Por Luciano Siqueira*, especial para o Blog de Jamildo O primeiro turno da campanha eleitoral está chegando ao fim e a ficha ainda não caiu para muita gente.

Refiro-me às circunstâncias peculiares do pleito, determinadas por duas ordens de fatores: a redução drástica de meios materiais e financeiros; e a variável tempo.

A interdição do financiamento empresarial privado das campanhas, uma conquista da OAB junto ao STF, diminuiu em muito o peso do poder econômico, ainda que parcialmente.

Faltou adotar o financiamento público, acompanhado de rigorosas regras, como acontece pelo mundo afora.

E, além de mecanismos à margem da lei, como se tem divulgado, como a apropriação à revelia do CPF de muita gente, conforme o TSE tem flagrado, prossegue legal o uso de recursos pessoais do candidato até 10% da renda consignada na declaração do imposto de renda do ano anterior, o que beneficia, em certa medida, candidatos ricos.

De toda sorte, a restrição de recursos induz a um contato mais direto com os eleitores, sobretudo no caso de postulantes às Câmaras de Vereadores.

Também “limpa” de artifícios midiáticos sofisticados os programas e as inserções diárias na TV e no rádio.

De outra parte, o peso da campanha curta – praticamente resumida a um mês e meio – é uma variável ainda confunde muita gente, inclusive estrategistas de campanhas majoritárias.

Por exemplo, na tentativa de “desconstruir” o adversário.

Algo que exige tempo e volume de exposição midiática, especialmente quando o adversário é o gestor candidato à reeleição e está à testa de uma administração largamente aprovada pela população.

A campanha curta implica prioridade para as próprias propostas, secundariamente a comparação com a dos adversários.

Aqui e em muitas cidades, segundo se registra no noticiário político e atestam as pesquisas, esse elemento – a desconstrução do que vem dando certo – revela-se um erro tático.

O fato é que adiante, superada a instabilidade política e institucional e restabelecida uma correlação de forças mais consentânea com o desenho real da sociedade brasileira, será possível retomar a reforma política e eleitoral como item de destaque da agenda democrática.

Por enquanto, tudo o que se fizer nessa matéria aprofundará contradições, imperfeições e insuficiências, tal a composição conservadora e fragmentada da Câmara dos Deputados e do Senado.

Futuramente, quem sabe, a sociedade brasileira possa retomar sua senda civilizatória e, enfim, possamos adotar sistema eleitoral e partidário essencialmente democrático e racional.

Luciano Siqueira, do PCdoB, é vice-prefeito do Recife*