Às vésperas do Carnaval, Paulinho 7 Flexas, presidente do Caboclinho Sete Flexas do Recife está sem dinheiro para comprar o material dos adereços usados pelos 152 componentes do grupo.

Segundo ele, um dos motivos é que aguarda o pagamento de uma dívida de aproximadamente R$ 12 mil da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), referentes a duas apresentações em julho do ano passado e uma no período natalino.

A dívida foi denunciada por ele em uma carta. “No ano em que o Iphan reconhecia o Caboclinho como patrimônio cultural imaterial do Brasil, a agremiação vivia mais um ano de negligência por parte do governo, através da Fundarpe, que contratou apresentações e até a presente data não pagou os cachês.

Pouco mais de 12 mil reais é o valor que está ’esperando liberação na fazenda do Estado’, essa expressão tão conhecida dos artistas da cidade, que mais dá a impressão de que seremos sempre tratados como uma licitação para compra de material de escritório!

Estamos falando de CULTURA e PATRIMÔNIO!!!

Dívidas com a contratação de ônibus para as apresentações, manutenção dos trajes, manutenção da sede, pagamento dos integrantes, compra de material para o desfile desse ano são só alguns dos problemas que o Sete Flexas têm enfrentado.

Várias cobranças foram feitas, inúmeras reuniões e encontros na Fundarpe e a eterna promessa de que os cachês seriam quitados, mas até agora nada aconteceu”, afirma o texto.

LEIA TAMBÉM » Irah Caldeira denuncia falta de pagamento do Governo de Pernambuco por shows no São João » Maciel Melo sai em defesa de Irah Caldeira e cobra a Paulo Câmara nova política cultural A carta ainda afirma que o fundador da agremiação, Mestre Zé Alfaiate, morreu no ano passado deixando dívidas com agiotas que contraiu para fazer os pagamentos após os atrasos da gestão estadual.

Ele tinha 92 anos, 80 deles brincando caboclinho.

O Sete Flexas foi fundado em 1969, em Maceió, e foi trazido para o Recife, especificamente para o bairro de Água Fria, na Zona Norte da cidade, dois anos depois.

Mestre Zé Alfaiate era considerado um dos Patrimônios Vivos de Pernambuco.

Paulinho 7 Flexas é filho dele e herdou a condução do grupo após a morte do pai. » Veja o vídeo produzido pelo Jornal do Commercio sobre a história dos dois: Ao Blog de Jamildo, ressalta que ainda falta pelo menos metade dos adereços do grupo para as apresentações no Carnaval. “Não tenho dinheiro para comprar material, para pagar o pessoal.

Todo o dinheiro vai para pagar dívidas.

O governador não tem palavra e diz que é a crise”, lamenta.

Por não ter recursos, não conseguiu, por exemplo, comprar as plumas a um preço mais baixo em São Paulo e agora terá que pagar R$ 2,5 mil aqui - lá, custava R$ 1,7 mil - e conta ter sido acusado por fornecedores de ter ficado com o dinheiro. “Quem está me segurando é o meu pai”, diz, em homenagem ao mestre. » TCE aponta abandono do Museu de Arte Contemporânea pela Fundarpe » Ministério Público de Contas pede abertura de auditoria especial na Empetur e Fundarpe Na carta, afirma ainda: “Estamos cansados da exploração a que somos submetidos todos os anos quando somos chamados para apresentações pela Fundarpe.

Enfrentamos sempre uma burocracia enorme para todas as contratações e nunca recebemos o pagamento no prazo estipulado que já é absurdo: média de 120 dias para pagamento!!!”.

E questiona: “Que grande artista nacional espera 120 dias para ser pago pela Fundarpe?

Porque nossos mestres e agremiações são expostas a tamanha humilhação para receber cachês?

Queremos saber de que vale um título de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil quando o Estado é o principal fator de desvalorização deste patrimônio?

Quantos mestres terão que morrer vivendo diariamente o descaso de um Governo que não honra, não valoriza e nem cumpre com seus compromissos?” Resposta Em nota, a Fundarpe reconheceu que há dívida com o grupo: “O Governo de Pernambuco, por meio da Secult e da Fundarpe, confirma a tramitação de processos de pagamento de cachês para o Caboclinho 7 Flexas, referentes a apresentações realizadas pelo grupo em 2016.

Reafirmamos o compromisso com todos os artistas e grupos culturais contratados.

Reafirmamos, ainda, o compromisso com uma política cultural democrática, inclusiva e de valorização da nossa diversidade e identidade cultural, em especial das expressões da cultura popular.

Exemplos nesse sentido são a sanção da Lei que ampliou a quantidade dos Patrimônios Vivos; a Convocatória do Carnaval 2017, que preza pelas nossas tradições; o fortalecimento do Funcultura, expresso nos Editais deste ano, que garantem mais recursos e o 1º Edital da Música; entre outras conquistas alcançadas em meio a uma enorme crise política e econômica que o país atravessa.

Estamos enfrentando a questão dos cachês com ampla participação popular.

O Conselho Estadual de Política Cultural já aprovou minuta de Projeto de Lei (PL) que altera, de forma ousada, a Lei 14.104/2010, desburocratizando processos de contratação e ampliando garantias de pagamento.

O referido PL seguirá em breve para a Assembleia Legislativa de Pernambuco, resultando em mais uma grande conquista dos fazedores da cultura pernambucana.”