Tramita na Câmara do Recife há quase um ano o projeto de lei 26/2016, que quer proibir o uso de livros didáticos que abordem em seu conteúdo temas sobre identidade de gênero e diversidade sexual na rede municipal do Recife.
A matéria foi alvo de polêmica no ano passado, criticada pelos movimentos sociais e defendida pela bancada evangélica.
Em Rondônia, no Norte do País, o Ministério Público estadual afirmou que medidas como essa “disseminam o ódio contra os homossexuais e ferem de morte o fundamento constitucional da promoção da igualdade”.
Lá, foi aberto um procedimento administrativo contra o ex-prefeito da cidade de Ariquemes Lorival Amorim (PDT) e o seu sucessor, Thiago Flores (PMDB).
O peemedebista chegou a mandar retirar de livros enviados pelo Ministério da Educação as páginas que tratem de identidade de gênero e o anterior recolheu o material.
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Veja a opinião dos candidatos nas últimas eleições sobre o tema » Relatora na Alepe, Teresa Leitão diz que PL para proibir livros sobre gênero nas escolas é inconstitucional Voltando ao caso recifense, o sistema de acompanhamento das pautas legislativas mostra que a última movimentação do projeto de lei foi em março do ano passado, quando foi noticiado também que os alunos poderiam ficar sem livros se fosse aprovado.
Há um ano, a Comissão dos Direitos Humanos, presidida pela vereadora da bancada evangélica Michele Collins (PP), novamente candidata, concedeu parecer pela aprovação da lei.
Ainda falta o relatório do colegiado de Educação, Cultura, Turismo e Esportes para incluir na pauta.
O projeto de lei é de autoria do vereador Carlos Gueiros (PSB), contrário a trechos de um livro de ciências distribuído pelo Ministério da Educação para alunos do 5º ano do ensino fundamental, em que a idade regular é de 10 anos.
Além do questionamento de Carlos Gueiros, o material foi alvo de dois requerimentos de Luiz Eustáquio, evangélico da Assembleia de Deus e também do PSB, com o mesmo objetivo. » Michele Collins diz que Câmara “também é casa onde há espaço para Deus” » Vereador de Caruaru defende fim da rotina de ler salmos bíblicos na Câmara Dois parágrafos são contestados pelos parlamentares no material didático: um destacando que “faz parte da sexualidade conhecer a si mesmo e aos outros, e os comportamentos que estão relacionados à identidade sexual” e a explicação do termo ‘identidade sexual’ como “identificar-se com o sexo masculino ou com o sexo feminino”.
O terceiro trecho alvo dos vereadores é: “Entre os relacionamentos conjugais, existem casais formados por um homem e uma mulher e casais formados por pessoas do mesmo sexo”, ao lado de uma foto de família formada por mãe, pai, uma menina e um garotinho, o único negro do grupo.
Questionado pelo Blog de Jamildo sobre o assunto durante a campanha, o prefeito Geraldo Julio (PSB) afirmou que o tema é de legislação federal e que o Estado é laico. “A legislação federal dá autonomia para as escolas escolherem os livros que usam a partir da lista de opções já pré-selecionada pelo Ministério da Educação.
A partir disso, as diretrizes pedagógicas são atualizadas, sempre respeitando preceitos como a laicidade do estado e a isenção deste em termos de posição religiosa ou política”, afirmou há cerca de seis meses.
Quando a pauta foi levantada na Câmara, a prefeitura defendeu o uso dos títulos e avisa que não arcará com a reposição caso as obras sejam realmente proibidas.
Havia um projeto de lei tentando fazer a mesma proibição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), mas a pauta sequer passou da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
A relatora no colegiado, Teresa Leitão (PT), ressaltou que o artigo 5º da Constituição Federal diz que todos são iguais perante a lei e que o projeto “visa impedir as escolas, nas figuras de seus educadores, de colocar em prática exatamente esta igualdade”.