O pai da FDN, PCC e CV Por Mario Sabino, no Antagonista Depois da carnificina no presídio do Amazonas, eis que ocorre o banho de sangue na prisão de Roraima, com trinta presos decapitados e alguns deles com o coração arrancado.

A barbaridade não deve parar por aí, uma vez que a guerra entre a Família do Norte (FDN) e Primeiro Comando da Capital (PCC) foi declarada.

Eu não fazia ideia da existência de uma facção chamada Família do Norte.

Comando Vermelho, do Rio, e Primeiro Comando da Capital, de São Paulo, são sobejamente conhecidos.

Como sou paulistano, o PCC faz, de certo modo, parte da minha vida cotidiana.

Eles conseguiram parar São Paulo em 2006, por meio de uma série de atentados simultâneos, e dominam os presídios do estado.

Conheço uma senhora cujo enteado foi preso por traficar drogas leves.

Ela foi extorquida pelo PCC para que o rapaz não fosse surrado e estuprado na prisão.

A periferia de São Paulo e até bairros centrais da cidade são o mercado do PCC; as penitenciárias do estado são os seus spas.

Num desses spas de segurança máxima (para os bandidos), está hospedado Marcola, o Duce dessa gente.

A administração estadual finge que não vê; o PCC finge que a administração estadual existe.

As facções prosperam num país governado, até pouco tempo atrás, por uma organização criminosa, segundo a definição do Ministério Público Federal.

Ainda há criminosos dessa organização encastelados em Brasília.

Depois da carnificina no Amazonas, O Antagonista descobriu que presídios ocupados (esse é o termo mais apropriado) por FDN, PCC e CV foram “concedidos a empresas privadas — que, em troca de dinheiro público destinado ao sistema prisional, financiam campanhas de políticos.

Como se vê, há ainda o PCCF, Primeiro Comando da Capital Federal.

Diante das carnificinas nos presídios, há quem ache que é melhor que esses monstros se matem uns aos outros.

Trata-se de uma sequela da política de direitos humanos de viés esquerdista, muito em voga nos anos 80 e 90, que dava mais atenção aos bandidos do que aos cidadãos de bem.

A sequela é ainda explorada por populistas que querem o voto dos cidadãos de bem.

Eu acho um horror qualquer carnificina.

Não penso que se deva ser leniente com bandidos, mas sei que o Estado incapaz de garantir segurança, saúde e educação a todos é o mesmo que entrega presídios a facções criminosas (e os “concede a empresas privadas” que financiam políticos). É o mesmo que subverte a noção primeira de Estado como detentor do monopólio da força.

A Família do Norte, o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho nasceram de um Estado que, para além de corrupto, é incompetente, frouxo, desproporcional e comandado por gente desqualificada.

A nossa tragédia tem expressões múltiplas, que podem ser mais ou menos sangrentas, mas ela é uma só.

PS: Mario Sabino acaba de lançar o livro “Cartas de um antagonista — Jornalismo na selva selvagem brasileira”, que reúne artigos inéditos e textos publicados na newsletter