A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) voltou a criticar o processo de impeachment que a tirou do poder e colocou no Palácio do Planalto o seu ex-vice, Michel Temer (PMDB), em entrevista divulgada neste sábado (17) pela Al Jazeera.
A petista acusou Temer, com quem foi eleita em 2014 e 2010, de trair o programa de campanha dos dois. “A traição nesse caso não é pessoal, é política”, disse. “Ele traiu uma instituição e uma campanha.
Nós fomos eleitos com um programa e nesse programa não estava previsto que ele iria congelar os gastos de educação e saúde em um País com uma população jovem por 20 anos.
Não estava previsto que as pessoas para se aposentar precisariam de 49 anos”, acrescentou, criticando o teto dos gastos públicos estabelecido pelo governo e promulgado pelo Congresso através da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/2016.
A Reforma da Previdência apresentada na semana passada também foi alvo. “Ora, todo o esforço que nós fizemos que estava no meu programa é que os jovens do País, as crianças do País, ao invés de trabalhar, elas tinham de estudar, porque só assim o Brasil tem a possibilidade de se transformar numa nação desenvolvida”, defendeu Dilma. “Eu jamais esperei que ele fosse um traidor, e ele é um traidor.” LEIA TAMBÉM » MPE vê ‘fortes traços de fraude’ em gráficas da chapa Dilma-Temer » TSE deixa julgamento sobre chapa Dilma-Temer para 2017 » “É um golpe dentro do golpe”, afirma Dilma sobre cassação de chapa A ex-presidente voltou a se dizer vítima de um golpe parlamentar, disse que não quebrou regras e adotou o pedido dos aliados por eleições diretas. “Tem que se eleger um novo presidente da República para que esse golpe seja barrado”, afirmou Dilma, que avaliou o governo como ilegítimo. “O processo que o levou ao governo é baseado em rasgar a Constituição brasileira, em transformar por meio de uma fraude uma votação no Senado em mecanismo de chegar ao poder.
Quando você afeta o pilar no presidencialismo, que é a presidência da República, você cria uma instabilidade, você atinge todos os outros poderes: legislativo e judiciário.” A ex-presidente atribuiu, além da oposição, dos empresários e da mídia, ao machismo e à misoginia o processo de impeachment. “Homem é firme, mulher é dura.
Homem é determinado, a mulher é cabeça dura e só faz isso.
Houve um processo de desumanização da minha pessoa”, reclamou.
Petrolão Dilma Rousseff ainda foi questionada sobre a Operação Lava Jato e o escândalo de corrupção na Petrobras.
A ex-presidente não negou que tenha havido crimes na estatal, mas disse não ter conhecimento. “É próprio da corrupção se dar as escondidas”, afirmou.
A petista argumentou que, embora tenha sido presidente do Conselho de Administração, assim como ela, nenhum integrante do colegiado nem a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou três auditorias externas detectaram o problema.
Perguntada se teria sido complacente ou incompetente, respondeu: “Meu querido, esse é o tipo de ’escolha de Sofia’ que eu não entro nela, porque não é o que acontece”. “Eu não nego, só que eu não vou prejulgar ninguém, porque me prejulgaram.
Todo o sistema político brasileiro está extremamente carcomido, não é só por esquemas de corrupção.” “Por que de nenhum dos empresários, grandes, ninguém cobra nada, só de mim?”, questionou. » Autor do impeachment de Dilma, Hélio Bicudo adere ao ‘Fora, Temer’ » Campanha de Dilma pagou funcionários de Temer em 2014, diz jornal » Quedas de ministros de Temer têm ritmo próximo ao da ‘faxina’ de Dilma O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, condenado em primeira instância na Lava Jato, foi citado. “Enquanto não julgarem, eu não vou julgar”, disse Dilma. “Quem cometeu qualquer mal feito, seja quem for, doa a quem doer, deve pagar por eles.
Agora tem que ter o devido processo legal”, ponderou.
Dilma ainda reconheceu um erro de estratégia da sua gestão ao conceder incentivos fiscais a empresas no período anterior à Copa do Mundo e aos jogos olímpicos. “Era uma redução do imposto que nós cobrávamos sobre a folha de pagamento.
Aí é que esta a ilusão.
Nós achávamos que eles iriam usar isso para investir ou para não descontratar.
O que eles fizeram?
Aumentaram a margem de lucro”, lamentou.
A ex-presidente ainda afirmou: “Todo o sistema político brasileiro está extremamente carcomido, não é só por esquemas de corrupção.” » Assista à entrevista de Dilma Rousseff à Al Jazeera: