O ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, disse ao MPF, em vídeo de delação premiada gravada na Operação Lava Jato, que perdeu cerca de R$ 50 milhões nas obras de Itaquitinga, em Aliança, somente para ajudar o ex-governador Eduardo Campos, do PSB.
O empresário afirmou que não tinha interesse no setor e que apenas entrou na obra, por meio de uma empresa laranja, para atender um pedido do amigo pessoal, então governador e candidato a presidente da República em 2014.
Marcelo Odebrecht diz que Eduardo Campos pediu ajuda para tocar Itaquitinga.
Firma laranja foi acionada Na delação, Marcelo Odebrecht afirma ter sido procurado por Eduardo para resolver o problema de Itaquitinga. “Estimativa que nos deram era R$ 10 milhões ou R$ 20 milhões, no máximo, para resolver os problemas.
Quando a ADAG entrou, o que a gente pensava que era apenas um problema de execução da obra que não estava performando, era bem pior.
Tinham coisas escabrosas.
A concessão tinha pego um empréstimo do Banco do Nordeste e, um mês depois, tinha distribuído esse empréstimo como dividendos”, contou Marcelo Odebrecht. “Quando a gente viu, a gente já tinha gastado R$ 50 milhões.
Tudo a gente dava para a ADAG e ela colocava na concessão.
E a gente viu que o buraco era maior.
Quanto mais botasse, mais o buraco era maior.
Chegou um momento em que eu disse: Eduardo, não tem jeito.” Marcelo Odebrceht diz que a perde de dinheiro, em altos volumes, no Complexo Prisional, fez com que ele evitasse colaborar com mais recursos para a campanha presidencial do ex-governador Eduardo Campos, falecido em 2014.
No relato, ele afirma que, se houvesse a venda da concessão do presídio, ele poderia apoiar com mais recursos a campanha de Eduardo e do atual governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB).
Apesar de dizer que a área de presídios não era de interesse econômico para o grupo Odebrecht, o executivo colocou lá a DAG, construtora de um amigo, que ele financiaria de forma indireta, em atenção a relação de amizade com Eduardo.
Na campanha presidencial, Marcelo Odebrecht afirma que contribuiu apenas com um valor emergencial para pagar algo que Eduardo precisava.
Ele estima entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão o valor.
Diz não saber se o valor foi aportado através de “caixa dois” ou de forma oficial.
Ajuda para campanha e desvios no BNB No dia 16 de julho, o já candidato a presidente Eduardo Campos foi jantar com Marcelo Odebrecht.
A lista de convidados repassada ao condomínio para permitir a entrada dos veículos contava ainda com os nomes do empresário Aldo Guedes, ex-presidente da Copergás e sócio de Eduardo Campos em uma fazenda no interior de Pernambuco, além da ex-preimeira-dama Renata Campos.
Foi nesse dia que Marcelo afirmou que brecaria o dinheiro para a campanha. “O que a gente botou na CIR é minha contribuição para você.
Ou seja, enquanto você não resolver esse assunto, é como se eu já tivesse doado para você R$ 50 milhões.
Agora, se você conseguir resolver esse imbróglio e eu rever esse dinheiro, eu posso voltar a contribuir”, disse à força-tarefa.
Menos de um mês depois, o jatinho usado na campanha de Eduardo caiu, vitimando o pernambucano.
No vídeo, o empresário também fala da operação de crédito do BNB para as duas primeiras empresas que assumiram a obra e que, de acordo com os investigadores do MPF comentam com ele, deixou um prejuízo de mais de R$ 90 milhões no Banco do Nordeste.
Marcelo Odebrecht diz que, no início, o ex-governador não sabia a dimensão do problema em Itaquitinga.
Marcelo diz que quando Eduardo Campos foi alertado sobre o empréstimo ao Banco do Nordeste, se mostrou surpreso. “Eduardo foi uma pessoa que a gente apoiou muito mas, em determinado momento, quase tudo nosso foi canalizado para esse processo”, assinala. “Quando a gente entrou na obra viu que era pior.
Tinham coisas escabrosas.
Eles (Advance) pegaram empréstimo com o BNB e, um mês depois, distribuiram esse empréstimo como dividendos”, afirmou.
Na fala, ele poupa Eduardo Campos mas lança suspeitas na equipe do ex-governador, ao afirmar que haveria alguém com rabo-preso com o empresário Eduardo Fialho, dono da Advance. “O grande problema foi o rombo de R$ 70 milhões, um tal de fialho, tinha relações com o governo.
Tinham que ter jogado mais duro com ele, parece que tinha gente com o rabo preso, as coisas não aconteciam, Eduardo tinha uma equipe competente, mas não andava este assunto.
Teve desvio (sim, em resposta ao inquiridores) alguém lá dentro tinha problema com o Fialho.
Normalmente Eduardo resolvia”, disse, revelando ainda que falou do problema com Eduardo pouco antes de ele falecer.
O empresário não foi claro de que forma repassada os recursos para a DAG investir na PPP de Itaquitinga, se por meio de caixa dois ou o que.
O dono da DAG também está fazendo colaboração.
Amigo pessoal Marcelo Odebrecht fala logo no começo do vídeo sobre a amizade que tinha com Eduardo Campos, com quem conversava sobre política, quando o assunto Itaquitinga também poderia aparecer. “Eduardo Campos talvez seja um dos exemplos mais bem acabados daquele critério que eu comentei de a gente ser uma empresa importante, cumpridora de performance, trazer projetos de interesse para o Estado.
Tem uma relação de confiança, relação pessoal forte.
Eu mesmo, com Eduardo, fui construindo uma relação forte pessoal.
E ser uma grande contribuição através de dinheiro para necessidades, para projetos, tudinho”, disse.
No material que enviou aos investigadores, Marcelo Odebrecht entregou extratos de ligações telefônicas com o ex-governador de Pernambuco. “Ele via a gente como uma empresa que resolvia os problemas dele.
Alguém de confiança para tratar um assunto dessa dimensão.
E, ao mesmo tempo, alguém que estava disposto a colocar R$ 50 milhões”, disse.
Governo Paulo Câmara obtém vitória contra empresas responsáveis pela construção do presídio de Itaquitinga Caso Itaquitinga.
Veja sentenc¸a arbitral de merito