Por Júlio Lóssio, ex-prefeito de Petrolina pelo PMDB Nos últimos dias, as delações premiadas, que a cada dia trazem novos fatos e novos personagens envolvidos, evidenciam que o modelo político eleitoral brasileiro faliu.

Pior que isso, o modelo eleitoral e, mais especificamente, o modelo de financiamento eleitoral foi a grande porta da corrupção em nosso país.

Ao permitir que mesmo de forma dita “legal” as empresas privadas fizessem doações eleitorais, a justiça eleitoral, de certa forma, apadrinhou a relação entre corruptores e corruptos.

Não é a toa que todos repetem o mantra: “As contas da campanha foram aprovadas pela justiça eleitoral”. » Confira as últimas notícias sobre a delação do fim do mundo Como diz o velho ditado: “Não há café de graça”.

Ao fazerem vultuosas doações a candidatos, as empresas esperam contrapartidas, sejam em forma de contratos ou na aprovação de leis que as beneficiem.

Para minimizar o risco, muitas empresas, como foi o caso emblemático da Odebrecht, faziam doação a todos os potenciais vencedores e, assim, seu lucro seria garantido.

Está mais que claro que o financiamento empresarial de campanha política é igual à promiscuidade nas relações entre o público e o privado.

Se as doações fossem por afinidade ideológica, certamente seriam dirigidas apenas a um dos lados e, possivelmente, não atingiram valores astronômicos como os que temos visto.

Observamos, ainda, que ao abrir a porteira da doação privada, ocorreu um verdadeiro escancaramento da promiscuidade, com muitos candidatos usando o farto dinheiro recebido em doação para produzir o desequilíbrio eleitoral com compra de mandatos e enriquecimento ilícito.

Evidentemente, não se pode satanizar as empresas privadas, uma vez que são elas que geram empregos e tocam obras importantes para o país.

Contudo, para o bem delas próprias e da nação, é preciso afastar o máximo possível o capital privado do processo eleitoral.

A última reforma eleitoral já trouxe avanços, proibindo a doação eleitoral de empresas aos candidatos, mas, na prática, ainda precisamos avançar muito mais.

A doação eleitoral dita legal por empresas foi proibida, mas, e o chamado “caixa dois”, presente em maior ou menor quantidade na grande maioria das campanhas, como controlar?

Só vejo uma forma: barateando os custos e controlando as despesas de campanha com regras claras e bem definidas para o uso de TV, rádio, mídias sociais, estrutura de rua, impressos e militância.

Se as empresas tivessem a certeza de que o jogo eleitoral seria limpo, que seu concorrente não está atrelado a um dado candidato para em troca receber benefícios, certamente, nem elas estariam dispostas a financiar o processo eleitoral.

Se as doações de campanhas fossem de fato voluntariosas, feitas para viabilizar projetos políticos verdadeiros e republicanos, seguramente, muitas dessas empresas, para demonstrar o seu enorme desejo de ajudar e seu amor ao país, usariam parte de seus recursos em ações sociais como a construção de escolas, hospitais, centros esportivos, entre outras.

Mas não é isso que ocorre.

Invariavelmente, e com raríssimas exceções, o financiamento de campanha privado é, na verdade, um empréstimo de risco com elevadas taxas de juros e grande potencial econômico de retorno.