Sete dias após a visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Ipojuca, a 70 quilômetros do Recife, o candidato a prefeito apoiado pelo petista, Romero Sales (PTB), teve sua candidatura indeferida pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE), na noite dessa quinta-feira (29).

Lula esteve no município pernambucano para participar, ao lado dos senadores Armando Monteiro Neto (PTB) e Humberto Costa (PT), do comício de Romero Sales.

A cassação estendeu-se a toda chapa do postulante, composta também pelo vice Leno (PTN).

Sales foi considerado inelegível pela condenação por improbidade administrativa em 2012, referente a uma viagem feita para Foz do Iguaçu no ano de 2008, quando era vereador do município.

O prefeiturável ainda pode recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O advogado de Romero Sales, Walber Agra, afirmou que vai recorrer da decisão já nesta sexta-feira (30). “Em nenhum momento o TRE disse onde estava o enriquecimento ilícito.

O dano houve, mas foi no montante de apenas R$ 4,3 mil”, alegou.

O defensor do petebista argumentou que, para o indeferimento, é necessário que haja as duas situações juntas.

E foi em sua passagem por Ipojuca, cidade da Refinaria Abreu e Lima, na última semana, que Lula voltou a fustigar os adversários políticos locais, nacionais os procuradores da Lava Jato e definiu os tucanos como uma “coisa predatória”. “É uma coisa predatória.

Tucano vai no ninho e come os filhotes”, disse.

No município, Romero Sales enfrenta pela segunda fez consecutiva o atual prefeito e candidato à reeleição Carlos Santana (PSDB).

Em 2012 o tucano saiu vencedor por pouco mais de 200 votos.

Confira o discurso de Lula feito em Ipojuca no último dia 22: Apesar da decisão, o petebista disputará as eleições deste domingo (2) sub judice.

Segundo o TRE, se houver votos para o candidato, eles serão apurados separadamente, podendo ser invalidados de acordo com a decisão da Justiça.

O pedido de negação do registro de Romero Sales foi apresentado pela coligação Ipojuca Segue em Frente, que apoia a reeleição de Carlos Santana, e pelo Ministério Público Eleitoral (MPE).

No documento, protocolado em agosto na 16ª Zona Eleitoral, o órgão argumentou que o petebista não poderia participar do pleito por ter sido condenado em segunda instância pelos crimes de improbidade administrativa e crime eleitoral, com base na Lei da Ficha Limpa.

A condenação em questão aconteceu em 2012, quando Sales era candidato à prefeitura de Ipojuca.

Em maio de 2008, o então vereador viajou ao lado de outros sete parlamentares, cinco assessores e três servidores da Câmara Municipal para Foz do Iguaçu para participar do 39º Encontro Nacional de Agentes Públicos.

No entanto, a viagem bancada pela Câmara teve finalidade turística, e não de capacitação.

O dano total causado ao erário foi de R$ 69.657,86.

O candidato sub judice que disputa uma eleição deve ressarcir a Justiça Eleitoral pelos gastos com o novo pleito, caso seja eleito e fique comprovado, posteriormente, que ele não poderia assumir o cargo.

Em Pernambuco, pelos menos 55 municípios, quase um terço dos 184 existentes, ainda têm candidaturas majoritárias com registro incerto, que foi negado ou concedido inicialmente, mas ainda carece de uma resposta definitiva da Justiça Eleitoral.

Em sete deles, há postulante a prefeito que sequer teve o registro julgado em primeira instância.

Além de Romero Sales, o delegado Erick Lessa (PR), que tenta ser prefeito de Caruaru, no Agreste, por exemplo, é um dos casos pendentes, em razão da substituição do seu vice.

LAVA JATO Em 2005, foi anunciado que a Refinaria Abreu e Lima / Rnest (Petrobras) sairia por US$ 2,4 bilhões e seria construída pela Petrobrás e pela estatal de petróleo da Venezuela PDVSA.

Em dezembro daquele ano, os então presidentes Lula e Hugo Chavez lançaram a pedra fundamental do empreendimento.

Dois anos depois, mesmo sem ter chegado nenhum dinheiro da Venezuela, Hugo Chavez reclamou do atraso no cronograma.

Em 2009, a Petrobras disse que havia um erro nos cálculos do valor da refinaria e que o custo real seria de US$ 13,4 bilhões, ou seja, cinco vezes mais alto.

Uma nova data foi anunciada: ficaria tudo pronto no primeiro semestre de 2011. » Abandono e ferrugem corroem trem 2 da Refinaria Abreu e Lima Porém, em 2010, o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou a paralisação dos serviços, porque havia indícios de sobrepreço.

A Petrobras informou que os gastos não eram abusivos.

Em 2013, a Venezuela desistiu da parceira e o Brasil teve que arcar com os custos.

No final daquele ano, a então presidente Dilma veio a Pernambuco e garantiu a conclusão dos trabalhos em 2014.

Mas, em março de 2014, a Operação Lava Jato começou a expor um esquema de corrupção na Petrobras, o que atingiu as obras, que chegaram a empregar 45 mil pessoas.

As construtoras atrasaram os salários dos operários, houve protestos e vieram as demissões.

Até que, em dezembro de 2014, a Refinaria Abreu e Lima começou a funcionar, mas parcialmente: das duas unidades de refino, chamadas de trens, cada uma com capacidade de processar 115 mil barris de petróleo por dia, apenas uma ficou pronta e iniciou a produção diária de 73 mil barris.

No início deste ano, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), representado pela promotora de Justiça Bianca Stella, encaminhou à Força Tarefa da Lava Jato, em Curitiba (PR), o Inquérito Civil instaurado para investigar supostos superfaturamentos nas obras de construção da Rnest.

Os indícios foram apontados em auditoria instaurada pelo TCU. » Sob efeito da Lava Jato, hibernação da Refinaria Abreu e Lima prevê até 5 mil demissões Segundo a promotora de Justiça, o relatório do TCU conclui que o custo inicial das obras de construção da Refinaria do Nordeste previsto em setembro de 2005 era de US$ 2,4 bilhões, tendo chegado a U$S 18,5 bilhões em outubro de 2014, com indicação de irregularidades na condução dos investimentos por parte da Petrobras.

Alvejada seriamente após os escândalos da Lava Jato, com demissões em massa de trabalhadores das empreiteiras envolvidas em desvios de recursos públicos, a polêmica refinaria deve ser retomada.

Em julho passado, o Conselho de Administração da Petrobras aprovou, em reunião realizada no Rio de Janeiro, a reavaliação do projeto da Rnest.

A decisão permitirá a continuidade das atividades de contratação, atualmente em curso, para conclusão da unidade de abatimento de emissões (SNOX) e demais obras de complementação do Trem 1.