Estadão Conteúdo - Diante da tentativa da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, de obter protagonismo em temas de relevância nacional, o presidente Michel Temer (PMDB) tem aproveitado a interlocução com o ministro da Corte e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, para tentar se aproximar dela.

Segundo interlocutores de Temer, o peemedebista considera a presidente do Supremo “indecifrável” e recorre a Gilmar em busca de um elo entre Executivo e Judiciário.

Desde que assumiu a presidência do STF, Cármen ajudou a costurar uma solução para o impasse após o afastamento de Renan Calheiros (PMDB) da presidência do Senado e tenta assumir destaque na mediação das crises do sistema carcerário e a financeira dos Estados.

LEIA TAMBÉM » Senador tucano diz que Cármen Lúcia seria melhor opção para substituir Temer até eleição direta » Cármen Lúcia quer ouvir Planalto, Câmara e Senado sobre Reforma da Previdência Neste último ponto, a ministra irritou o Planalto.

Em meio a uma negociação entre o Estado do Rio de Janeiro e a União, Cármen concedeu duas liminares favoráveis ao governo fluminense que evitaram bloqueios de contas.

O Rio ficou com uma carta na manga nas tratativas com o governo federal.

Até aliados de Cármen dentro do Tribunal consideraram a decisão equivocada, e os despachos desagradaram a Temer e à equipe econômica, que buscaram a presidente do Supremo para explicar a situação.

A avaliação do Planalto é de que a decisão poderia gerar um efeito cascata.

Cármen e Temer marcaram uma reunião, que ocorreu no sábado, dia 7, na residência da ministra.

Em sinal de deferência, Temer se deslocou do Palácio do Jaburu até o Lago Sul.

Depois do encontro, ela suspendeu a tramitação das ações sobre o Rio e deve homologar o acordo, que voltou a ser feito, entre União e Estado. » Ex-ministro, Geddel mantém influência na gestão Temer » “Cidadão não há de estar satisfeito hoje com poder Judiciário”, diz Cármen Lúcia A boa relação entre Cármen e Temer, porém, é a versão oficialmente propagada por assessores do Planalto e do Supremo.

Internamente, Cármen é criticada por tomar a dianteira de problemas sem entregar soluções concretas.

Um ministro do STF ouvido pela reportagem considera, por exemplo, que ela já poderia ter entregue uma medida efetiva para o sistema carcerário - e não apenas ter feito visitas a penitenciárias.

Servidores que já trabalharam com a ministra avaliam que ela centraliza a resolução dos problemas.

Por isso teria demorado quatro meses para nomear uma juíza para a diretoria do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário, considerada uma de suas prioridades.

Um ministro afirmou, reservadamente, que Cármen Lúcia, ao centralizar as decisões, agiria como a presidente cassada Dilma Rousseff, uma vez que protela suas ações e soluções.