Leia também Previdência: terra em transe As falácias do deputado, na página de opinião do JC Em artigo publicado neste JC, dia 30, (Nem sempre é o mordomo), o deputado Tadeu Alencar, parlamentar sério e competente, criticou duramente a proposta de reforma previdência.
Mas, lamentavelmente, se limitou a repetir as velhas falácias que vêm inundando as redes sociais.
O deputado e tributarista não pode desconhecer a necessidade de uma profunda e urgente reforma da Previdência para evitar que o Brasil afunde mais ainda na grave crise fiscal.
Nem que esta crise decorre, em grande medida, dos gastos da previdência social, que devem se acelerar no futuro com o rápido envelhecimento da população (em 2015, já comprometia 25% do orçamento e mais de 40% das despesas primárias da União, para não falar na falência de alguns Estados da federação).
Estranho que o honrado deputado insista na versão de que a proposta de reforma vai prejudicar todo mundo, misturando servidores públicos e “populações carentes”.
O economista Marcelo Neri, especialista em políticas de combate à pobreza e ex-ministro do governo Dilma Rousseff, afirmou em entrevista recente que “a reforma da previdência não vai punir os mais pobres” e, ao contrário, sem a reforma não vai ter dinheiro para a manutenção dos benefícios sociais.
Quanto mais se atrasa a reforma e se concede privilégios a algumas categorias, tanto mais se restringe a capacidade financeira futura dos governos para investirem no desenvolvimento e nas políticas sociais.
O deputado parece justificar sua posição contra a reforma lembrando a dívida das empresas com o INSS, estimada em cerca de R$ 400 bilhões, como se o pagamento desta dívida acabasse com a falência do sistema.
Acumulada ao longo de décadas, a dívida vem sendo cobrada sistematicamente pelo INSS, sem muito sucesso, por conta das manobras e dos descaminhos jurídicos.
Mas, apesar de enorme, a dívida representa muito pouco diante das enormes e crescentes despesas previdenciárias.
Com efeito, se todos os devedores pagassem agora tudo que devem, esses R$ 400 bilhões não seriam suficientes sequer para cobrir os benefícios do INSS de um único ano (cerca de 560 bilhões estimados para 2017).
O deputado sabe que as regras atuais da Previdência são insustentáveis diante da amplitude e velocidade da mudança demográfica.
Por isso, confundir a opinião pública com estas falácias e, principalmente, votar contra a Reforma da Previdência, como decidiu seu partido, representa um grave desserviço ao Brasil.
Sérgio C.
Buarque é economista e consultor