No mesmo dia em que o governo do PSB (Paulo Câmara) reajuste tarifas de ônibus, enfrentando uma agenda negativa junto à população do Estado, os tucanos do Ministério das Cidades (Bruno Araújo) divulgaram nota no sentido contrário, preservando o valor das passagens metroviárias.

O comunicado federal foi feito, coincidentemente, no mesmo dia em que o aumento de passagens na Região Metropolitana do Recife foi aprovado, em reunião nesta sexta-feira do Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM).

O Sindicato das Empresas de ônibus (Urbana-PE) pediu aumento de 33,93%, mas o martelo foi batido para o valor de R$ 3,20 para o anel A, o equivalente a um reajuste de 14,28%, tendo em visto a tarifa atual que custava R$ 2,80.

Com a mudança, o preço da passagem para o anel B salta de R$3,85 para R$4,45.

O Metrô do Recife, administrado pela estatal federal Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), informou que, a partir de uma política do Ministério das Cidades e do Governo Federal de contribuir com o transporte coletivo da população brasileira, decidiu manter a atual tarifa aplicada.

Pelo sexto ano consecutivo, a tarifa de metrô permanece sem aumento e o valor atual corresponde a apenas 20% das despesas do metrô, CBTU-RECIFE, permanecendo o Ministério das Cidades, responsável por 80% dos custos com o transporte de passageiros da Região Metropolitana do Recife. “Diante das dificuldades financeiras enfrentadas pela maioria da população brasileira, o governo federal permanece no caminho de avançar em uma política de gestão compatível com as necessidades de transporte de todo o Recife, contribuindo para que as tarifas de transporte sejam as menores possíveis”, informou o Ministério das Cidades.

No Estado de Pernambuco, quem tenta faturar com os aumentos é o PSOL, que chegou a entrar com uma ação na Justiça, usando como biombo uma ‘frente popular’ criada com esse fim.

Em São Paulo, a mesma ‘ação judicial oportunista’, foi apresentada pelo PT, que conseguiu suspender os reajustes no meio da semana.

Em função da iniciativa federal, torna-se apropriado e relevante a leitura do editorial da Folha de São Paulo desta quinta-feira, sobre o tema que tanto atribula gestores públicos a cada começo de ano.

Bilhete demagógico O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), fomentou uma crise de dimensão estadual com sua decisão de não aumentar o preço das passagens de ônibus na capital.

O congelamento constitui um ataque às finanças da cidade.

Subsidiar o sistema de transporte custa mais de R$ 2 bilhões por ano; o populismo do prefeito acrescenta R$ 1,25 bilhão a essa conta.

Pressionado pelo arroubo de Doria, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), desistiu de majorar a tarifa do metrô e seguiu o caminho do afilhado político.

A realidade financeira, contudo, exigia certa maquiagem, por assim dizer.

No arranjo, o bilhete básico (R$ 3,80) ficou sem correção, mas houve reajuste bem acima da inflação na integração de ônibus com metrô ou trem (de R$ 5,92 para R$ 6,80) e na modalidade diária (de R$ 16 para R$ 20) e mensal (de R$ 230 para R$ 300).

Trata-se de medida desequilibrada, pois impõe custo mais elevado sobre quem mais utiliza o sistema de transporte —vale dizer, sobre a população mais pobre.

Que seja; era uma escolha política.

Doria e Alckmin foram eleitos para tomar decisões dessa natureza, concorde-se ou não com a visão de mundo que elas possam refletir.

Com uma ação judicial oportunista, contudo, o PT conseguiu suspender os reajustes.

Pergunta-se: mantido o congelamento por força dos tribunais, com o decorrente rombo nas contas do Estado e do município, a quem os magistrados prestarão contas?

Certamente não a seus eleitores, pois não os têm.

Não obstante o excesso forense, o equívoco maior resultou da demagogia de governantes tucanos que se dizem mais gestores do que políticos.

Como administrador, aliás, Alckmin de fato mantém em ordem as contas estaduais.

Além desse básico, porém, não vai: as linhas de metrô crescem na velocidade inversa da influência de facções criminosas dentro dos presídios paulistas, enquanto a qualidade da educação permanece indigna de um Estado com os recursos de São Paulo.

Quanto a Doria, é possível que supere esse período de deslumbramento.

Tem ainda a seu favor o fato de ter nomeado assessores qualificados, de ter espírito transformador e de lançar sem receio ideias novas para a gestão da cidade.

No entanto, deve tomar logo consciência de que a administração da cidade não se resolve como um encontro motivacional.

Entre outras qualidades, um bom administrador estuda os assuntos sob sua alçada, planeja, procura antever consequências de seus atos e trata de evitar conflitos ou restringir-se ao bom combate.