Geraldo Julio (PSB) foi reeleito no Recife após, entre outros fatores, conseguir convencer os eleitores de que não construiu as cinco unidades do Compaz prometidas há quatro anos por causa da crise econômica.
Segundo o socialista, outras propostas de 2012, como a entrega de 20 Upinhas e da requalificação da Comunidade do Bode, também não saíram do papel devido ao mesmo problema, de âmbito nacional.
São obras e ações inconclusas ou sequer iniciadas, mas ratificadas na última campanha e que precisam estar prontas em quatro anos de um segundo mandato que começa com previsão de mais crise.
Tudo isso para que Geraldo Julio se consolide como principal liderança dentro do partido e contribua com os projetos da legenda para 2018.
LEIA TAMBÉM » “O povo nordestino é quem paga a maior conta da crise no Brasil”, diz Geraldo Julio » Agora sem Eduardo Campos, Geraldo Julio bate de novo PT no Recife e consolida-se como maior liderança socialista no Estado Na primeira eleição, o prefeito era um nome técnico apadrinhado pelo ex-governador Eduardo Campos, então principal liderança do PSB.
Antes da votação, em que foi eleito ainda no primeiro turno com 51,1% dos votos, chegou a registrar em cartório as promessas de campanha.
Era 2012, ano que teve crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nacional de 0,9%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Aquele era o pior desempenho desde 2009, o pico da crise mundial, e abaixo dos 2,7% do ano anterior.
Em 2013, quando Eduardo fazia críticas à política econômica da União e iniciava as articulações para a sua candidatura à presidência, foi de 2,3%.
Nos anos seguintes, foram de estagnação em 2014, com 0,1%, e queda de 3,8% em 2015.
A projeção para esse 2016 de crise também política é de 3,5%, segundo o governo, que prevê crescimento de apenas 1% em 2017.
Desde o ano passado, a realidade de Pernambuco não é muito diferente da nacional; com retração de 3,5% do PIB medido pela agência Condepe/Fidem, a maior redução desde 1998.
Antes, porém, demonstrava crescimento maior do que o nacional: 2% em 2014; 3,5% em 2013; 2,3% em 2012; e 4,5% em 2011.
A projeção na 21ª Análise Ceplan para 2017 é de queda de 2,5%, um mergulho ainda maior na crise, mas com condições de se reestruturar de forma rápida devido ao ajuste fiscal e à política de investimentos industriais. » Por 27 a dois, Câmara do Recife aprova reforma administrativa de Geraldo Julio » André Régis reclama de reforma no “apagar das luzes” do mandato de Geraldo e culpa vereadores Mas esses números não são tudo.
Teve impacto também nos cofres municipais a redução nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
Só no primeiro deste ano, por exemplo, houve uma diminuição de quase 13%, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM).
Como a verba é composta de 22,5% da arrecadação do Imposto de Renda - o que fez a cidade ter direito aos recursos da repatriação - e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), a queda nesses valores foi a causa de mais essa dificuldade.
De acordo com o Portal da Transparência, o repasse do FPM foi de R$ 297,3 milhões em 2016, uma queda em relação aos R$ 363,9 milhões de 2015, aos R$ 343,4 milhões de 2014, aos R$ 310,4 milhões de 2013 e aos R$ 322 milhões de 2012.
A expectativa não é positiva para 2017. » Reforma: PCR promete cortar comissionados, mas não diz quando » Priscila Krause questiona manutenção de comissionados em reforma de Geraldo Julio Além de impactar na conclusão de obras prometidas, a dificuldade econômica fez a Prefeitura do Recife estender ao máximo permitido pela lei o pagamento do 13º salário dos 39 mil servidores ativos e inativos, por exemplo.
Este ano, os R$ 160 milhões desse vencimento ficaram para 20 de dezembro, enquanto no ano passado o depósito foi feito no dia 7 de dezembro e nos dois anos anteriores no dia 5; já sob a gestão de João da Costa (PT), em 2012, no dia 10; em 2011, no dia 12; em 2010, no dia 10; em 2009, no dia 9; e, no segundo mandato de João Paulo (PT), adversário de Geraldo Julio nas últimas eleições, em 2008, o pagamento foi no dia 19; em 2007, no dia 17; em 2006 e 2005, no dia 20.
No ano passado, já com a crise, através do secretário Ricardo Dantas (Finanças), a prefeitura exaltava que o pagamento havia sido assegurado com receita própria, através de medidas como a renegociação da cota única do IPTU e a realização de um mutirão fiscal que garantiu cerca de R$ 106 milhões.
Este ano também, acrescentando a dificuldade de arrecadação principalmente do ISS (Imposto Sobre Serviço), impactado diretamente pela crise.
Diante do cenário e das perspectivas negativas, para não gerar ônus à folha de pagamento e aos serviços essenciais, Geraldo Julio anunciou ainda em dezembro medidas como a revisão de contratos para tentar, segundo cálculos da prefeitura, economizar R$ 90 milhões ao longo do primeiro ano do segundo mandato. » Veja fotos da campanha de Geraldo Julio: Foto: Guga Matos / JC Imagem - Foto: Guga Matos / JC Imagem Foto: Andréa Rego Barros/PSB - Foto: Andréa Rego Barros/PSB Foto: Andrea Rego Barros/PSB - Foto: Andrea Rego Barros/PSB Foto: André Nery / JC Imagem - Foto: André Nery / JC Imagem Foto: Andréa Rêgo Barros/PSB - Foto: Andréa Rêgo Barros/PSB Foto: Andrea Rego Barros/PSB - Foto: Andrea Rego Barros/PSB Foto: Paulo Veras/JC - Foto: Paulo Veras/JC Foto: Andrea Rego Barros/PSB - Foto: Andrea Rego Barros/PSB Foto Diego Nigro/JC Imagem Data: 02-10-2016 Assunto: POLITICA - Coletiva com o Candidato a prefeito do Recife Geraldo Julio após as apurações das urnas que indicaram que as eleições irão para o segundo turno.
Palavra chave: Coletiva - político ## - Foto Diego Nigro/JC Imagem Data: 02-10-2016 Assunto: POLITICA - Coletiva com o Candidato a prefeito do Recife Geraldo Julio após as apurações das urnas que indicaram que as eleições irão para o segundo turno.
Palavra chave: Coletiva - político ## Foto: Andrea Rego Barros/Divulgação - Foto: Andrea Rego Barros/Divulgação Foto: Andrea Rego Barros/Divulgação - Foto: Andrea Rego Barros/Divulgação Foto: Andrea Rego Barros/Divulgação - Foto: Andrea Rego Barros/Divulgação Foto: Andréa Rêgo Barros/PSB - Foto: Andréa Rêgo Barros/PSB Outros R$ 81 milhões a prefeitura espera cortar com a reforma administrativa que diminuiu de 24 para 15 secretarias e de 11 para oito órgãos da administração indireta.
Desse total, R$ 36 milhões são da mudança de quatro empresas para autarquias, alterando, assim, a tributação e o custeio delas. » Juiz eleitoral reprova contas de campanha de Geraldo Julio » Coordenação de campanha nega irregularidades nas contas de Geraldo Julio e diz que vai recorrer O restante será de despesas da administração e da folha de pagamento, mas os valores exatos para cada uma das partes não foi divulgado.
Isso porque a reforma de Geraldo Julio não previu no primeiro momento, entretanto, a redução do quadro de pessoal, que hoje tem aproximadamente 2,6 mil cargos comissionados.
Além disso, só houve mudança no primeiro escalão, não prevendo inicialmente cortes nas secretarias executivas, que hoje são 66.
Isso gerou críticas da deputada estadual Priscila Krause (DEM), vereadora de oposição nos dois primeiros anos de gestão do socialista e adversária dele nas últimas eleições.
Na Câmara, mesmo votando a favor do projeto, o vereador André Régis (PSDB) afirmou que o prefeito teria um “cheque em branco”.
O projeto foi aprovado na Câmara por 27 a dois um dia antes do fim do período extraordinário de funcionamento do Legislativo, aberto a pedido de Geraldo Julio - ainda sem anúncios como ele acomodaria politicamente os 20 partidos da aliança que o elegeu dois meses antes da mudança, uma coligação maior do que a de 2012. » Geraldo Julio anuncia cortes de R$ 90 milhões nos gastos PCR em 2017 » Câmara do Recife aprova aumento da taxa de lixo Por outro lado, como incremento, haverá, por exemplo, a nova taxa do lixo, com a implementação da Taxa de Resíduos Sólidos Domiciliares (TRSD) para substituir a Taxa de Limpeza Urbana (TLP), o que representa na prática um aumento mensal de R$1,19 a R$ 8,85 no carnê do IPTU para cerca de 191 mil residências, o que equivale a 61% do total.
A Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2017, aprovada pela Câmara Municipal em novembro, prevê orçamento de R$ 5,9 bilhões, sendo R$ 2,9 bilhões de recursos próprios.
Do total previsto, R$ 953,2 milhões serão destinados à saúde e R$ 824,5 milhões à educação, além de cerca de R$ 1 bilhão para urbanismo - do último valor, porém, só R$ 173 milhões são de fontes próprias e nele está a maior parte das operações de crédito, que podem não ser executadas.
E as promessas repactuadas?
Mesmo com as dificuldades financeiras, há muitas tarefas a serem concluídas; 65%, segundo levantamento do Jornal do Commercio pouco antes do segundo turno, e 20%, de acordo com a prefeitura.
No meio desses números, estão os moradores das palafitas do Bode, na Zona Sul, que viram o então candidato entrar nas suas casas prometendo a reurbanização da comunidade, imagens que apareceram no guia eleitoral.
No fim do mandato, a área foi demarcada e a previsão é de um ano.
O déficit habitacional chega a 70 mil unidades.
Comunidade do Bode (Foto: Diego Nigro/JC Imagem) Precisam também dessas entregas os usuários das redes de saúde e educação que, como dizem os auxiliares do prefeito, em momento de crise econômica passam a não mais poder pagar pela rede privada e a precisar ainda mais de equipamentos como as Upinhas, que, das 20 prometidas, foram inauguradas dez.
Das promessas para a saúde, as que saíram do papel foram a contratação de 400 médicos e a entrega do Hospital da Mulher, inaugurado em maio e uma das vitrines da gestão durante a campanha.
A unidade deveria ter sido entregue em outubro de 2014, mas, segundo a prefeitura, o que atrapalhou foi o atraso no repasse de recursos federais para a obra.
O investimento para a obra e também para a aquisição de equipamentos é da ordem de R$ 118 milhões, entre recursos municipais, estaduais, federais e de emendas parlamentares.
O orçamento inicial só para a construção do prédio foi de R$ 58 milhões, sendo R$ 48 milhões do governo federal e R$ 10 milhões de contrapartida do município.
Além do Hospital da Mulher, Geraldo Julio ressaltou durante a campanha a abertura da Via Mangue, após anos de entraves, e a consequente instalação de corredores exclusivos de ônibus no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul da cidade.
Para tirar a obra do papel, a prefeitura investiu R$ 412 milhões, sendo R$ 81 milhões de recursos próprios e R$ 331 milhões de financiamento, e o governo federal aportou R$ 19 milhões - resultando no montante de R$ 431 milhões de investimentos.
Ao destacar a Via Mangue, o prefeito costumava criticar a intervenção feita pelas gestões petistas na Avenida Conde da Boa Vista, que agora fica como desafio para ele. » Geraldo Julio garante que educação será prioridade mas reconhece que PCR não tem condições de oferecer vagas » Geraldo Julio reafirma críticas à PEC do Teto: “Quem paga a conta sozinho é o povo” Em entrevista à Rádio Jornal essa semana, porém, já adiantou que não é para agora.
Sem falar de datas e valores por não ter ainda o projeto básico, afirmou: “Já temos os estudos que definem a remodelação da via e agora estamos em fase de elaboração o projeto executivo, que vai definir orçamentos”.
Não há previsão também para inaugurar três das cinco unidades do Compaz prometidas há quatro anos; a primeira, no Alto Santa Terezinha, na Zona Norte, foi entregue no último ano do primeiro mandato e a segunda, no Cordeiro, na Zona Oeste, deve sair no primeiro ano do segundo.
O papel de Geraldo Julio no PSB Sem cumprir essas promessas, porém, o prefeito do maior colégio eleitoral de Pernambuco pode não ajudar o PSB nas eleições estaduais de 2018 - seja com o partido tentando a reeleição do não tão bem avaliado Paulo Câmara, governador de Pernambuco, ou com outro candidato do partido, que pode ser o senador Fernando Bezerra Coelho, pai do prefeito eleito de Petrolina, Miguel Coelho. “Por ser uma capital importante, o prefeito do Recife costuma usufruir de uma visibilidade relevante.
Isso costuma potencializar a percepção do eleitorado em relação ao governante, tanto positiva quanto negativamente, com reflexos no cenário estadual”, explica o cientista político Juliano Domingues, da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
Para ele, se Geraldo Julio conseguir fazer um bom mandato, “muito provavelmente” pode se consolidar como liderança dentro do PSB. » Sobre aliança com Alckmin, Geraldo Julio defende candidatura própria do PSB em 2018 » Ao saber de vitória, Geraldo Julio chorou copiosamente, rezou um Pai Nosso e lembrou Eduardo Campos O especialista considera ainda que a crise econômica pode ser usada como um “álibi” pelo governante, podendo convencer a população de que esse obstáculo é culpado pelo não cumprimento das propostas.
Por outro lado, se tiver êxito, pode ser usado como “mérito próprio e do seu grupo político”. “Como, de modo geral, o contexto não é favorável a ninguém, a tendência é de o impacto, no caso de insucesso administrativo municipal, não ser tão relevante em uma candidatura à reeleição do governador Paulo Câmara.
Entretanto, em um ambiente de pessimismo, qualquer aspecto positivo tende a ser bem capitalizado politicamente. É a velha ideia de que ‘o que vier, é lucro’”, avalia Domingues.
Fernando Bezerra Coelho, Paulo Câmara e Geraldo Julio (Foto: Guga Matos / JC Imagem) Para o cientista político, porém, só o contexto recifense não é capaz de influenciar os planos nacionais do PSB. “O cálculo envolve a configuração de outras cidades de estados mais relevantes politicamente, como São Paulo”, pondera.
Geraldo Julio, Paulo Câmara, Fernando Bezerra Coelho e outros socialistas defendem candidatura própria à presidência da República e outros sinalizam uma aliança com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que pode apoiar o vice Márcio França (PSB) para o cargo em 2018.