Estadão Conteúdo - O novo ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), disse que o governo “não vai acabar” após a divulgação da lista a ser enviada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal, com base nas delações de 78 executivos e ex-executivos da Odebrecht.

Sob a alegação de que delatores da Lava Jato querem entregar “carne nova” e muitas vezes “inventam”, Aloysio admitiu até mesmo que haja outras menções envolvendo o seu nome. “O governo não vai acabar com a lista de Janot”, disse o chanceler, em entrevista ao Estado. “Se o Brasil for parar por isso, não tem saída.

Precisamos continuar trabalhando, porque temos uma crise a ser enfrentada, temos problemas para serem resolvidos e que não podem esperar acabar a apuração de tudo.” LEIA TAMBÉM » Humberto Costa: Todo o meio político está preocupado com delações da Odebrecht » TSE intima outros delatores e amplia foco na Odebrecht Embora tenha assegurado não sentir “tensão pré-lista”, Aloysio admitiu “sofrimento” ao esperar a conclusão de um inquérito, no qual foi acusado pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, da OAS, de ter recebido R$ 200 mil em dinheiro de caixa 2 para sua campanha ao Senado, em 2010. “Mais do que constrangimento, isso para mim é razão de sofrimento.

Tudo o que tinha de ser investigado já foi e o empresário declarou que nunca pedi contribuição para ele.

Agora, evidentemente, pode haver outras menções”, declarou. » Caixa dois pago pela Odebrecht chegou a US$ 3,39 bi entre 2006 a 2014 » Temer pediu apoio financeiro da Odebrecht ao PMDB, reafirma ex-executivo A vacina aplicada pelo chanceler é para se antecipar a comentários de que a lista de Janot poderá conter o seu nome.

Questionado sobre a acusação do empresário Fernando Cavendish, da Delta, de que ele seria um dos destinatários de pagamentos irregulares a obras da Dersa, sob a responsabilidade do então diretor Paulo Vieira Souza, Aloysio franziu o cenho. “Não conheço Cavendish.

Nunca vi na minha vida”, respondeu. “Não me preocupo com isso porque nunca troquei voto ou decisão administrativa por favorecimento indevido.” Ex-líder do governo no Senado e aliado de José Serra (PSDB-SP), a quem substituiu no Itamaraty, Aloysio lembrou que o presidente Michel Temer impôs uma “lista de corte” para seus auxiliares.

Por essa ordem, quem for denunciado será afastado e quem virar réu terá de deixar a equipe. “Agora, o delator que não conseguir provar o que falou também vai quebrar a cara”, insistiu.

O chanceler disse que o Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht abriu investigação para apurar a situação de executivos que “puseram dinheiro no bolso”, sob a alegação de repassar doações a políticos. “Então temos um assunto que ainda vai render muito.” Anistia e crime Para Nunes, há uma “falsa polêmica” sobre rumores de que o Congresso ressuscitará a votação da anistia ao caixa 2. “Ainda que o Congresso decida que quem recebeu dinheiro de particular e não declarou na prestação de contas está isento de pena, isso não vai aliviar a pena de ninguém”, afirmou ele ao Estado. “O Ministério Público vai continuar denunciando por outros crimes, como falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e corrupção.” » Para relator no TSE, Odebrecht se apropriou do poder público » Ex-diretor da Odebrecht diz a Moro que “italiano” era Palocci O perdão ao caixa 2 voltou a ser discutido na Câmara e no Senado, nos bastidores, depois que o Supremo Tribunal Federal tornou réu o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Raupp declarou à Justiça Eleitoral uma doação de R$ 500 mil da empreiteira Queiroz Galvão, na campanha de 2010, mas o Supremo entendeu que se tratava de “propina disfarçada”. “Não pode haver anistia a caixa 2 porque caixa 2 não está tipificado como crime”, disse Aloysio, que é advogado e foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso. “Você compra uma polêmica a troco de nada.

Existe hoje a ideia de que qualquer contribuição financeira, desde que venha de uma empresa investigada, é propina.

Uma acusação dessa natureza vai se sustentar?

Eu não sei.”