O líder da oposição no Senado, Humberto Costa (PT-PE), teria recebido R$ 1 milhão de propina da Odebrecht pela Petroquímica Suape, em Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife. É o que afirma o ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial Márcio Faria da Silva em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) na sua delação premiada.
O vídeo foi divulgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira (12).
O suposto pagamento de vantagens indevidas ao petista já havia sido denunciado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e um dos primeiros delatores da Operação Lava Jato.
No ano passado, porém, a Polícia Federal pediu o arquivamento do inquérito por falta de provas.
LEIA TAMBÉM » Odebrecht pagou R$ 95 milhões em propina por Petroquímica Suape, dizem delatores » Delações envolvem Humberto, Temer, Dilma e Cunha Segundo Márcio Faria da Silva, porém, o pagamento foi feito através do empresário Mário Barbosa Beltrão.
Teriam sido feitos dois repasses, o primeiro de R$ 687,2 mil, em junho de 2011, e o segundo de R$ 659,8 mil, em abril de 2012. “Nós pagamos valores superiores a R$ 500 mil para preservar R$ 1 líquido”, explicou.
Beltrão foi um dos alvos da Operação Satélites, no fim do mês passado, a primeira deflagrada pela PF após a homologação das delações de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht.
Faria relatou que o pagamento foi feito através de um contrato fictício com uma consultoria de obras de engenharia do empresário.
Outro alvo da Operação Satélites no Recife, o ex-executivo da Petrobras Djalma Rodrigues de Souza, também teria recebido propina por causa do contrato.
Ele era diretor da Petroquisa, subsidiária da estatal responsável pela Petroquímica Suape.
Faria afirmou que Rodrigues - identificado como “Jabuti” pelo Setor de Operações Estruturadas, responsável pelas propinas da empreiteira - recebeu R$ 20 milhões, parte em espécie e outra em conta o exterior, como costumava acontecer no pagamento de propinas. » Alvo da Operação Satélites foi cotado para diretoria “que fura poço” da Petrobras O ex-executivo é ligado também ao ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti, também pernambucano, e chegou a ser indicado em 2005 para a diretoria de Exploração e Produção, aquela que Cavalcanti chamou de “diretoria que fura poço e acha petróleo”.
Foi o ex-parlamentar que o indicou diretamente ao ex-presidente Lula (PT).
O setor concentrava o maior orçamento da Petrobras.
Porém, o nome dele foi descartado para que Guilherme Estrella, que tinha relação com o PT, fosse mantido no cargo.
O pagamento para Djalma Rodrigues foi motivado, segundo Faria, porque dependia dele a aprovação do contrato com a Odebrecht para a Petroquímica Suape.
O mesmo valor teria sido pago a outro integrante do conselho da Petroquisa, Paulo Aquino, identificado nas planilhas como “Lagoa”.
Mais dois engenheiros também teriam recebido vantagens indevidas.
Os delatores estimam que foram pagos R$ 95 milhões de propina entre 2008 e 2014 pelo empreendimento e pela Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe).
Os contratos da Odebrecht na Petroquímica foram de R$ 1,085 bilhão para a construção da planta industrial em Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife, e R$ 1,7 bilhão para a Companhia.
Ao todo, o investimento da Petrobras nos empreendimentos foi de R$ 9 bilhões.
Faria contou que, ao saber do contrato, Paulo Roberto Costa o procurou em São Paulo para pedir 1% do valor total da obra, o que era estimado em cerca de R$ 38 milhões - valor que não deveria ser dividido com o doleiro Alberto Youssef ou com a cúpula do PP, como costumava acontecer. “Disse: a empresa vai pagar R$ 30 milhões.
Ele resmungou e aceitou.
Peguei um papel de lembrete, escrevi o número 30, entreguei para ele.
Ele colocou no bolso”, lembrou o ex-executivo da Odebrecht.
Dos R$ 30 milhões entregues a Paulo Roberto Costa teriam sido retirados R$ 1 milhão de Humberto Costa e mais R$ 500 mil para Francisco Dornelles, vice-governador do Rio de Janeiro pelo PP.
Petroquímica Suape Em dezembro, o Conselho de Administração da Petrobras aprovou a venda da Petroquímica e da Citepe por US$ 385 milhões, para duas subsidiárias da empresa mexicana Alpek.
Um mês depois, 2ª Vara da Justiça Federal de Sergipe suspendeu a venda em caráter liminar, após ação popular.
Em fevereiro, porém, uma decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região aprovou continuidade da negociação, que faz parte do programa de desinvestimentos da estatal.