Seja por causa do expediente em Brasília nos dias úteis ou por outros motivos, os quatro ministros pernambucanos no governo Michel Temer (PMDB) não estiveram tão presentes fisicamente nas campanhas no seu berço eleitoral.
Agora, três dos nomes no primeiro escalão do presidente e seus aliados nas maiores cidades do Estado não têm tantos motivos para comemorar e amargam algumas derrotas.
As dificuldades não estão, porém, ligadas a essa participação mínima. “A disputa local é uma apreciação pessoal, uma disputa que diz respeito muito mais a propostas e o posicionamento local”, defende Mendonça Filho, da Educação.
O democrata participou de dois atos de rua da candidata apoiada por ele no Recife, a deputada estadual Priscila Krause, que acabou a eleição com apenas 5,43% dos votos, em quarto lugar. “Eu considero Priscila uma excelente candidata, está cumprindo um bom papel nessa disputa, mas ela tem a deficiência de um tempo muito pequeno, 38 segundos apenas, e a estrutura dela é modesta frente aos demais concorrentes”, avaliou o ministro uma semana antes da votação.
Mendonça também apoiou o deputado federal Anderson Ferreira (PR), conhecido nacionalmente por ser autor do polêmico Estatuto da Família, em Jaboatão dos Guararapes, cidade vizinha à capital.
O parlamentar conseguiu 34,28% dos votos e está no segundo turno com Neco (PDT), que ficou em segundo com 30,09%.
Mendonça Filho participou de caminhadas com Anderson Ferreira (Foto: Mateus Brito/Divulgação) O colega dele à frente da pasta de Minas e Energia, ministério que tem grandes empresas - e os problemas delas - como a Petrobras e a Eletrobras, Fernando Filho foi o único que acompanhou uma vitória no primeiro turno: seu irmão, o deputado estadual Miguel Coelho (PSB), ganhou com 38,83% dos votos em Petrolina, a cidade mais importante economicamente do Sertão.
A figura do ministro não pode, contudo, ser considerado decisivo nesse processo, fato que ele mesmo reconhece. “Acho que não é só o fato do ministro, é o fato de a gente ter reunido um amplo palanque lá, ter o apoio do governo do estado, do governo estadual, deputado, senador.
O peso político tem sido importante.
Petrolina sabe o que é usar a força política a favor dela, Petrolina é o que é muito por conta da representatividade política que ela tem”, afirma Fernando Filho.
Foi mais decisiva na vitória de Miguel a influência do clã dos Coelho, representada pelo pai do ministro e do prefeito eleito, o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), e por Guilherme Coelho (PSDB), primo dele.
A família tinha relações políticas rompidas desde 1986, mas voltou a se reunir este ano no projeto socialista da cidade de aproximadamente 337 mil habitantes a 722 quilômetros da capital.
Recife Se em Petrolina Fernando Filho deu o “suporte possível” ao irmão em Petrolina, não interferiu na campanha do prefeito Geraldo Julio (PSB) à reeleição no Recife.
O socialista ficou com 49,34% dos votos e vai para o segundo turno com o ex-prefeito João Paulo (PT), que acabou com 23,76%.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, cujo partido, o PPS está na coligação de Geraldo Julio, também não se colocou na disputa na capital. “Estou muito voltado para Brasília.
Lembre-se que tive Olimpíada e Paralimpíada”, justifica. “Se eu fosse deputado federal, eu teria muito mais possibilidade, muito mais tempo e muito mais desenvoltura para isso.
Como ministro, ainda mais ministro da defesa, isso me engessa muito, me reduz muito”, afirma ainda, alegando que na Câmara há o ‘recesso branco’ favorecendo a participação nas campanhas municipais.
O caso de Jungmann ainda tem outros agravantes - mesmo que não os cite.
Primeiro não teve um bom desempenho nas urnas quando se candidatou à Prefeitura do Recife, em 2004, ficando com apenas 3,6% dos votos.
Foi eleito vereador, mas, há dois anos, ficou como suplente e assumiu o cargo.
Além disso, se agora é aliado do prefeito, foi escolhido como vereador para a oposição, já que pedia votos para a chapa de Daniel Coelho (PSDB), segundo colocado naquela eleição e terceiro nesta, com 18,59% dos votos. “Eu acho apenas o seguinte: nós fomos eleitos para a oposição e ficamos nela.
Agora trata-se de um outro pleito, eu não estou desconsiderando o voto do eleitor que nos colocou nessa posição.
Da nossa parte não há qualquer restrição, qualquer desconforto”, assegura, entretanto, o ministro.
O aliado de Daniel Coelho no governo Temer é Bruno Araújo, da pasta das Cidades.
O ministro não esteve com o tucano na campanha muitas vezes.
Não fez promessas para a capital.
Mas apareceu no guia eleitoral na última semana afirmando que o parlamentar estaria preparado para assumir a prefeitura. “Acho que eu tive um papel importante no sentido de consolidar a escolha de Daniel no momento em que havia uma pressão do PSB em torno do presidente nacional do PSDB para montar uma aliança com o PSDB aqui”, lembra Bruno Araújo.
O governador Paulo Câmara (PSB) pediu os cargos dos tucanos e dos democratas na gestão estadual em maio, no dia em que o processo de impeachment foi aberto no Senado, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi afastada e um dia antes de os ministros tomarem posse ainda para o governo interino.
Olinda O PPS de Raul Jungmann até tinha um candidato em Olinda, mas Bruno Araújo foi o único a ir à cidade vizinha ao Recife e defender a candidata do seu partido, Izabel Urquiza, que ficou com em terceiro lugar, com 18,40% dos votos agora - menos do que os 40,4% que havia conseguido em 2012.
A tucana chegou a usar o nome do ministro em debate, frisando que contaria com a ajuda do correligionário através da liberação de recursos para resolver um dos maiores problemas na mobilidade do município, a Avenida Presidente Kennedy. “Eu tenho andado com ela, visto obras de infraestrutura importantíssimas que estão precisando tomar um outro ritmo.
Parte delas são obras do Ministério das Cidades, a exemplo do Canal do Fragoso, a Via Metropolitana.
Nós estamos dando uma atenção para viabilizar o mais rápido possível a liberação de recursos para que o Governo do Estado possa retomar a construção de vias. É um município que, seja quem for o prefeito, não consegue entregar o mínimo de serviços sem um nível de ajuda, de parcerias, com o Governo do Estado ou com o Governo Federal.
Olinda tem uma arrecadação tributária per capita muito baixas e grandes dificuldades estruturais”, afirmava Bruno Araújo a uma semana do pleito.
Questionado se Temer colocou limites aos ministros que estavam em campanha, o pernambucano respondeu que havia orientações gerais.
Diz-se que o peemedebista pediu apenas cautela para evitar rachar a base aliada. “Há orientações gerais com relação a isso.
Digamos que nos estados onde o ministro exerce política, sobretudo aqueles que têm mandato, há uma certa compreensão de que há uma regra que consiga ajustar o entendimento.
Mas o maior cuidado é quando nós saímos para outros estados.
De qualquer forma, sempre é algo sensível para administrar”, revelou o ministro tucano.
Caruaru Bruno Araújo esteve ainda com a deputada estadual Raquel Lyra, filiada ao PSDB junto com o pai, o ex-governador João Lyra Neto, para disputar a Prefeitura de Caruaru, no Agreste.
Os Lyra eram do PSB, mas o governador Paulo Câmara “bancou” a indicação do socialista Jorge Gomes na cidade.
A eleição por lá acabou indo para o segundo turno entre Tony Gel (PMDB), primeiro colocado com 37,04% dos votos, e Raquel Lyra, com 26,08%.
O candidato do PSB ficou só em quarto lugar, com 11,64%.
Bruno Araújo com Raquel Lyra em Caruaru (Foto: Divulgação) Caruaru foi outra cidade onde o ministro usou a pasta para fazer promessas. “Vamos dividir uma tarefa: vocês elegem Raquel e eu cuido das obras que vêm para Caruaru.
No dia seguinte à posse festiva, quero a prefeita em Brasília, levando projetos de habitação popular, de saneamento e de obras que melhorem a vida das pessoas”, chegou a afirmar após uma caminhada no bairro Caiucá.
Raquel disse que pretende contar com ele na transferência da Feira da Sulanca para o terreno na BR-104, uma das polêmicas locais da campanha. *Colaborou Marcos Oliveira