Estadão Conteúdo - O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirmou nesta terça-feira (7), em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro - dos processos da Operação Lava Jato, em Curitiba -, que o presidente Michel Temer participou, em 2007, de uma reunião com a bancada do PMDB para discutir as indicações do partido para diretorias da Petrobras. “Essa reunião era justamente o desconforto que existia com as nomeações do PT de Graça Foster para a Diretoria de Gás e José Eduardo Dutra para a presidência da BR Distribuidora terem sido feitas sem as nomeações do PMDB terem sido feitas”, explicou Cunha, interrogado pela primeira vez como réu da Lava Jato.

LEIA TAMBÉM » Fachin mantém julgamento de recurso de Cunha na pauta do STF » Em primeiro interrogatório a Moro, Cunha quer falar de perguntas vetadas a Temer Temer depôs, por escrito a Moro, como testemunha de defesa do peemedebista, preso desde outubro de 2016.

Em suas informações, o presidente declarou que “não houve essa reunião”, citada na denúncia da força-tarefa da Lava Jato, contra Cunha. “Fui comunicado (sobre a reunião), tanto eu como Fernando Diniz, na época, pelo próprio Michel Temer e pelo Henrique Alves (ex-ministro).

O Michel Temer esteve nessa reunião junto com Walfrido Mares Guias.” » Tribunal manda para Moro ação contra Cunha por propina de US$ 40 mi » Operação aumenta pressão por delação de Cunha, avaliam políticos O ex-presidente da Câmara explicou que “houve uma revolta da bancada do PMDB na votação do CPMF”.

Temer era o presidente nacional do PMDB na ocasião. “Nesse dia, eles chamaram, Michel e Henrique Alves chamaram para essa reunião, para acalmar a bancada, e a bancada acabou votando em seguida a CPMF.” Cunha disse a Moro que “resposta do presidente Michel Temer nas perguntas está equivocada”. “Ele (Temer) participou sim da reunião e foi ele que comunicou a todos nós o que tinha acontecido na reunião, porque não era só o cargo da Petrobras, era outras várias discussões que aconteciam no PMDB.” Cunha declarou que havia um hábito semanal de reuniões dele e outros coordenadores do PMDB com Temer para “debater e combinar toda situação política”. “Tudo era reportado, sabíamos de tudo e de todos.” ‘Caderneta de poupança’ Cunha ainda disse que os recursos que mantinha em contas no exterior administradas por trustes eram usadas como investimento, uma “aplicação”.

De acordo com o ex-parlamentar, os valores só eram usados para consumo e viagens ao exterior - e, portanto, não foram utilizados no Brasil. “Há vários momentos nessa situação.

Em todas usava como se fosse uma caderneta de poupança”, afirmou durante o interrogatório.

O ex-deputado, no entanto, afirmou que o dinheiro é de origem lícita e negou envolvimento em negócios da petroleira ou recebimento de propina.

Ele voltou a afirmar que é beneficiário de contas administradas por trustes.

O peemedebista ainda disse manter as contas há mais de 25 anos e, segundo ele, uma delas é registrada no divórcio de seu primeiro casamento, em 1996. » Eduardo Cunha fica isolado em presídio do Paraná » Eduardo Cunha pede ao STF a anulação da cassação na Câmara Em outubro de 2015, quando as investigações da Suíça sobre contas ligadas a Eduardo Cunha chegaram ao Brasil, os investigadores identificaram gastos de mais de US$ 800 mil em dois cartões de crédito internacionais, além de pagamentos de um curso em renomada escola de tênis com sede na Flórida e outros cursos na Espanha e no Reino Unido. ‘Lava Jato seletiva’ Cunha ainda disse que é alvo de um processo político e que corruptores internacionais são poupados. “Gostaria também de dizer que estamos com um processo político aqui e que empresas estrangeiras, queria protestar, são poupadas de responsabilização e empresas brasileiras pagam bilhões no exterior além da perda de mercado.” Cunha foi interrogado como réu em uma ação penal em que é acusado de ter recebido em suas contas na Suíça propinas de ao menos R$ 5 milhões referentes à aquisição, pela Petrobras, de 50% do bloco 4 de um campo de exploração de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011.

O negócio foi tocado pela Diretoria Internacional da estatal, cota do PMDB no esquema de corrupção. » Justiça suíça vê ‘indícios concretos’ contra Eduardo Cunha » Troca de mensagens entre Eduardo Cunha e filha vira meme O Ministério Público Federal sustenta que parte destes recursos foi repassada para Cláudia Cruz, mulher de Cunha, também em contas no exterior - a transação está sendo investigada em outra ação, específica contra a mulher do peemedebista. “A ação penal é indivisível, mas não houve, por exemplo, a responsabilização da Keppel Fels na sentença divulgada na semana passada, apesar da imputação direta da empresa pelo delator Zwi (Skornicki), ou da Samsung, onde é publica sua participação nos crimes de corrupção, que depôs o presidente da Coreia”, afirmou Cunha, ao final da audiência que durou cerca de três horas. “As punições não podem ser seletivas e poupar os corruptores internacionais.

Falo com a autoridade de quem foi responsável pelo impeachment da ex-presidente da República para defender a legalidade no nosso País.”