A construção do Complexo Prisional de Itaquitinga foi uma das obras citadas nas delações de executivos da Odebrecht, que vieram a público na semana passada.

Um ano antes de o assunto chegar à Operação Lava Jato, porém, o Ministério Público Federal em Pernambuco (MPF-PE) já investigava o empreendimento, em inquérito aberto pela procuradora Silvia Regina Pontes Lopes para apurar uma “omissão” do Banco do Nordeste em cobrar créditos.

A investigação é sigilosa.

O órgão no Estado instaurou o inquérito depois de procuradores do Ceará, onde fica a sede do banco, constatarem as suspeitas sobre empréstimos concedidos para empreendimentos empresariais em Pernambuco.

O principal calote foi de R$ 250 milhões concedidos ao consórcio da Parceria Público-Privada (PPP) de Itaquitinga.

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Firma laranja foi acionada Documento de abertura do inquérito foi assinado pela procuradora em 19 de janeiro de 2016 As obras do complexo prisional se arrastaram entre 2010 e 2012, ano em que estariam concluídas e as unidades entrariam em funcionamento.

Porém, estão paradas desde então.

Abrindo 3.126 vagas no Estado que tem déficit de 20 mil lugares - há 11 mil para 31 mil presos - e a unidade com piores condições da América Latina, o projeto chegou a ser considerado uma das 100 obras sociais em andamento mais importantes do mundo.

Por inadimplências e descumprimento do acordo pelo consórcio responsável, a caducidade do contrato foi decretada no ano passado e ratificada pela Justiça este mês, dois dias antes da divulgação dos vídeos de depoimentos de delatores da Lava Jato, que falam sobre a obra. » Antes de morrer, Eduardo Campos disse a Marcelo Odebrecht que desvios de recursos do BNB em Itaquitinga eram ‘questão do PT’ » Governo Paulo Câmara obtém vitória contra empresas responsáveis pela construção do presídio de Itaquitinga » No Resenha Política, conselheira do TCE aponta irregularidades em OSS e no Complexo de Itaquitinga A PPP foi feita pelo ex-governador Eduardo Campos (PSB).

O socialista foi acusado por Marcelo Odebrecht, herdeiro da empreiteira, de pedir ajuda para tocar o projeto.

O empresário afirmou aos procuradores que perdeu cerca de R$ 50 milhões nas obras que não tinha interesse no setor e que apenas entrou na obra, por meio de uma empresa laranja, para atender um pedido do amigo socialista, então gestor do Estado.

As primeiras empresas eram a Advance e a Socializa.

Porém, em 2013, ainda no governo Eduardo Campos, a DAG, indicada por Odebrecht, os 95% do controle acionário das empresas.

A DAG é a mesma empresa usada na compra de um terreno para o Instituto Lula em São Paulo. » PSB diz que vai atuar para que honra de Eduardo Campos não seja maculada » “Tratativas eram diretamente com Eduardo Campos”, diz delator da Odebrecht » Delator da Odebrecht diz que foi procurado por Eduardo Campos sobre Arena Pernambuco “A estimativa que nos deram era R$ 10 milhões ou R$ 20 milhões, no máximo, para resolver os problemas.

Quando a DAG entrou, o que a gente pensava que era apenas um problema de execução da obra que não estava performando, era bem pior.

Tinham coisas escabrosas.

A concessão (a Advance) tinha pego um empréstimo do Banco do Nordeste e, um mês depois, tinha distribuído esse empréstimo como dividendos”, disse Marcelo Odebrecht na delação premiada.

No vídeo, os procuradores comentam com ele que o prejuízo deixado pelo primeiro consórcio no banco chegou a R$ 90 milhões.

O empresário afirmou ainda que as perdas financeiras da Odebrecht fizeram com que ele evitasse contribuir com a campanha de Eduardo Campos em 2014, quando ele disputou a presidência.

No depoimento, ele aponta que, se houvesse a venda da concessão do presídio, ele poderia apoiar com mais recursos as campanha nacional e do atual governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB).