O ex-diretor da Odebrecht no Nordeste João Pacífico, delator da Operação Lava Jato, revelou em um dos seus depoimentos, registrado em vídeo divulgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira (12), que a Odebrecht foi chamada para construir a Arena Pernambuco pelo ex-governador Eduardo Campos (PSB).

O delator afirmou que tinha uma relação antiga com o socialista e que, enquanto ele esteve no poder - desde 2007 até 2014 -, teve reuniões no Palácio do Campo das Princesas e na casa do gestor.

Pacífico afirmou que foi chamado pelo ex-governador porque as duas propostas apresentadas pelo Estado à Fifa para que fosse sede da Copa do Mundo não tinham viabilidade. “Eduardo Campos estava numa situação de muita aflição”, disse. “De princípio, eu disse que não tinha interesse e ele pediu que eu levasse esse assunto aos meus superiores, meus líderes, que era um pedido pessoal para que o estado de Pernambuco não ficasse fora da Copa.” O delator lembrou que os projetos iniciais - o de reformar um estádio, mas que ficaria longe do metrô, e o outro central, necessitando desapropriar muitas famílias - foram descartados.

Decidiu-se, então, construir uma cidade, onde seriam construídas mais de 4 mil unidades habitacionais e para onde seria transferido um campus da Universidade de Pernambuco (UPE).

O terreno, em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife, seria uma contrapartida do Estado.

Segundo Pacífico, a Odebrecht havia definido que não tinha interesse apenas na construção do estádio, e sim na administração dele.

Seria necessário fazer uma Parceria Público-Privada. » Veja o vídeo do depoimento de João Pacífico: O ex-executivo lembrou que o edital de licitação, porém, teve três pontos questionados pelo Ministério Público, dificultando a participação de outras empresas.

Eduardo Campos teria solicitado ajuda para uma segunda proposta.

Pacífico relatou que pediu a Rodrigo Lopes, então diretor da Andrade Gutierrez, por ter lembrado que já havia sido procurado por ele para fazer um ajuste de mercado.

A suposta formação de cartel já foi denunciada pela construtora em acordo de leniência fechado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o que levou o órgão a investigar a Arena Pernambuco.

Segundo o Cade, há indícios de que pelo menos cinco licitações de estádios da Copa foram objeto do cartel.

Além da arena local, foi citado o Maracanã, no Rio de Janeiro. “Foi feita uma sinergia”, contou Pacífico na delação.

Foto: Ana Araújo-Faquini/ Portal da Copa O ex-diretor da Odebrecht foi questionado ainda como aconteciam as reuniões com Eduardo Campos e respondeu que, quando o socialista queria falar com ele, o chamava ligando para o escritório ou para o seu celular.

O único registro de alguns encontros era quando eles aconteciam no Palácio, através da placa do carro usado por Pacífico. “Na agenda às vezes nem constava o meu nome”, disse.

A relação entre os dois vinha desde a década de 1980, segundo o executivo - inicialmente, sem interesses comerciais. “Eu sou pernambucano e interessante é que eu não era eleitor de Miguel Arraes (avô de Eduardo Campos), mas com Eduardo eu tinha amigos em comum”, disse.

Na época, ele não era responsável por Pernambuco, e sim pelas regiões Norte e Centro-Oeste.