O Beco da Marinete, no bairro de Rio Doce em Olinda, não tem posto de saúde.
Essa constatação usada pelo Professor Lupércio (SD) como uma pegadinha para afirmar que o seu opositor neste segundo turno, Antônio Campos (PSB), não conhecia a cidade poderia ficar só no campo da brincadeira.
No entanto, outras constatações são tristemente encontradas. É um lugar esquecido, como disseram tantos dos ouvidos na tarde desta terça-feira (18).
Entrada do Beco da Marinete.
Foto: Marcos Oliveira - Entrada do Beco da Marinete.
Foto: Marcos Oliveira Lixo no Beco.
Foto: Marcos Oliveira - Lixo no Beco.
Foto: Marcos Oliveira Frente da antiga creche de Lupércio.
Foto: Marcos Oliveira - Frente da antiga creche de Lupércio.
Foto: Marcos Oliveira Pombos comem resto de lixo nas proximidades do Beco.
Foto: Marcos Oliveira - Pombos comem resto de lixo nas proximidades do Beco.
Foto: Marcos Oliveira Dona Marinete atendendo na mercearia.
Foto: Marcos Oliveira - Dona Marinete atendendo na mercearia.
Foto: Marcos Oliveira Jéferson Soares e Caio Nascimento criticam a falta de área de lazer.
Foto: Marcos Oliveira - Jéferson Soares e Caio Nascimento criticam a falta de área de lazer.
Foto: Marcos Oliveira A dona de casa Marília Gonçalves mora desde criança no local.
Foto: Marcos Oliveira - A dona de casa Marília Gonçalves mora desde criança no local.
Foto: Marcos Oliveira Frente da mercearia da Dona Marinete.
Ela tinha ido dar um cochilo após a entrevista.
Foto: Marcos Oliveira - Frente da mercearia da Dona Marinete.
Ela tinha ido dar um cochilo após a entrevista.
Foto: Marcos Oliveira Bandeiras de Antônio Campos no teto da casa de Dona Marinete.
Foto: Marcos Oliveira - Bandeiras de Antônio Campos no teto da casa de Dona Marinete.
Foto: Marcos Oliveira Lixo nas proximidades do Beco.
Foto: Marcos Oliveira - Lixo nas proximidades do Beco.
Foto: Marcos Oliveira Entulho e metralha na Vila Olímpica.
Foto: Marcos Oliveira - Entulho e metralha na Vila Olímpica.
Foto: Marcos Oliveira Não tem saúde, segurança, saneamento.
Equipamento de lazer?
Só a degradada Vila Olímpica que fica próxima e acumula metralha de uma obra que nunca tem fim - como muitas outras no eterno canteiro de obras que é a cidade - à noite sendo usada para o lazer do crime.
Não existe o mínimo para atender a uma população carente que é privada até de “olindense” ser, pois existe dúvida nos órgãos públicos se a localidade é de Paulista ou da Marim dos Caetés.
Se falta atenção, sobra lixo, água suja se acumula nas ruas, agora acompanhada de uma expectativa cansada de que essa nova fama repentina traga algum avanço para o local que já figura há anos nas páginas policiais.
LEIA MAIS: Antônio Campos volta à casa de Marinete e acusa Lupércio de mentir Marinete, que tinha sonhado com Antônio, a indica apoio a Lupércio Colocar “Beco da Marinete” no Google, tirando as matérias recentes com os candidatos e um anúncio de um duplex por R$ 35 mil, é encontrar um local que assusta pela quantidade de apreensões de drogas e pessoas presas, sobretudo, por tráfico. “Cinco detidos com drogas em bar de Rio Doce”, diz uma. “Polícia apreende 192 pedras de crack”, afirma outra.
No meio, a população se ressente. “Aqui tem muito trabalhador, muita família, gente de bem, mas tem coisa errada.
Vocês estão aqui agora, mas à noite é venda de droga e não fazem nada”, disse a autônoma Severina Silva, de 39 anos e que vive há duas décadas no local.
O Beco da Marinete é mais um dos tantos que existem na região.
O carro só consegue entrar até certo ponto, uns 30 metros; o caminho vai se estreitando, como também vai a percepção - ou falta dela – da presença do poder público.
Se na via principal ainda passa carro da Prefeitura recolhendo o lixo, embora não totalmente, mais para dentro pouco se vê.
Caminhando para o fim, entre casas e casebres, lixos e esgoto, é possível encontrar pessoas consumindo drogas em becos dentro do beco, sem se incomodar com outras que passam por lá.
Mas olhando com desconfiança para os que chegam de fora.
Um dos maiores problemas apontados pelos moradores surpreende se for observada a disputa entre Antônio e Lupércio pelo voto da mais famosa moradora do local, a Dona Marinete.
Quem mora lá não sabe se está em Paulista ou Olinda. “Todo mundo que tem filho pequeno aqui sofre muito.
Você podendo levar o menino para o posto de saúde da Beira Mague que fica aqui perto e não pode, pois falam que a gente é de Paulista, mas na hora de pedir voto e chegar as contas todo mundo aqui é de Olinda”, reclama a autônoma Luciana Ferreira, há 25 anos moradora.
O pedreiro Cássio Nascimento, de 21 anos, e o barman Jéferson Soares, 19, criticam também a inexistência de locais para lazer. “Se você for na Vila Olímpica, vai ver que está abandonada, se vier à noite, vai ver que virou ponto de droga”, aponta Cássio.
A região é de mangue, quando chove alaga; quando não, tem merda boiando.
A reportagem esteve no local em um dia de sol forte, mas tinha esgoto acumulado em vários pontos.
A frente da mercearia de Dona Marinete é um exemplo. “Prefeito eu nunca vi e estou cansada de promessas, promessas, promessas sem nada mudar”, diz ela em um raro momento em que a fala suave dá lugar ao tom mais firme.
A FAMOSA DONA MARINETE Dona Marinete é famosa.
Mas muito antes do debate na Rádio Jornal em que Lupércio fez a pegadinha.
Ela chegou no Beco quando não era Beco.
Quando as ruas não eram ruas.
Quando era tudo um mangue só.
Morava em casa, que poderia ser um lar, mas não uma casa. “Eu cheguei aqui há 40 anos, morava com meus três filhos, depois adotei mais um que estava só aí no mangue”, conta ela, antes de descrever a habitação: “Era de madeira e papelão, não tinha porta, cômodos, era muito complicado.
Só tenho a agradecer a Deus por ter conseguido criar bem todos os meus filhos.” O repórter chegou às 13h47 na casa dela.
Na frente, tem uma mercearia que vende de veneno contra barata até sorvete de potinho.
Como ela tem o hábito de dormir toda tarde, após o almoço, o local estava fechado, mas uma movimentação foi possível ver por trás de um dos vidros da porta de entrada.
A campanhia foi tocada na esperança de que o seu som fosse mais alto do que o latido de um cachorro na rua para um caminhão de manutenção da Celpe ou de uma música de Aviões do Forro tocada em uma bicicleta entre os anúncios das ofertas de uma loja de móveis.
A porta foi a aberta pela metade, com uma mulher com uma feição não muito convidativa do outro lado. “A senhora tá é famosa, Dona Marinete.
Eu sou Marcos Oliveira, repórter do NE10 do Sistema Jornal do Commercio.
Gostaria de falar com a sua sabedoria. É possível?
Me diga que sim, por favor”, disse o repórter.
Ela Sorriu.
Sorriu não, deu uma gargalhada, das que estão nos vídeos feitos pelos candidatos, que se mostra várias vezes mesmo que o diálogo seja curto: “Olhe, essa história…” De braba, carrancuda, ela não tem nada.
Tem é de gente simples, que só precisa confiar um pouco no interlocutor para falar que só ela.
Gente que lutou para criar os filhos e viu muita coisa nesses 24 anos em que tem um olho nos produtos do fiteiro e outro nos clientes e nas pessoas que passam na rua em frente ao estabelecimento. “Antes era bem menor, a gente foi ampliando com o tempo.
Pela graça de Deus”, recorda a evangélica da Assembleia de Deus.
Separada há décadas do marido, morador de Maranguape, ela se orgulha do rumo que os filhos tomaram, repetindo sempre que todos se formaram em cursos universitários.
Sobre a fama ela é modesta, mas gosta dos paparicos.
Enquanto falava, ainda do terraço com o repórter, a dona de casa Marília Gonçalves, 23 anos, chegou para comprar sorvete.
Marinete abriu a porta da mercearia e aí eram pessoas diversas passando, mas com o mesmo cumprimento, “Dona Marinete, boa tarde!”, para então vir a resposta que deu a entrada para a segunda parte da entrevista: “Boa tarde.
E lembre, é 40.” Como se precisasse.
As paredes têm adesivos de Tonca, como o socialista também é conhecido, e duas bandeiras amarelas enfeitam o telhado da casa.
Marinete se transformou em cabo eleitoral de Antônio Campos e uma crítica do Professor Lupércio, que segundo ela não foi honesto na gravação de um vídeo.
Do socialista, ela só tem coisa boa para contar. “Ele veio na minha casa, “Ele comeu uma banana, entrou no meu banheiro, fez uma oração na minha casa.
Disse que era uma casa abençoada”, relatou ela, para ouvir um “Ô glória!”, de Marília Gonçalves, que frequenta a mesma igreja de Marinete. “Ele é muito humilde e não prometeu nada, mas eu sei que vai fazer”, afirma a moradora famosa.
LEIA MAIS: Antônio agora acusa Renildo de colocar máquina a favor de Lupércio Lupércio diz que é faixa marrom de karatê e mostra golpes em Olinda De Lupércio, as lembranças não são boas.
De acordo com a comerciante, ela o atendeu por educação, mas em nenhum momento indicou apoio a ele. “Ele veio beijar minha cabeça e eu deixei, mas não gostei, piorou com o fato de ter usado isso como se eu votasse nele”, afirmou.
O candidato já teve uma creche dentro do Beco, que também é criticada por pessoas que moram lá pelo pouco tempo em que ficou instalada, pouco mais de dois anos.
Embora algumas entendam ter sido o equipamento importante em uma comunidade que se ressente da falta de tudo.
Após falar com Marinete, como se a benção dela legitimasse a presença da reportagem, os detalhes do Beco foram sendo conhecidos e visitados.
Uma hora e meia depois, 11 pessoas entrevistadas, a maioria pedindo reserva, foi a hora de se despedir dela, a famosa, que passou esse tempo atendendo clientes ou vizinhos que iam apenas para conversar, que estranhavam ela ter aberto o fiteiro naquela hora. “Só abri para o repórter mesmo, já estou indo dormir”, disse algumas vezes.
E foi.
Enquanto o carro se afastava, Dona Marinete se despediu de um senhor idoso e uma adolescente que estava com o irmão bebê no colo, fechou a porta e foi tirar o seu cochilo.
Talvez para ter outro sonho desses em que viu Antônio se aproximar usando adereços de uva, identificados por ela como sinal de prosperidade.