A entrevista estava marcada para “as 14:00 horas, em ponto, se possível”, como havia indicado a assessoria, talvez conhecendo o hábito de atraso que os repórteres, pelas tantas pautas, têm.
Mas, neste caso, após deixar uma companheira e um fotógrafo no Hospital do Câncer para uma matéria sobre o Outubro Rosa, o repórter chegou 27 minutos antes do combinado para conversar com Severina Conceição da Silva ou como consta na urna eletrônica: Ceça Silva (PHS).
A professora de matemática e militante social que compõe a chapa com Antônio Campos (PSB) e disputa à Prefeitura de Olinda. Às 13h44 ela chegou, passo acelerado, dizendo que perderia outro compromisso, dando bom dia a todos, com o sorriso característico: “Vamos começar?” O vice do Professor Lupércio (SD), o advogado Márcio Botelho (SD), foi procurado mas ainda não tinha encontrado tempo na agenda.
Ceça, ao lado do esposo e da família de Antônio, iniciou o domingo (2) na Igreja Nossa Senhora do Amparo.
Foto: Divulgação - Ceça, ao lado do esposo e da família de Antônio, iniciou o domingo (2) na Igreja Nossa Senhora do Amparo.
Foto: Divulgação Poste no Lardo do Amparo, onde fica o escritório político de Antônio, com adesivos de campanha.
Foto: Marcos Oliveira - Poste no Lardo do Amparo, onde fica o escritório político de Antônio, com adesivos de campanha.
Foto: Marcos Oliveira Ceça ao lado do marido, Algério Nossa Voz.
Foto: Divulgação - Ceça ao lado do marido, Algério Nossa Voz.
Foto: Divulgação A candidata diz que será atuante principalmente nas causas das mulheres e das crianças.
Foto: Marcos Oliveira - A candidata diz que será atuante principalmente nas causas das mulheres e das crianças.
Foto: Marcos Oliveira Ceça Silva passando pó antes de gravar o vídeo sobre o seu “Lado B”.
Foto: Marcos Oliveira - Ceça Silva passando pó antes de gravar o vídeo sobre o seu “Lado B”.
Foto: Marcos Oliveira Caminhada no fim de setembro.
Reta final do primeiro turno.
Foto: Marcos Oliveira - Caminhada no fim de setembro.
Reta final do primeiro turno.
Foto: Marcos Oliveira Carreata em setembro.
Foto: Divulgação - Carreata em setembro.
Foto: Divulgação Em visita à Assembleia de Deus da PE-15.
Foto: Divulgação - Em visita à Assembleia de Deus da PE-15.
Foto: Divulgação O único pedido feito por Ceça antes da conversa, na tarde abafada da quinta-feira (6), no escritório político de Antônio, no Amparo, não foi respeitado algumas vezes pelo jornalista. “Me chame de ‘você’, chamar de ‘senhora’ não, sem essa formalidade toda”, solicitou, num misto de seriedade e gentileza.
Mas educação de infância é difícil de tirar em 19 minutos de entrevista.
Em vários momentos foi o “senhora” que saiu, tendo como resposta, inicialmente, a correção da entrevistada - “você” - e depois algo mais voltado para uma impaciência, um olhar de repreensão, ainda que gentil.
ANTÔNIO TAMBÉM “CONTA PIADA” Se Tonca, apelido de Antônio, é conhecido pelo seu jeito mais formal, fala pausada e termos cultos que, por vezes, o tornariam melhor amigo das mesóclises do presidente Michel Temer (PMDB), Ceça vem no sentido contrário.
Do alto – ou baixo, segundo ela - dos seus 1,65 metros, a olindense, nascida de parteira há 45 anos, no bairro de Peixinhos, sorri com mais naturalidade.
O que contrasta também com o sorriso dele, que, embora esteja mais aberto ultimamente, ainda lembra o de uma criança que ainda está aprendendo a mostrar os dentes em sinal de alegria. “Antônio é perfeccionista, gosta de tudo bem feito.
Para ele, não é porque é para pobre que tem que ser de qualquer jeito.
Tudo tem que ter muita qualidade”, afirmou, quando perguntada sobre esse jeito mais fechado. “Mas ele é uma pessoa normal, que conta piada”, garantiu sorrindo, mas sem exemplificar uma.
Porém, na reunião com a juventude realizada na quarta-feira (5), Tonca contou uma, que, pela alegria dele ao término, é do tipo de humor que o diverte.
Quando falou sobre a necessidade de disponibilizar internet para os olindenses: “Uma pessoa chegou a um enterro e a primeira coisa que fez foi perguntar qual era senha da wi-fi, antes mesmo de perguntar pelo defunto”, falou, recebendo alguns sorrisos de volta.
No entanto, quem parecia estar ouvindo pela primeira vez era o próprio, que mostrou os dentes mais que todos.
Foi esse o primeiro momento, segundo a memória do repórter, que ele não sorria como uma criança forçada pela mãe durante a formatura do ABC, mas com naturalidade.
Talvez a dificuldade, nesse sentido, não seja rir, mas a timidez com a câmera, com o julgamento que será feito depois.
Mas isso é outra história, e este perfil é sobre uma pessoa que não tem esse problema.
Muito pelo contrário.
LEIA MAIS: Antônio Campos e João Campos aparecem juntos, em Brasília Irmão de Eduardo Campos vai para o segundo turno com Lupércio em Olinda Antônio Campos é o candidato mais rico em Olinda Na convenção partidária que homologou a coligação Muda Olinda, em 31 de julho, a alegria de Ceça era evidente.
Enquanto nomes como o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB) falava, ela sorria, acenava, pulava e indicava com os dedos o “4”, referente ao 40 do PSB.
SORRIA, ACENAVA, PULAVA…
Quando foi o presidente estadual do partido, Sileno Guedes, Ceça mais uma vez sorria, acenava, pulava…, repetindo a sequência a cada fala.
Na vez dela, a mesma pessoa que sorria, acenava, pulava… foi a que passou a fitar os presentes com um olhar mais seco, uma fala mais dura, de quem entende estar empoderada por uma missão, que se vê com autoridade por há 16 anos administrar a ONG Associação Nossa Voz em Ação.
Localizada, inicialmente, só no bairro de Peixinho, depois levada para outras localidades. “Olinda está abandonada, o Muda Olinda veio para transformar a realidade tão dura enfrentada, sobretudo, pela população mais pobre.
O que mais dói é a indiferença da atual administração”, defendeu ela.
Logo depois voltou com mais sorrisos, acenos e pulos, enquanto era Tonca quem discursava na sua formalidade de ser, com o cabelo penteado de forma tão fixa, tão colado junto à cabeça, que parecia representar o estado de tensão do candidato.
EVANGÉLICA, DE FAMÍLIA E DE PROJETOS SOCIAIS A ONG, que requeria tempo integral da candidata – ela pediu licença durante a campanha –,atende pessoas de todas as idades em diversas áreas, como dança, cursos profissionalizantes e ações voltadas para a terceira idade.
Além de tratamentos como fisioterapia e terapia ocupacional. “Saúde não é só a ausência de doença, mas um bem estar psicológico, físico e mental.
Era inicialmente voltado à terceira idade.
Mas quando o número de atropelados na Presidente Kennedy aumentou, nós passamos a atender aos acidentados e agora atendemos a cidade toda.
Tudo de graça”, explica.
Ao falar dos trabalhos realizados pela instituição, o rosto de Ceça perpassa do sorriso característico quando se refere a eles, para o olhar mais firme, como de momentos da sua fala na convenção.
Com as mãos pontuando as palavras quando discorre sobre as necessidades que o “povo não tem atendidas pela atual administração.” » Antônio Campos indica apoios e diz que Lupércio é “continuidade de Renildo e Luciana” Evangélica da Assembleia de Deus, presidida pelo Pastor Ailton José Alves, uma das mais rígidas quanto aos usos e costumes, Ceça é casada há 20 anos com o vereador, reeleito agora pela segunda vez, Algério Nossa Voz (PHS). “Ele foi também o meu primeiro namorado”, recorda.
Embora seja isso que pareça, o nome adotado pelo seu esposo não é por ser ele locutor de rádio ou ter necessariamente uma bela voz, como o repórter pensou e perguntou.
Embora já tenha ouvido o parlamentar discursar, sem notar um poder vocal marcante - ela discursa melhor que ele. “Mas, diante dos problemas da população, por ele ser a voz te todos, a nossa voz”, definiu Ceça.
Mãe de Lilian, 20 anos, e Algério Filho - o Algerinho - de 16, a candidata diz valorizar, assim como o evangelho, o papel que a família tem na sua vida e na sociedade.
Seriam essas definições trazidas nestes três últimos parágrafos que fizeram ela ter sido escolhida para ocupar a cadeira de vice.
Ou melhor, como ela coloca: “Fui eu que escolhi Antônio”. » Antônio Campos explica que sobrinho não vai a Olinda por causa de Paulo Câmara “Quando Antônio anunciou que seria candidato, e eu fiquei sabendo em casa, já comentei: vou votar em Antônio Campos”, frisa a candidata.
Ela discorre que o socialista fez uma pesquisa qualitativa perguntando qual seria o melhor perfil para ser sua vice.
O retorno era que deveria ser uma mulher, “de família, mãe, que sentisse o sofrimento e a dor de não ter atendimento em postos de saúde, por exemplo, que tivesse um trabalho social relevante e já prestado na cidade”.
E que fosse evangélica.
Muitos predicados que, segundo ela, teve uma resposta de pronto do candidato: “Eu conheço essa mulher.
Essa mulher é Ceça”, teria dito o socialista.
Há anos eles se conhecem por meio das ações sociais que ambos desenvolvem.
RELIGIÃO E POLÍTICA Sobre o fato de ser evangélica em uma cidade que tem um dos carnavais mais famosos do Brasil, além de uma cultura religiosa múltipla, com orixás, santos, saias longas e coques das evangélicas habitando o mesmo Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, Ceça diz que não “se deve misturar religião e política” e que a administração deve ser pensada para todos, sem discriminação.
No entanto, ela define ser o voto “cristão o voto do século”. “As igrejas fazem um trabalho social muito importante na cidade, não importa se é católica ou evangélica.
Hoje o voto cristão é um voto que garante a nova política. É um voto que a gente chama de limpo”, coloca. » Antônio Campos diz que não aceitará apoio de Luciana Santos e Renildo Calheiros Se colocando como uma futura vice atuante, nada figurativa, ela ainda não definiu como irá atuar numa possível administração socialista na Marim dos Caetés. “A gente quer dar um choque de gestão, rever a quantidade grande de cargos comissionados, vamos enxugar.
Iremos atuar juntos.
Agora, eu sou mulher, vou trabalhar na saúde da mulher; sou mãe, vou olhar para as crianças, a questão da primeira infância.
Sou do movimento social, a questão das ONGs está esquecida na cidade”, garante.
Assumidamente vaidosa, quando soube que ia gravar um vídeo sobre o seu “Lado B” em que responderia questões não relacionadas ao campo político, a candidata pediu para pentear o cabelo e solicitou pó compacto à assessora. “A minha pele tá oleosa?”, perguntou, para ouvir um “não, mas se quiser eu vou buscar”, da interlocutora.
Mesmo assim, ela tirou um da bolsa e passou antes de responder às perguntas.
Toda preparação foi até rápida, 4 minutos.
Disputando pela primeira vez um cargo eletivo, ela disse mais gostar das caminhadas e do contato com o povo.
O que menos gostou foi do “pouco tempo” do primeiro turno, mas que será compensado com mais andanças, apresentação e detalhamento das propostas.
Perguntada se não vai faltar material para mostrar nas centenas de inserções e nos dois programas maiores, de segunda a sábado, de 10 minutos que a cidade de Olinda está tendo, ela diz que não.
Abre o sorriso, olha para o jornalista, para a assessora, que parecia já saber a resposta. “É muito tempo, mas nós temos muito o que mostrar”, frisou, antes de soltar o que motivou os olhares e o sorriso: “E eu falo muito, você já percebeu que se deixar eu vou falando, falando, sem parar…”