“As tratativas eram diretamente com Eduardo Campos e ele designava sempre o senhor Aldo Guedes para dar continuidade”.

Esse foi um dos relatos do ex-diretor da Odebrecht no Nordeste João Pacífico, nos depoimentos da sua delação premiada.

O vídeo em que ele revela o suposto esquema de doação eleitoral da empreiteira para o PSB, partido que era presidido pelo ex-governador de Pernambuco, foi divulgado nesta quarta-feira (12).

O material baseou uma petição assinada pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), em que ele encaminha o conteúdo para a Procuradoria da República em Pernambuco.

LEIA TAMBÉM » Delator da Odebrecht diz que foi procurado por Eduardo Campos sobre Arena Pernambuco » Eduardo Campos recebeu R$ 5 milhões em propina da Odebrecht, dizem delatores No material, Pacífico denuncia que foi acertado com o socialista o pagamento de 3% do contrato para o sistema adutor de Pirapama em contribuição de campanha.

O valor equivale a R$ 5 milhões só da Odebrecht.

A OAS e a Queiroz Galvão - empresas que formavam um consórcio com a empreiteira - também teriam cotas de participação. “Essas contribuições eram feitas parte, na maioria dos casos, por caixa dois, e em outros casos, em escala menor, por contribuições oficiais.” Segundo o ex-diretor, o repasse foi acertado ainda no primeiro ano de governo de Eduardo Campos, 2007.

Uma das promessas de campanha dele foi regularizar o abastecimento de água na Região Metropolitana do Recife, que na época passava por diversos racionamentos.

O executivo informou que, ao longo da licitação, o então governador procurava saber como estava o processo. “Ele queria começar essa obra o quanto antes, para que no verão de dois anos depois não tivesse mais racionamento, que foi o que de fato ocorreu”, afirmou.

Pacíficou contou que as mesmas construtoras - Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão, sendo a última a líder do grupo - formavam o consórcio contratado em 1991 já para a obra.

Porém, por falta de recursos financeiros do governo, o empreendimento foi paralisado.

Quando Eduardo Campos assumiu, o ex-diretor o procurou e afirmou que ele poderia validar novamente a licitação anterior, segundo relatou no depoimento.

O socialista decidiu, porém, fazer um novo processo.

Apesar disso, segundo Pacífico, o ex-governador designou o então presidente da Compesa, a Companhia Pernambucana de Saneamento, para analisar uma forma para que o consórcio tivesse preferência.

Segundo o ex-diretor, não cabia ao ex-governador intervir, mas ele teria ajudado a empresa a fazer contatos. “Nós, então, tivemos que fazer um entendimento de mercado com o conhecimento dele”, disse. “Ele, na realidade, deu autorização para que nós fornecêssemos à Compesa os elementos que constassem no edital, para tornar o edital mais atrativo.

Ele ajudou a direcionar.” Inicialmente, segundo o ex-diretor, tiveram interesse na licitação as empresas AG, PB Construções, Delta Construções, Via Engenharia, QG, CCCC, CR Almeida, Goetze Lobato Engenharia, EIT e Passareli, além do consórcio que a Odebrecht integrava.

Porém, com o ajuste final, ficaram apenas a proposta da Passareli e a do grupo formado por Queiroz Galvão, OAS e Odebrecht.

Ele relatou ainda que a CR Almeida retirou a proposta por não aceitar ser subcontratada por eles.

Campanhas eleitorais do PSB Pacífico afirmou que as contribuições para as campanhas de 2010 e 2012 do PSB estão descritas no sistema do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht com o codinome “Médico”.

O somatório, segundo ele, somam aproximadamente R$ 11 milhões.

O ex-diretor afirmou que, além de Pirapama, houve repasses por contratos na Refinaria Abreu e Lima, no Píer Petroleiro de Suape e no cais 5 do porto. “Quando chegava próximo às eleições, havia a solicitação”, afirmou. “Suape foi uma obra que ele (Eduardo Campos) me chamou e disse que eu tinha delegação para tratar com Aldo Guedes.” Aldo Guedes já é investigado pelo Supremo no mesmo inquérito que o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e o dono do avião usado por Eduardo Campos.

O parlamentar é acusado de receber, quando era secretário de Desenvolvimento Econômico, pelo menos R$ 41,5 milhões das empreiteiras Queiroz Galvão, OAS e Camargo Corrêa.

Todas foram contratadas pela Petrobras para as obras da Refinaria Abreu e Lima.

Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o pagamento da suposta propina foi intermediado pelo então diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, delator na Operação Lava Jato.