Estadão Conteúdo - Os depoimentos de ex-executivos e ex-funcionários da Odebrecht ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que as delações premiadas do marqueteiro João Santana e da empresária Mônica Moura devem revelar detalhes do caixa 2 em campanhas do Brasil e no exterior realizadas de 2008 a 2014.

Na terça-feira (4) o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou as delações de João Santana, Mônica Moura e de André Luis Reis Santana, funcionário do casal.

Os três serão ouvidos pelo TSE no âmbito da ação que apura se a chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger em 2014.

LEIA TAMBÉM » Procuradoria recorre para condenar João Santana e Mônica Moura por corrupção » Ministro do STF homologa delação de João Santana e Mônica Moura » João Santana e Mônica Moura assinam acordo de delação com a PGR Em depoimentos prestados ao TSE no mês passado, Maria Lúcia Tavares, Luiz Eduardo Soares, Fernando Migliaccio, Hilberto Mascarenhas e o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht revelaram detalhes da relação da empreiteira com o casal, conhecido pelo codinome “Feira”.

Campanhas Em depoimento ao TSE em 6 de março, Mascarenhas disse que foram pagos entre US$ 50 milhões e US$ 60 milhões a Mônica Moura.

Segundo ele, foram feitos pagamentos ao casal por campanhas no Brasil de 2010, 2012 e 2014 e por serviços realizados no exterior. “Pessoas de países que nós trabalhávamos, como Angola, Panamá, El Salvador, queriam eles na campanha deles.

E eles diziam: ‘Só vou se a Odebrecht garantir o pagamento’.

Então sobrava para a gente pagar, não é?”, afirmou Mascarenhas.

De acordo com Migliaccio, havia uma sistemática para o pagamento realizado à Mônica Moura no Brasil - preferencialmente em reais e em espécie.

No dia 1.º de março, Marcelo Odebrecht disse ao TSE que, no caso de Santana, os pagamentos do setor de propina representavam a maior parte do que era destinado ao PT. “E aí é um processo que começou lá trás, estou falando de 2008, onde eles procuravam acertar com a gente um valor e a gente dar um conforto ao João Santana, que ele recebia.” Segundo o empreiteiro, como Santana tinha confiança que os pagamentos seriam efetuados, os repasses ocorriam ao longo do tempo.

Como exemplo, Marcelo citou que, em 2014, ainda eram efetuados pagamentos acertados em 2011. » Moro condena João Santana, mulher e mais quatro na Lava Jato » João Santana diz a Moro que mentiu à PF para ‘não destruir a Presidência’ Além de pagamentos relacionados às campanhas - 2008, 2010, 2012 e 2014 -, Marcelo Odebrecht disse que repassou valores ao marqueteiro por sua atuação em campanhas no exterior em países que o “PT tinha interesse em ajudar”.

Tanto Santana quanto Mônica deverão esclarecer no acordo de colaboração qual era o grau de conhecimento e participação de Dilma nos pagamentos irregulares da Odebrecht.

Para Marcelo, a única ilicitude em sua relação com a petista eram repasses ao publicitário. » João Santana diz que é preciso ‘rasgar véu de hipocrisia’ sobre doações eleitorais Renúncia Após a homologação do acordo, oito advogados renunciaram à defesa do casal na Lava Jato.

Em petição ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz a operação na primeira instância, os criminalistas Fabio Tofic Simantob, Débora Gonçalves Perez, Maria Jamile José, Bruna Nascimento Nunes, Luiz Felipe Gomes, Thais Guerra Leandro, Daniel Paulo Fontana Bragagnollo e João Paulo de Castro Bernardes alegaram “motivos de foro íntimo”.