A Odebrecht pode ter pago R$ 1.075.000 de forma irregular no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife.

Delatores da empreiteira afirmaram ao Ministério Público Federal (MPF) que os valores foram repassados ao deputado federal Betinho Gomes (PSDB), que tem base eleitoral na cidade, ao ex-prefeito Vado da Farmácia (PTB) e a José Feliciano Barros, ex-procurador-geral do município.

As informações estão no despacho assinado pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), em que autorizou a abertura de inquérito.

José Feliciano, o último nome da relação, é o vereador Cianinho, do Cabo de Santo Agostinho.

O pai dele foi prefeito do Cabo.

Cianinho está no quarto mandato.

LEIA TAMBÉM » Fachin manda investigar nove ministros e 71 parlamentares; saiba quem são os pernambucanos » Delações envolvem Humberto, Temer, Dilma e Cunha » Em nota, Odebrecht diz que quer um Brasil melhor e confiança dos brasileiros de volta O primeiro pagamento teria sido para a campanha de 2012, quando Betinho e Vado disputaram a prefeitura.

Vado, então no PSB, venceu o pleito com 54,32% (63.336 votos).

Ele é acusado de ter recebido R$ 150 mil.

O tucano - que ficou em segundo, com 44,68%, o equivalente a 52.098 - teria recebido R$ 75 mil. » Delatores acusam ministro das Cidades de favorecer Odebrecht no Congresso » Janot diz que Odebrecht teria dado R$ 2 milhões a Jarbas Vasconcelos para campanha ao governo em 2010 » Já denunciado antes, Fernando Bezerra é acusado de receber da Odebrecht em 2010 Os delatores afirmaram ao Ministério Público que os repasses foram feitos a pedido dos próprios candidatos, para que a Odebrecht fosse favorecida na Reserva do Paiva.

O empreendimento é um bairro planejado com unidades residenciais e empresariais no Litoral Sul pernambucano.

As informações foram dos delatores Djean Vasconcelos Cruz e Paul Elie Altit. » Relator da reforma política diz que tem a consciência tranquila » Ex-prefeito do Cabo diz desconhecer doações irregulares » Humberto Costa diz que abre mão de sigilos e aguarda documentos Na colaboração, eles afirmaram ainda que novos repasses foram feitos em 2014, quando Vado da Farmácia já era prefeito e Betinho, deputado estadual prestes a disputar a vaga que ocupa hoje na Câmara.

Nesse período, segundo os delatores, foram pagos R$ 750 mil ao ex-prefeito do Cabo e ao então procurador-geral do município, José Feliciano Barros, que também poderá ser investigado pela Procuradoria-Geral da República no caso.

O tucano teria ficado com R$ 100 mil.

A intenção da Odebrecht era o obter desoneração fiscal no Cabo, segundo os documentos.

As quantias estariam nas planilhas do Setor de Operações Estruturadas, a área de propinas da empreiteira, com o apelido “Bolsas”.

Defesa Em nota, Vado negou que tenha recebido qualquer recurso de forma ilícita para sua campanha eleitoral em 2012.

Segundo ele, todas as doações foram feitas legalmente, de acordo com a legislação, e as contas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.

O ex-prefeito enfatizou que não tem nada a temer e se coloca à disposição da Justiça para fazer os esclarecimentos necessários.

De acordo com Vado, em 2012, o coordenador da sua campanha e o responsável pela arrecadação de recursos foi o atual prefeito do Cabo, Lula Cabral (PSB), também seu “padrinho” político naquela eleição. “Se houve, de fato, alguma doação ilícita eu desconheço.

Quem quiser tirar a dúvida basta perguntar a quem denunciou se alguém manteve contato comigo ou me entregou algum dinheiro.

Não tenho nada a temer, estou absolutamente tranqüilo quanto a isso”, rebateu o ex-prefeito.

Também em nota, Betinho, que é o relator da reforma política na Comissão de Constituição e Justiça na Câmara, afirmou que está com a “consciência tranquila, com a responsabilidade de quem sabe que não haverá nada que tenha feito que seja ilegal”.

O parlamentar informou também que vai pedir acesso às informações do inquérito para saber quais são as acusações. “O deputado é o maior interessado nesta apuração e quer ter acesso ao teor das denúncias para poder se defender”, disse no texto, em que “reafirma seu compromisso e apoio à Operação Lava Jato”.