Paulo Rubem Santiago Professor da UFPE Em alguns dias o ano se finda, mas não se findarão com ele as quadrilhas organizadas, não aquelas do período junino, tão vibrantes, criativas e belas, tão vivas no nordeste, mas as que há anos, décadas, quiçá séculos, se associam a um estado conservador para formar imensas fortunas, mais e mais ferramentas de poder. É Senador que ajuda empreiteira e recebe financiamento de campanha, para eleger o filho governador de seu estado, é deputado federal e senador que insere emendas em projetos para facilitar a vida e bilhões a favor de grandes grupos econômicos, em troca de grana grossa para suas reeleições eternas, são partidos de balcão, siglas de aluguel que fazem o jogo do crime organizado, são milhões e milhões de eleitores que vendem o voto, por dinheiro ou vantagens pessoais outras.

Apesar disso, não façamos o jogo dos que se negam a agir e entregam o país ao crime.

Não.

A omissão não é salvo conduto para ninguém, nem nos trará a chave do paraíso.

Não há democracia no crime, não há socialização de seus frutos.

Quanto mais crime, mais poder, mais riqueza, mais crimes, mais pobreza, medo e desigualdade.

Esse país precisa ser passado à limpo, sim, passado à limpo, nem que para isso a população vá além do voto nas urnas, com ações concretas e simbólicas, pois essa manifestação da vontade popular, o voto, tem sido estuprada, comprada, já não é alerta, referência ou critério de valor para a maioria dos políticos e parte significativa da elite empresarial brasileira.

Querem sempre mais, e mais, e mais, lucro, riqueza, poder e influência.

Querem um povo inerte, alienado, acomodado, passivo, mas gritam e esperneiam, falam mal dos políticos e governantes, quando são assaltados nos sinais de trânsito, quando perdem seus carrões importados, quando suas fortalezas habitacionais de luxo são vazadas por bandidos organizados que planejam os assaltos e limpam um por um de seus apartamentos de luxo.

Por isso, o único benefício de fato de uma delação premiada, para esses graves e amplos casos de corrupção vistos na Lava Jato, deveria ser livrar os criminosos da prisão perpétua, mas a maioria deveria amargar penas máximas atrás das grades, pois muitos, ainda que condenados, em pouco tempo, segundo as atuais regras, voltarão às suas mansões e usufruirão de parte dos patrimônios acumulados, quem sabe, espalhados ainda em nome de terceiros e não tomados pela Justiça para pagamento do prejuízo causado por seus crimes à sociedade, em especial à infância e aos idosos,.

E quem nos garante que, em poucos anos, não voltarão a corromper?

Vejo 2016 como um ano triste para o país e sua história, mas vi nesse ano muita disposição de luta, vi jovens ocupando escolas, indo às ruas, vi educadores debatendo finanças, impostos, riqueza, orçamentos, vi profissionais do SUS denunciando o ataque aos direitos da população contido na PEC 241/55, vi parlamentares honestos e combativos bradando: Não à PEC da morte, nenhum direito a menos.

Por isso façamos da tristeza perseverança, da desigualdade política entre os poderosos e a maioria do povo explorado um impulso à guerrilha cotidiana de combate aos crimes, à manipulação dos fatos, às soluções de classe impostas de cima para baixo, travestidas de projetos econômicos universais, quando não passam de mais e mais engrenagens e ações a favor dos mais ricos e poderosos.

Os números não mentem.

Esse é o sistema dominante, podre, que, nas crises que ele mesmo gera, teima em se reformar por cima e se perpetuar, com mais folego, no país e no mundo.

Trata-se portanto, para que tenhamos futuro, de destruí-lo, mais cedo ou mais tarde.

Por isso e para isso, eu acredito é na rapaziada, na juventude, nos que, mesmo em suas cotidianas individualidade e privacidade, não perdem o senso de solidariedade, de comunhão, de construção coletiva de vida digna e de bem estar para todos, acredito nos alunos de ensino fundamental e médio que, mais rapidamente que muitos doutores e intelectuais das letras, das finanças e títulos acadêmicos, perceberam o que estava contido na PEC 241/55 e agiram, ocuparam, pararam escolas e universidades.

Agiram, pois a vida devia ser bem melhor e será.

Sim, é inegável, o tempo está nublado, os poderosos e suas estruturas de criminalidade e riqueza se acham todos, todos, blindados, imbatíveis.

Ledo engano.

Avante.

Que os significados do Natal nos fortaleçam, que 2017 nos receba de braços abertos, em ruas largas, com vozes fortes, com unidade e bandeiras comuns.