A advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment, chorou.
José Eduardo Cardozo, da defesa da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), também.
O quinto longo dia de julgamento do processo, essa terça-feira (30), durou mais de 15 horas e terminou já na madrugada da quarta (31).
A fase de discussão foi marcada, além do embate e do choro dos dois lados, pelos pronunciamentos dos senadores.
Apesar da vontade do presidente interino Michel Temer (PMDB) de acelerar a sessão, nem os parlamentares da base aliada desistiram de falar na reunião considerada histórica, levando a votação para a quarta-feira.
De tantas falas, surgiram também pérolas e um deles chegou a recitar músicas do cantor Chico Buarque.
As frases engraçadas Esperava-se que no Senado, Casa com parlamentares mais velhos, os discursos fossem mais sóbrios do que na Câmara.
Tem sido assim.
Na última oportunidade para discursar no processo de impeachment, porém, dois senadores do PSD protagonizaram pronunciamentos engraçados.
Favorável ao impeachment, José Medeiros (PSD-MT) afirmou que as falas de Dilma e dos aliados nessa segunda-feira (29) foram agressivas a quem defende o processo e soltou diversas expressões.
Afirmou, por exemplo, que sua esposa o orientou a não dizer aquela expressão, mas: “Quem quer pegar a galinha não vai dizer ‘xô’”.
Há quem diga que ele falou por parábolas o tempo inteiro.
Veja o discurso completo, porque, como diz o editor do blog, Jamildo Melo, “se a gente não rir, amigo, adoece”: O senador Otto Alencar (PSD-BA), contrário ao impeachment, afirmou que foi convencido de que não houve crime de responsabilidade através dos elementos apresentados pela defesa de Dilma. “Respeito a opinião [contrária], mas aprendi que em um julgamento, para ser isento, se observa o que está nos autos”, disse.
Quando os 10 minutos terminaram e teve mais alguns segundos para concluir autorizados pelo presidente da sessão, Ricardo Lewandowski, recitou - e parodiou - versos de nove músicas de Chico Buarque.
Aproveitou a sua vez na tribuna como se fosse a última.
Este é Otto Alencar, o fã número 1 de Chico Buarque.
Até Lewandowski riu (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado) Magno Malta (PR-ES) foi outro cantor, com “Deu pra ti, baixo astral”, dizendo ser uma homenagem a Dilma, por ser uma música cantada por Kleiton e Kledir, uma dupla do Rio Grande do Sul, estado onde a presidente começou sua vida pública.
Malta evocou a religião e a Bíblia para explicar o afastamento de Dilma.
Na visão do senador, a eleição de Dilma e a derrota de Aécio Neves, nas eleições de 2014, fazem parte da “vontade permissiva de Deus”.
Ele disse que a presidente Dilma não está sendo afastada pelos senadores, mas pelo monarca Salomão, rei de Israel, que disse no livro de Provérbios (16:18) que “a arrogância precede a queda”. “O Brasil não é tolo.
Estamos vivendo um momento ímpar.
Existe a Lei de Responsabilidade Fiscal, que o PT não assinou e não vê a necessidade de obedecer.” Os pernambucanos O primeiro dos pernambucanos a falar foi o líder do PT no Senado, Humberto Costa.
Em seu pronunciamento, voltou a classificar o impeachment como um “golpe parlamentar”, motivado pela má relação entre a petista e o Legislativo.
Negando veementemente que ela tenha cometido crimes de responsabilidade, ironizou: “Se Dilma errou e cometeu crime, esse Congresso foi conivente com o crime.
Se era tão fácil para Dilma imaginar os pensamentos do TCU (Tribunal de Contas da União), para nós aqui deveria ser fácil também.
Por que nenhum de nós fez um decreto legislativo sustando aqueles de dotação orçamentária?” A presidente afastada é acusada no processo de impeachment por assinar três decretos abrindo créditos suplementares sem autorização do Congresso e pelas chamadas ‘pedaladas fiscais’. “Mas nós aqui não podemos agir como verdadeiros cretinos parlamentares, não podemos condenar Dilma por crimes que ela não cometeu”, defendeu.
Armando Monteiro foi ministro de Dilma (Foto: Divulgação) A declaração do voto de Armando Monteiro (PTB) contra o impeachment de Dilma foi uma retomada da proposta de reforma no regime fiscal no País, mas também uma crítica ao sistema político.
O petebista, que é ex-ministro do segundo mandato de Dilma, reclamou de “disfunções do nosso presidencialismo de coalizão”, que, para ele, foram a origem do impeachment.
O partido de Armando tem posicionamento contrário ao dele, se declarando contra a presidente. “A fragmentação partidária, o desprezo pelas diretrizes programáticas das siglas e a prevalência de interesses fisiológicos geram um imenso custo à governabilidade do país”, apontou Armando.
Assistindo ao pronunciamento do parlamentar da Mesa Diretora, que fica ao lado da tribuna, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), acenava positivamente com a cabeça.
Na foto, FBC (ao centro) com Paulo Bauer e Aécio Neves (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado) “Não existe contradição entre uma política fiscal responsável e programas sociais”.
Foi o que defendeu Fernando Bezerra Coelho (PSB) na tribuna do Senado, já na madrugada desta quarta-feira (31).
O parlamentar foi ministro da Integração Nacional no primeiro mandato da petista, mas a acusou de crime de responsabilidade e fez críticas ao seu governo, defendendo, porém, o ex-presidente Lula (PT). “Ao apelar pela contabilidade criativa, mascarando as contas públicas, o governo Dilma tentava passar a impressão de que o Brasil seguia o mesmo ritmo do governo Lula”, disse, classificando como “postura inadequada” que gerou uma “recessão econômica sem precedentes”.
Outros pronunciamentos Aécio Neves (PSDB-MG) acusou a defesa de Dilma de ter falta de argumentos e apelar à desqualificação de seus adversários.
O tucano disse esperar que a conclusão do processo de impeachment conduza o Brasil a um tempo de esperança e confiança. “Foram os brasileiros que, nas ruas, disseram que o governo não tinha mais legitimidade.
Mas é hora de olharmos para frente e pensarmos no dia de amanhã”, afirmou.
Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou que o impeachment é um golpe de classe contra os trabalhadores, negros, mulheres e contra a juventude.
Ele declarou que as elites que tentam tirar Dilma da Presidência não aceitam a ascensão que os pobres tiveram no governo petista, já que sempre viram a classe trabalhadora como um problema e não como uma solução. “É um golpe por um Brasil para poucos.
A História será implacável e cobrirá de vergonha todos os que cometeram essa grosseira injustiça como já fez com torturadores e ditadores do passado”, disse.
E completou: “Está claro para todos que um dos motivos desse golpe é querer estancar a sangria da Lava Jato com o sangue de uma inocente.
Não aceitam mais que o povo tenha voz e voto porque essas elites nunca tiveram compromisso com a democracia.” Lindbergh Farias foi “cara pintada” no impeachment de Collor e agora é contra afastamento de Dilma (Foto: Jonas Pereira/Agência Senado) Defesa e acusação “Foi Deus que fez que, ao mesmo tempo, várias pessoas ‘percebessem’ o que estava acontecendo no País e se organizassem para iniciar o processo do impeachment”, disse Janaína Paschoal.
Ela foi a primeira a falar na fase de debate.
A acusação ainda afirmou que é preciso dizer, no exterior, que o impeachment não se trata de um “probleminha contábil”, mas de uma fraude.
A advogada chorou e pediu desculpas pelo sofrimento que causa a Dilma, mas não pelo pedido de impeachment e disse que estava fazendo aquilo “pelos netos dela”.
José Eduardo Cardozo fez discurso inflamado a favor de Dilma (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado) José Eduardo Cardozo pediu que, se os senadores quiserem julgar a petista pelo conjunto da obra do governo, aceitem a proposta dela de convocar um plebiscito para a população brasileira escolher se querem novas eleições para presidente.
Em discurso inflamado durante sessão do julgamento final do impeachment no Senado, Cardozo afirmou que, se Dilma sofrer o impeachment, será uma pena de morte política. “É uma execração que se faz a uma pessoa digna”, disse, pedindo que senadores votem pela justiça e pela democracia e não aceitem que Brasil viva um “golpe parlamentar”.
Ainda pediu a Deus que, se a petista for condenada, um futuro ministro da Justiça peça desculpas a ela, assim como ele pediu a famílias de vítimas da ditadura militar. “Se ela não estiver viva, que peçam desculpa a sua filha e netos”, afirmou.
Para o advogado, a história se encarregará de inocentar a petista.
Cardozo chorou após o discurso e afirmou que Janaína Paschoal não deveria ter justificado o pedido do impeachment pelos netos de Dilma.