Com 15.357 votos, a vereadora da bancada evangélica Michele Collins (PP) foi reeleita no Recife com a maior votação na capital pernambucana.

Polêmica, a esposa do deputado estadual Pastor Cleiton Collins (PP) virou personagem de memes em protesto contra a sua eleição e teve novamente um vídeo viralizado em que afirma, na tribuna da Câmara Municipal, que a mulher deve ser submissa ao homem.

Diante do burburinho nas redes sociais, disse que foi mal interpretada e que é alvo de perseguição por ser religiosa. “Na verdade, eu sou uma mulher altamente à frente do meu tempo”, defendeu três anos depois de dizer na Casa: “Está errado também a mulher, porque ela conquistou seus direitos, seus espaços, deixar de ser submissa ao homem.

O homem está ainda acima da mulher, ainda concordo com isso”.

LEIA TAMBÉM » Veja a lista dos vereadores eleitos para a Câmara do Recife Este ano, depois de Cleiton Collins apresentar um projeto de lei para limitar os cachês pagos pelo Governo de Estado em R$ 200 mil, Michele Collins apresentou um projeto quase igual para o Recife.

Muito se fala sobre a influência do marido no mandato dela.

Para a vereadora, no entanto, a interferência acontece como uma parceria. “Por que eu, enquanto esposa dele há 23 anos, não vou ter ele como referencial?”, questionou, frisando que o pastor está no seu quarto mandato. “Copio os posicionamentos, o jeito, porque eu o admiro, confio.

Mas ele não diz ‘você não pode fazer isso, não pode falar’, nisso ele jamais interfere.

Eu que pergunto: ‘Meu filho, o que você acha?’ Ele me dá muita liberdade, me apoia”, disse. “Eu sou uma mulher empoderada e tenho o apoio do meu marido em tudo o que eu faço.” Michele Collins com o marido, o pastor Cleiton Collins (Foto: reprodução do Facebook) Depois de ser a mais votada no Recife, Michele Collins já pensa nas próximas eleições estaduais, daqui a dois anos.

O projeto do partido ainda está em discussão, mas ela deve tentar uma vaga na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), onde o marido está hoje. “Sinto que sou vocacionada para isso”, afirma a vereadora que vai para o segundo mandato no próximo ano.

Enquanto ela foi eleita no Recife, o pastor ficou apenas em quarto lugar na disputa pela prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana, e continuará como deputado estadual. » PSDB e DEM decidem apoiar Geraldo Julio no segundo turno » Após apoio a Geraldo, PT diz que PSDB e DEM “têm aversão às causas do povo” Para o próximo mandato na Câmara Municipal, os planos são, além de tentar assumir um papel de protagonismo na bancada cristã e na frente parlamentar da família e de defesa da vida, fiscalizar o cumprimento e a votação dos projetos de lei de sua autoria.

Entre eles, a vereadora cita o projeto de lei 403/2013, sancionado em julho, para a criação do Programa de Apoio às Vítimas de Violência. “A mulher vítima de violência tem que ser protegida, tirada do espaço onde está vulnerável com os vídeos.

Sou uma mulher que pensa em políticas públicas.

Sou totalmente a favor das mulheres em todos os sentidos, das mulheres no poder”, disse.

Michele Collins afirmou ainda que a Câmara “é um espaço basicamente masculino” e que pelo menos uma das seis mulheres eleitas deveria ter garantido um espaço na Mesa Diretora.

Em relação à frase sobre a submissão em relação aos homens, se defendeu: “Usei uma frase bíblica, não quis dizer isso como forma de impor a ninguém”. “Falei submissão no sentido de acordo entre esposo e esposa.

Nenhum casamento dá certo se a esposa não ouvir.

Há o papel do homem e o papel da mulher no casamento.

Me tornei hoje referência de uma mulher”, disse. » Força evangélica leva religiosos ao segundo turno em Jaboatão dos Guararapes Mas essa não é a única polêmica após a eleição.

Frases como “Mais Michelle Melo (cantora de brega pernambucana), menos Michele Collins” se espalharam na internet. “É um grupo pequeno que deve estar chateado porque eu ganhei.

Por eles eu só peço que Deus os abençoe”, rebate a vereadora.

O grupo que a critica, porém, não é restrito.

Há muitos militantes LGBT e feministas, por exemplo, devido aos posicionamentos dela.

Entre as publicações nas redes sociais, está uma que questiona o nome de Michele Collins. “Daize Gonçalves é o verdadeiro nome da vereadora eleita como Michele Collins.

Repassem essa informação até ela explicar porque ela pode ter nome social e travestis ou transexuais não”, afirma-se no Facebook depois da eleição sobre a vereadora que criticou na Câmara a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) por causa do decreto que reconhece uso do nome social de travestis e transexuais.

Daize Michele de Aguiar Gonçalves alega que o pai do seu marido - cujo nome completo é Cleiton Gonçalves da Silva - é libanês e tem o sobrenome. “A gente não mudou nos documentos por falta de tempo mesmo.

As pessoas estão mal informadas.

Sofro perseguição, bullying, é um bombardeio mesmo”, queixa-se a vereadora. » Câmara do Recife tem polêmico projeto de lei para proibir diversidade sexual nos livros.

Veja a opinião dos candidatos » Polêmica sobre questões de gênero pode deixar alunos do Recife sem livros “Eu tenho feito meu trabalho.

Apesar de ser baseado nos meus princípios, é independente de religião.

Tem que ser correto, justo, mas ao mesmo tempo se posicionar.

Se você tem um valor, uma crença, tem que se posicionar. É isso que eu tenho feito, espero que as pessoas que estão chegando façam também”, defendeu a representante da bancada evangélica que tem atuado, por exemplo, pelo projeto de lei 26/2016, que quer proibir o uso de livros didáticos que tenham identidade de gênero ou diversidade sexual no conteúdo - uma proposta semelhante já foi derrubada pela Comissão de Constituição e Justiça da Alepe, considerada inconstitucional, e é contestada por pedagogos. “Sou mal compreendida pelo fato de ser evangélica.

Eu não trago Deus para discussão.

O meu Deus é na minha fé, é na minha igreja”, disse, contudo.

Michele Collins também se posiciona contra o casamento gay. “Mas não sou contra a união.

O que me incomoda é quando querem impor leis sobre isso, fico preocupada demais.

Eu tenho projeto de lei que já sei que vai ser polêmico, para proteger os líderes religiosos de ter que realizar casamento que não concorde.

Isso também é respeito.

A gente respeita que eles querem viver juntos, não tem problema nenhum.

Se você se acha família, amém”, afirmou a vereadora. “É o jeito que você se compreende, não sou aquela radical.

Não sou contra o Estatuto da Família, não.

Só não sou radical em alguns pontos do que diz o projeto”, disse, criticando o projeto de lei do deputado federal Anderson Ferreira (PR), que derrotou o marido dela em Jaboatão.