o próprio Senado Federal — disse a senadora.

A MP acabou sendo votada após mediação do líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), que fez uma modificação no texto para contemplar as preocupações dos senadores que tinham restrições à proposta.

Ele também fez um apelo para que o Senado flexibilizasse o acordo neste caso específico e pressionasse a Câmara a cumprir a sua parte, que é a votação da PEC 11/2011. — Essa votação não pode gerar precedente.

Cada caso exclusivo é um caso a ser analisado pelo Plenário da Casa e no interesse público do país.

Eu acho que essa celeuma conseguiu fazer com que a Câmara avançasse num dispositivo que é fundamental para o Senado — disse Jucá.

Da Agência Senado