Estadão Conteúdo - O Palácio do Planalto tentou minimizar o grampo da Operação Carne Fraca que capturou uma conversa do atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), com o fiscal agropecuário Daniel Gonçalves Filho, superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016, apontado como chefe da ação criminosa para venda de carne imprópria.
Nessa sexta-feira (17), o ministro confirmou que ligou para o superintendente - a quem chamou de “chefe” - preocupado com o fechamento de um frigorífico no Paraná, onde fica sua base eleitoral.
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A expressão que a imprensa está explorando é porque eu o chamei de chefe.
Ele era o chefe.
Era o Superintendente do Paraná da Agricultura.
Liguei para saber o que estava acontecendo”, disse o ministro durante agenda em Porto Alegre (RS).
Segundo Serraglio, Gonçalves Filho retornou a ligação e disse que a empresa iria permanecer aberta.
Apoio O ministro afirmou que não conhecia Gonçalves Filho até ele ser indicado para o cargo e superintendente, em 2007, pelo então deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR). “A bancada (do partido) precisa apoiar.
Eu era o primeiro secretário (da Câmara dos Deputados).
Eu tinha expressão.
O ministro era do Paraná, o Reinhold Stephanes.
O deputado Micheletto (Moacir Micheletto, morto em 2012) pediu para eu assinar (a indicação)”, disse.
De acordo com as investigações da PF, não há indícios de que Serraglio tenha ligação com as fraudes. “O diálogo não o compromete”, disse um interlocutor do presidente Michel Temer, acrescentando que ele já deu explicações ao governo e à opinião pública.
Serraglio, que estava no Rio Grande do Sul, e Temer, que passou o dia em São Paulo, conversaram ontem por telefone.
Outro interlocutor do presidente, no entanto, reconheceu que o envolvimento do nome do ministro Serraglio no episódio, naturalmente “arranha” a imagem dele.
O problema, na avaliação deste assessor, é a repercussão.
Para ele, se continuarem a sair notícias como estas “o ministro sim, se enfraquece”.
Outra preocupação é que, prosseguimento as repercussões do caso, ter um ministro da Justiça investigado é, no mínimo, desconfortável. “Grande chefe, tudo bom?” No diálogo, Osmar Serraglio se refere a Daniel Gonçalves como “o grande chefe”.
Segundo a decisão que deflagrou a Carne Fraca, “em conversa com o deputado Osmar Serraglio, Daniel é informado acerca de problemas que um Frigorífico de Iporã estaria tendo com a fiscalização do MAPA (o frigorífico Larissa situa-se na mesma cidade)”.
O frigorífico Larissa pertence ao empresário Paulo Rogério Sposito, candidato a deputado federal pelo estado de São Paulo em 2010 com o nome Paulinho Larissa. “Logo após encerrar a ligação, Daniel ligou para Maria do Rocio, contando-lhe que o fiscal de Iporã quer fechar o Frigorífico Larissa daquela localidade”, informa a decisão. “Ele pede a ela que averigue o que está acontecendo e lhe ponha a par. ela então obedece à ordem e em seguida o informa de que não tem nada de errado lá, está tudo normal, informação esta depois repassada a Osmar Serraglio.” A Carne Fraca afirma que “Daniel é muito próximo do dono do frigorífico Larissa, Paulo Rogério Sposito, encontrando-se com ele por diversas vezes, chegando até mesmo a utilizar o telefone celular deste para efetuar ligações”.
A PF encaminhou à Justiça, com sugestão para envio à Procuradoria-Geral da República, relatório que cita Serraglio.
Como deputado federal pelo PMDB do Paraná, o atual ministro da Justiça detém prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal.
O delegado Maurício Moscardi Grillo, que comanda Operação Carne Fraca, disse que a medida foi tomada para “preservar a investigação”. “Porque se entrou uma pessoa com prerrogativa de foro, na época o ministro era deputado federal, há necessidade de esclarecer”, declarou. “Como no caso sentimos que não havia um crime por parte do então deputado foi solicitado, então, encaminhamento daquele procedimento ao juízo informando que não havia um crime por parte do ministro.”