Em entrevista coletiva, na manhã desta segunda-feira (12), o presidente da Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco, Alberisson Carlos, criticou o governo Paulo Câmara (PSB) por uma suposta falta de diálogo com a categoria.
De acordo com o presidente, a presença das Forças Armadas no Grande Recife, mostra esta “incapacidade” do governo de tratar da questão da segurança pública. “Os militares são nossos irmãos, mas a gente vê com preocupação a presença deles nas ruas porque todos sabemos que eles não tem treinamento para fazer o policiamento, eles vão entrar numa comunidade atrás de um bandido com um tanque de guerra? questionou Alberisson. “Então o clima não é de segurança, é de guerra”, completou.
Alberisson ainda disse que a categoria não quer greve. “Não somos a favor de qualquer tipo de radicalização, porque nós sabemos o quanto uma greve de polícia é danosa, nós temos familiares e sabemos disso.
Mas quem está a todo momento tentando fazer uma radicalização, até como armadilha, é o Governo do Estado, que não está querendo dialogar, que não está chamando as associações militares.
E não é porque que temos um regime muito duro que vamos ficar calados e não lutar pelos companheiros”, ressaltou.
Na última sexta-feira (9), o presidente da Associação de Cabos e Soldados foi preso durante assembleia da categoria para tratar da pauta que seria entregue ao Estado.
Durante a fala inicial das lideranças, uma oficial de justiça entregou a intimação ao sindicalista.
Militares da Companhia Independente de Operações Especiais (Cioe), fardados, efetuaram a prisão administrativa em flagrante.
Além de Alberisson, o vice-presidente da entidade, Nadelson Leite, também foi conduzido ao Quartel do Derby.
A prisão foi solicitada por um tenente-coronel do Quartel do Derby, que alegou crime militar dos sindicalistas por incitarem uma possível greve.
Entretanto, Alberisson afirma que a assembleia realizada na última semana não serviu para tratar de greve. “Nunca houve possibilidade de greve, em nenhum momento partimos para a ilegalidade, mas a forma que o governo conduz que tinha uma mesa permanente de negociação, destituiu essa mesa e isto está desagradando a tropa”, disse.
Alberisson foi solto por Alvará de Soltura, após 33 horas preso.
O Tribunal de Justiça de Pernambuco proibiu as associações militares do estado de realizar assembleias para deliberar sobre greves na noite da última quarta.
O desembargador José Fernandes Lemos determinou que as quatro entidades que representam os policiais militares “se abstenham de realizar reunião, assembleia ou qualquer evento que tenha por objetivo reunir ou patrocinar a deflagração de greve de militares estaduais ou qualquer outro movimento que comprometa a prestação do serviço de segurança pública”.
O sindicalista afirmou que a categoria serve em Operação Padrão por tempo indeterminado. “Existe um déficit de mais de sete mil homens no Estado.
Não estamos em greve e não estamos propondo a ilegalidade, estamos propondo a Operação Polícia Legal, onde o policial não é obrigado a vender sua folga”, ressaltou.
PRISÃO Foto: Blog Imagem Para o o advogado da associação, François Cabral, a prisão de Alberisson e Nadelson foi “escandalosamente ilegal”.
O Comando da Polícia Militar de Pernambuco informou, na sexta, que a prisão em flagrante se devia ao descumprimento da ordem judicial que proibia bombeiros e policiais militares de se reunirem para discutir greve.
Cabral explica que a assembleia da sexta-feira deliberava sobre a entrega do Programa de Jornadas Extra (PJEs), em que os militares fazem plantões extras, e não sobre greve. “Nadelson e Alberisson não são réus nessa ação, mas sim a Associação Pernambucana de Cabos e Soldados e as outras associações.
Não houve descumprimento.
A decisão judicial que é proibida reunião de escopo de greve.
A reunião era para deliberar sobre continuidade ou não de entrega das PJEs.
Se houve descumprimento, quem foi que descumpriu?
Foram eles, ou todas as associações?”, questiona o advogado. “Ela [a prisão] foi escandalosamente ilegal, pois não houve decisão judicial.
Na verdade um tenente-coronel representeou pela prisão preventiva de Alberisson na quinta-feira, despachamos com o juiz e com a promotora e ambos entenderam que não havia urgência e declinaram a competência para o juiz militar e esse antes de despachar abriu vistas para o Ministério Público então, ainda assim sem decisão judicial, o comandante-geral, destuando do seu comportamento peculiar, determinou a prisão de Alberisson sem qualquer motivação”, ressaltou.
MILITARES Foto: Aluisio Moreira/Sei A participação das Forças Armadas nas ações de segurança do Estado para assegurar a manutenção da ordem e da autoridade pública foi discutida, no sábado (10), durante reunião operacional, no Palácio do Campo das Princesas, entre o governador Paulo Câmara, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, e representantes do Estado Maior das Forças Armadas.
Composto por 3,5 mil soldados do Exército, Marinha e Aeronáutica, o efetivo federal destinado a Pernambuco reforçará, até o dia 19 deste mês, a segurança no Grande Recife, juntamente com os batalhões da Polícia Militar. “Foi uma medida de precaução importante e necessária.
Não podemos, de nenhuma maneira, colocar em risco a população.
Diante de movimentos ilegais que vimos ontem, eu tinha o dever, como governador, de alertar o Governo Federal”, destacou Paulo Câmara. “Os lançamentos da Polícia Milita, do Corpo de Bombeiros e das outras polícias estão normais em todo o Estado.
Nós estamos com funcionamento nos batalhões em todo Pernambuco e estamos dando esse reforço do Exército na RMR”, completou.
O Governo de Pernambuco solicitou, no último dia 6, ao presidente da Repúblico, Michel Temer (PMDB), autorização para emprego das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança, alegando não aceitar “o desrespeito à hierarquia e a quebra do código disciplinar da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar verificado nos movimentos ilegais realizados por associações das duas entidades”.
REIVINDICAÇÕES Foto: André Nery / JC Imagem Os policiais militares e bombeiros do estado estão trabalhando em esquema de operação padrão.
O método lento de trabalho foi a alternativa encontrada pelos servidores para pressionar o Governo de Pernambuco nas negociações das pauta de reivindicações.
Na pauta de reivindicações da categoria, está o reajuste salarial, o Plano de Cargos e Carreiras e mudanças no pagamento e contratação de agentes.
No documento, o reajuste sugerido varia de acordo com os cargos.
No caso dos soldados, que hoje recebem R$ 2.319,89 a proposta é de R$ 4.497,84, valor aproximado ao piso da categoria em Sergipe.
Os coronéis, que hoje recebem R$ 13.160,95, passariam a ter um salário de R$ 22. 498,82.
Outra mudança pautada é na forma do pagamento do salário.
A categoria pede que isso aconteça em forma de subsídio, e não mais de soldo, incorporando as gratificações.
Eles afirmam que, desta forma, fica garantido o recebimento de tais gratificações, que hoje podem ser cortadas sem maiores justificativas pelo estado.