Após a disputa acirrada de um segundo turno inédito em Caruaru, a principal cidade do Agreste pernambucano, por 53,15% dos votos, Raquel Lyra (PSDB) foi eleita a primeira prefeita do município, um cargo que o pai e o avô já ocuparam.
Deputado estadual como a adversária eleita, Tony Gel (PMDB) conseguiu 46,85%.
Mas a derrota não é só dele, e sim do grupo do governador Paulo Câmara (PSB), assim como a vitória da tucana pertence também ao ministro das Cidades de Michel Temer (PMDB), Bruno Araújo, e ao ex-ministro de Dilma Rousseff (PT) Armando Monteiro Neto (PTB).
LEIA TAMBÉM » Raquel Lyra comemora vitória em Caruaru com choro e abraços no pai » Tony Gel parabeniza Raquel e diz que ficou surpreso com resultado Sem apoio do grupo do governador Paulo Câmara para a candidatura de Raquel pelo PSB, ela e o pai, o ex-governador João Lyra, migraram para o PSDB no primeiro semestre, deixando transparecer uma mágoa com os socialistas.
Araújo, então, mergulhou de cabeça na campanha.
Foi a atos com a tucana nos fins de semana e chegou a fazer promessas através da pasta.
Eleita, conta com o ministro, entre outras ações, para transferir a Feira da Sulanca, uma das principais polêmicas da campanha.
Armando Monteiro, filiado ao PSDB de 1990 até 1997, também decidiu levar o PTB e os partidos aliados a pedir votos para a tucana.
O gesto ficou marcado nos últimos dias de campanha e foi registrado em uma foto que uniu as lideranças dos dois lados - além do Democratas, do ministro Mendonça Filho, da pasta da Educação.
Em conversas que já ultrapassaram os limites dos bastidores, se diz que o objetivo dos três grupos políticos está nas eleições de 2018, quando haverá uma vaga para a disputa ao Governo de Pernambuco, que o senador perdeu para Câmara há dois anos, e duas para o Senado.
Armando, Araújo e Mendonça são os nomes que mais se destacam.
Foto: Roberto Pereira Junior/Divulgação - Foto: Roberto Pereira Junior/Divulgação Foto: Roberto Pereira Junior/Divulgação - Foto: Roberto Pereira Junior/Divulgação Foto: Roberto Pereira Junior/Divulgação - Foto: Roberto Pereira Junior/Divulgação Com projetos próprios no Recife, o PSDB e o DEM foram convidados a deixar a gestão e entregar os cargos que tinham no governo estadual antes das eleições municipais.
Uma reaproximação em tom de independência veio com o apoio dos partidos a Geraldo Julio (PSB) no segundo turno após a derrota do tucano Daniel Coelho e a democrata Priscila Krause - ex-candidatos que se recusaram a subir no palanque do socialista na capital, mas acompanharam a movimentação dos partidos em Caruaru e também aparecem na tal foto com Raquel Lyra.
Há ainda uma aliança com o PSB, mas a união com Armando e os elogios de Araújo e Mendonça ao senador serviram como um forte sinal de alerta a Paulo Câmara.
O governador já havia sido derrotado com Jorge Gomes (PSB), o atual vice-prefeito que teve o nome “bancado” por Câmara e ficou apenas em quarto lugar no primeiro turno, com 11,62% dos votos válidos.
O peemedebista havia sido o primeiro colocado (37,1%), seguido pela adversária Raquel (26,08%) e do estreante que deu dor de cabeça aos dois, Delegado Lessa (23,94%).
Durante a campanha no segundo turno, porém, já se discutia que Tony Gel poderia não ganhar. » PSDB foi o partido que mais venceu no segundo turno no País » Eleição em Caruaru pode marcar nova aliança do PTB e PSDB para isolar socialistas em 2018?
O apoio oficial do grupo do Palácio a Tony Gel só veio dez dias depois do primeiro turno, seguindo uma aliança firmada com o PMDB do deputado federal Jarbas Vasconcelos no âmbito estadual há quatro anos, quando o líder peemedebista e o ex-governador Eduardo Campos (PSB) deixaram diferenças políticas históricas de lado.
No mesmo dia, Paulo Câmara já entrou no guia eleitoral do novo aliado, falando sobre segurança pública em um momento em que o Pacto pela Vida vai mal.
Na propaganda, o socialista garantia tornar exclusivo o 4º Batalhão da Polícia Militar para Caruaru, uma proposta de articulação tanto de Raquel quando do adversário.
Apesar do encaminhamento do grupo do governador, o vice-presidente da legenda, Luciano Vasquez, seguiu com Raquel Lyra - e é outro que aparece naquela foto dos novos aliados, com Armando, Araújo e Mendonça.
Em ato que teve a participação de Vasquez, João Lyra chegou a afirmar em discurso que Eduardo e o avô Miguel Arraes também estariam com Raquel.
O pai da candidata, na véspera da votação, ainda acusou o Governo do Estado de “abuso de poder policial” contra a campanha, o que foi negado pela Secretaria de Defesa Social.
Pesou contra Paulo Câmara ainda a dissidência dentro do PSB.
Raquel Lyra foi eleita pela primeira vez para um cargo público há seis anos, quando conseguiu uma vaga para a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) no mesmo ano que Tony Gel.
A prefeita eleita ficou dois anos no comando da Secretaria da Criança e da Juventude no segundo governo Eduardo Campos.
A agora tucana que já foi advogada do Banco do Nordeste, delegada da Polícia Federal e concursada da Procuradoria Geral do Estado, voltou ao Legislativo em 2013 e foi reeleita no ano seguinte, deixando a vaga dois anos depois para assumir a prefeitura.
Tony Gel fica na Casa.
Permanece também o alerta a Paulo Câmara diante da movimentação de Armando e daqueles que podem virar adversários nas próximas eleições.