Condenado no mensalão e na Lava Jato, o ex-deputado federal Pedro Corrêa disse a investigadores que atribui ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e o ex-ministro Antonio Palocci diálogos que apontam um esquema de loteamento de cargos na Petrobras.

Segundo Pedro Corrêa, eles sabiam que dinheiro distribuído da Petrobras era vindo de propina e não de caixa dois. “O presidente Lula tinha conhecimento pleno de que o mensalão não era caixa 2 – era propina arrecadada junto aos órgãos governamentais”, diz.

As afirmações de Corrêa, ex-presidente do PP e hoje delator, foram um dos principais elementos usados pelo Ministério Público Federal para afirmar que Lula ‘comandava o petrolão’.

O petista foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro nesta semana.

As declarações do ex-deputado foram dadas no último dia 1º e divulgadas nessa quinta, 15.

Em seu depoimento, Corrêa explica que tanto o petrolão, quanto o mensalão tratam da compra de parlamentares para formação de apoio ao governo, com dinheiro de propina paga por empresários em troca de contratos públicos.

Segundo Corrêa, a indicação de cargos –na Petrobras e em outras empresas públicas, além de ministérios e secretarias– visa atender a demandas empresariais com o fim de arrecadar propina a partidos políticos e seus integrantes.

Pedro Corrêa disse, ainda, que os valores são repassados a parlamentares e utilizados na manutenção do poder partidário nas esferas federal estadual e municipal, beneficiando inclusive deputados estaduais, prefeitos e vereadores.

Corrêa afirmou que as indicações funcionavam da mesma forma nos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula.

De acordo com Corrêa, durante a formação do governo Lula, conversava-se abertamente sobre a necessidade dos partidos realizarem o mesmo esquema de arrecadação do PT – que recebia de empresas que prestavam serviços às prefeituras eleitas pelo partido– a fim de terem receita própria, já que o fundo partidário era visto como insuficiente para manter as siglas.

PAULO ROBERTO COSTA No depoimento, realizado no dia 1º de setembro, Pedro afirmou que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa – primeiro delator da Operação Lava Jato – dizia que “era o Lula que mandava” ao justificar o pagamento de propinas da área distribuídas ao PT, ao PMDB e ao PSDB.

Citou os pagamentos de R$ 1 milhão à senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e de R$ 10 milhões ao ex-senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), morto em 2014.

Pedro Corrêa diz também que Lula questionou a demora na nomeação de Paulo Roberto Costa na diretoria da Petrobras e ameaçou demitir o conselho da estatal.

Uma vez no cargo da diretoria de abastecimento, Costa “atendeu satisfatoriamente os interesses do PP na arrecadação de propina da Petrobras”.

Em 2006, antes das eleições, Pedro Corrêa e José Janene (na época presidente do PP) fizeram a Lula reivindicações de novos cargos e dinheiro para campanha do PP.

O ex-presidente teria negado e respondido “Vocês têm uma diretoria muito importante, estão muito bem atendidos financeiramente.

Paulinho [Paulo Roberto Costa] tem me dito”.

De acordo com Corrêa, naquele mesmo encontro, Lula afirmou que não tinha obrigação de ajudar pois “Paulinho tinha deixado o partido muito bem abastecido, com dinheiro para fazer a eleição de todos os deputados”.

Ambos entraram pela garagem do Planalto para a reunião com o ex-presidente.

Costa foi preso em março de 2014 e fechou acordo de delação premiada no mesmo ano.

Para embasar a denúncia contra Lula, o MPF cita o poder de decisão do ex-presidente para nomear postos de alto escalão, sua proximidade com pessoas acusadas na Lava-Jato e com o PT, além do depoimento de políticos que relataram o conhecimento de Lula sobre o esquema de corrupção.

Entre eles, estão o ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT) e o próprio Pedro Corrêa (PP).

Confira o depoimento postado pelo site O Antagonista: Com informações do Jornal Folha de S.

Paulo