Estadão Conteúdo - O PMDB vive no centro da crise política atual.

Para o Palácio do Planalto, o partido virou a bola da vez dos investigadores da Lava Jato.

Agora no poder, o PMDB é o partido mais exitoso entre os que têm vivido na zona de conforto das disputas presidenciais na América Latina.

Essa é uma das conclusões do estudo financiado pela Fundação Getulio Vargas - Muito Difícil de Administrar, Muito Grande para Ignorar -, dos pesquisadores Carlos Pereira, Samuel Pessôa e Frederico Bertholini.

O trabalho, inédito com previsão de lançamento no Brasil no próximo trimestre, localizou partidos de toda a região com características atribuídas formalmente ao PMDB.

A identidade peemedebista, portanto, consiste em partidos com ampla distribuição nacional, grande representação legislativa nos municípios e Estados, fragmentação interna por interesses regionais e individuais, ideologia amorfa e sem uma agenda política definida.

LEIA TAMBÉM » Avaliação negativa do governo Temer sobe de 39% para 46%, diz CNI/Ibope » Temer diz não estar preocupado com índices de popularidade Esse perfil é denominado na pesquisa como “legislador mediano”, ou seja, partido coadjuvante em presidencialismo multipartidário que prefere atuar nos domínios legislativos a apresentar candidatos competitivos em disputa majoritária.

Vive sem correr muitos riscos. “São partidos que preferem trilhar um caminho fundamentalmente legislativo ao não apresentar candidatos competitivos para a Presidência da República.

Ou seja, têm grande flexibilidade política e ideológica para fazer parte de governos com perfil mais liberal ou mais conservador”, diz o cientista político Carlos Pereira.

Na América Latina, o PMDB é o partido que aproveita mais as oportunidades da condição de legislador mediano.

Essa trajetória começou com a derrota de seu último candidato ao Palácio do Planalto, Orestes Quércia, em 1994.

Manteve-se nessa posição até o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, em maio deste ano.

A partir daí, tornou-se majoritário sem ter lançado candidato à Presidência em 2014. “As derrotas eleitorais de Ulysses (Guimarães, em 1989) e Quércia geraram não apenas perdas dos seus respectivos candidatos à Presidência, mas também para o partido em todas as esferas municipal, estadual e legislativa.

Essas derrotas foram um duro aprendizado para o PMDB, pois ajudaram a solidificar uma trajetória eminentemente legislativa para o partido”, confirma Pereira. » Marcelo Odebrecht confirma pagamento de R$ 10 milhões ao PMDB a pedido de Temer » Prisão de Sérgio Cabral abala o Planalto por mirar no PMDB A chegada não programada teria gerado desconforto entre seus quadros, segundo os pesquisadores. “Com o impeachment, foi alçado à trajetória majoritária presidencial, o que gerou bastante desconforto e resistências de algumas de suas lideranças regionais que não estavam tão dispostas a correr os maiores riscos inerentes dessa rota.

Desde que o presidente Temer assume a Presidência, várias lideranças do PMDB pagaram preços muito altos, tais como Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Geddel Vieira Lima, entre outros”, aponta.

A mudança de posição do PMDB lançou automaticamente o PSDB à uma colocação provisória de partido mediano, no sentido definido pela pesquisa daquele que desempenha um papel de apoio à atual Presidência, ainda que tenha apresentado candidatos ao Palácio do Planalto em todas as eleições majoritárias do período da redemocratização. “Para mim, o PSDB é hoje o PMDB do PMDB”, diz Um cálculo vitorioso não pode prescindir de uma legenda peemedebista em nenhuma disputa presidencial, visto que sai, inclusive, até mais barato para a aliança, o que vem a ser a outra descoberta da pesquisa. “É mais caro para o presidente quando ele governa com muitos partidos pequenos do que com um partido com perfil do PMDB”, revela Pereira.