Igor Leite Delegado de Polícia e Especialista em Políticas Públicas de Segurança Em artigo enviado ao Blog de Jamildo Não é que a segurança pública esteja confortável em Pernambuco.

Em realidade, na última década, jamais esteve bem em qualquer lugar do Brasil.

Basta o exemplo do Rio de Janeiro.

O que ocorre agora é que o PCC e outras facções criminosas estão fundando verdadeiros grupos de cangaceiros modernos para megaoperações criminosas, de roubos, em Pernambuco e no resto do Brasil. É ação lucrativa que abastece as facções em tempo reduzido, financiando as outras facetas, inclusive política, do crime organizado.

O que isso acarreta?

Essa modalidade criminosa vem com, no mínimo, tecnologia de ponta, armamento de grosso calibre, de monitoramento, de inteligência, de proteção individual e com elevada capacidade de recrutamento.

Onde há muito dinheiro é possível comprar pessoas, bens, sigilo e investir em ações mais ousadas e de maior risco.

Os executores custam barato e são descartáveis.

Os financiadores das ações é que auferem os lucros e possibilitam o investimento inicial.

Isso explica a multiplicação de grupos que atuam na mesma modalidade e a sucessão de integrantes das quadrilhas, ainda com prisões e desarticulação de grupos.

Só a título de exemplo, há dois anos uma apreensão de fuzil em Pernambuco era raridade.

Hoje já é diferente e podemos encontrar armamento de grosso calibre em qualquer abordagem policial.

Isso significa que o Estado é ineficiente?

Sim e não. É ineficiente nacionalmente, por não conseguir reprimir o ingresso desse tipo de armamento e equipamento pelas fronteiras, bem como o transporte interestadual de todo esse arsenal.

Nossas fronteiras nacionais e interestaduais são peneiras que tudo permitem, fragilizando qualquer atuação regional.

Já localmente, em Pernambuco, não vejo ineficiência.

Percebo apenas que estamos passando por uma fase de transição e que é preciso o enfrentamento - que entendo estar sendo feito.

De forma suficiente?

Ainda não.

Nenhuma transformação é instantânea. É preciso enfrentar todos os problemas institucionais, que nesses casos quase sempre giram em torno de investimento em polícia, que significa aperfeiçoamento, tecnologia, estrutura, pessoal e motivação.

Segurança Pública não custa barato!

Custa muitíssimo aos cofres públicos, principalmente em tempos de crise.

Mas o que se tem percebido é que a insegurança é urgente, sendo preço caro demais e que a sociedade não quer e nem deve pagar.

De outro lado, olhando por outro prisma, a Justiça vive momento crítico, com uma política já explícita de não encarceramento (baseada na falência do sistema prisional) e com base em uma Constituição Federal garantista - que foi construída tentando resgatar a sociedade de uma época de ditadura agora inexistente -, que hoje burocratiza e fragiliza o enfrentamento ao crime.

A Justiça possui ainda alicerces frágeis, em uma legislação penal já putrefata diante da realidade que vivemos e que não parece ser de preocupação de legisladores, que por sua vez, em grande parte, também infringem as lei penais.

A sensação de impunidade e a liberalidade do interior do sistema prisional retroalimentam o crime, dos maiores aos menores, em um círculo vicioso e perniciosamente devastador.

A insegurança pública, visto desse modo e nas atuais circunstâncias, é como uma doença/síndrome, que precisa ser enfrentada na interconexão de seu complexo de fatores.

Mas sempre acreditei que sociedade e polícia precisam andar juntas.

Sempre lutei por essa integração e união.

Agora não é diferente.

E agora talvez seja mais importante do que nunca!

Precisamos uns dos outros para o apoio no enfrentamento daqueles que desconhecem e ignoram quaisquer barreiras, tratando o Brasil como arena do Marquês de Sade.