Estadão Conteúdo - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso salientou em palestra nesta terça-feira (18) em Lisboa, que, quando as pessoas deixam de acreditar nos partidos, essa relação deixa de dar legitimidade ao representante. “Este é o problema que nós temos.
A crise que estamos vivendo não é propriamente uma crise, é uma mutação da civilização e que tem consequências políticas”, disse, durante a principal conferência durante o V Seminário Luso-Brasileiro de Direito, na capital portuguesa.
O evento, promovido pela Escola de Direito de Brasília do Instituto Brasiliense de Direito Público (EDB/IDP) e pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), ocorre também nesta quarta e quinta-feiras (19 e 20) e conta com uma série de participantes brasileiros. “Vamos cruzar os braços por causa disso ou vamos jogar fora aquilo que foi feito desde o século XIX?
Não, vamos ter que adaptar, vamos ter que adaptar as nossas instituições ao modo de viver contemporâneo”, afirmou o tucano.
LEIA TAMBÉM » Emílio Odebrecht fala em repasses para campanhas de FHC » Temer nega acordão com ex-presidentes para amenizar os efeitos da Lava Jato » FHC defende ‘serenar ânimos’ e pede ‘mais tolerância’ na política FHC questionou, então, como é que se pode fazer democracia sem partidos.
Disse que não daria muitos detalhes, mas que recomendou à sua própria legenda que organizasse diretórios virtuais. “Ninguém vai sair de casa para decidir o pequeno poder político dentro do partido.
Ninguém quer saber quem é o deputado, o presidente do diretório…
Isso não está interessando à população”, concluiu, acrescentando que, como presidente de honra, não tem poder nenhum dentro da agremiação tucana “graças a Deus”.
O ex-presidente ressaltou que, atualmente, as pessoas se conectam de outra maneira, então é preciso abrir uma brecha. “Um fato aberrante: no meu país, depois da democracia, presidente eleito mesmo pelo voto foram quatro - dois dos quais sofreram impeachment.
Alguma coisa está errada”, relatou a uma plateia de portugueses e brasileiros.
Fernando Henrique explicou que um deles (Fernando Collor de Melo) era conhecido como de direita e a outra (Dilma Rousseff), de esquerda. “Esses termos são confusos hoje e não correspondem ao que significavam no século passado.
Os deputados não correspondem nem a uma coisa e nem a outra.
São os mesmos interesses corporativos e outros que estão circulando no Congresso o tempo todo”, avaliou. » ‘É mais confusão’, diz FHC sobre eventual cassação de Temer » FHC diz a Moro que também buscou recurso privado para manter acervo FHC contou que, quando era presidente, ficou “chocado” algumas vezes. “Quando você vai discutir com os partidos, cadê os partidos?
Não, aqui é a frente governista, que vai eventualmente para direita ou esquerda.
Outra é da frente da saúde pública, a outra é da frente de não sei o quê.
Você não está discutindo com o partido, você está discutindo com causas ou interesses organizados a partir daquela fragmentação”, relatou.
O ex-presidente disse ainda que a estrutura que existe encaixando todos esses interesses está mantida.
Para ele, o momento é complicado no País, mas é um bom momento para quem está fazendo política porque dá para pensar como é que vai se organizar tudo isso mais à frente. “Essa coisa de ter sido sociólogo é complicado.
Você sabe das coisas, ou pensa que sabe.
E, no pensa que sabe, erra”, disse. “É difícil projetar um processo decisório daqui para a frente”, completou. » FHC diz que ‘se Temer cair, deve haver eleições diretas’ “Acordão” Fernando Henrique Cardoso também negou que tenha se articulado com o presidente Michel Temer (PMDB) e com o ex-presidente Lula (PT) para que se livrassem das investigações da Lava Jato. “Saiu no Brasil que eu, o Lula e o Temer estamos fazendo uma operação para parar com a Lava Jato.
Qual é o fato?
Eu não me encontrei com eles, só me encontrei socialmente”, disse.
Ele também criticou a repercussão na mídia sobre o assunto. “Alguém disse, isso circulou, e eu tenho de responder [à imprensa].
Não adianta eu saber que não é verdade, eu tenho de responder”, completou.
O ex-presidente lembrou ainda que no seu período na Presidência da república não havia redes sociais. “Não havia, desculpem a expressão, essa fofocagem permanente”, finalizou.
Com informações da F. de São Paulo