O líder do PT no Senado, o pernambucano Humberto Costa, foi o 20º parlamentar a subir à tribuna na fase de discussão do julgamento da presidente afastada Dilma Rousseff (PT).
Em seu pronunciamento, voltou a classificar o impeachment como um “golpe parlamentar”, motivado pela má relação entre a petista e o Legislativo.
Negando veementemente que ela tenha cometido crimes de responsabilidade, ironizou: “Se Dilma errou e cometeu crime, esse Congresso foi conivente com o crime.
Se era tão fácil para Dilma imaginar os pensamentos do TCU (Tribunal de Contas da União), para nós aqui deveria ser fácil também.
Por que nenhum de nós fez um decreto legislativo sustando aqueles de dotação orçamentária?”, questionou.
ENTREVISTA » Humberto Costa prevê votação difícil e reconhece erros do PT, mas critica Temer A presidente afastada é acusada no processo de impeachment por assinar três decretos abrindo créditos suplementares sem autorização do Congresso e pelas chamadas ‘pedaladas fiscais’. “Mas nós aqui não podemos agir como verdadeiros cretinos parlamentares, não podemos condenar Dilma por crimes que ela não cometeu”, defendeu. “O Congresso Nacional nunca engoliu a presidente Dilma.
Não aceitava o seu modo de lidar com a rotina parlamentar, não aceitava a sua falta de gosto de fazer corte para aqueles que frequentavam os corredores do Planalto. (Dilma) tinha pouco trato político.
Mas Dilma era assim”, afirmou ainda o líder do PT. “Ela tem uma forma diferente, é menos flexível”, disse, justificando que essa forma de trabalhar poderia estar ligada à sua histórica política, marcada pela luta contra a ditadura militar e pelo fato de o primeiro cargo eletivo dela ter sido justamente a presidência.
LEIA TAMBÉM » Dilma troca farpas com adversários no quarto dia de julgamento do impeachment » Humberto Costa critica governo Temer e chama Mendonça Filho de “mãos de tesoura” » Entre críticas e elogios, senadores questionam Dilma; veja como foram os 10 primeiros Humberto Costa opinou ainda que o Legislativo contribuiu com a crise econômica atual, citando a postura do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e as ‘pautas-bomba’. “Foi a crise política acompanhando a crise econômica.
Foram às ruas atrás de patos amarelos e agora estão com sorrisos amarelos em suas faces”, disparou.
Retomando o que Dilma falou em resposta a Cristovam Buarque (PPS-DF) nessa segunda-feira (29), o líder do PT afirmou que foi um erro ter escolhido o vice Michel Temer (PMDB) para compor a chapa nas duas eleições, de 2010 e 2014. “Foi traída e se arrependeu.
Mas vocês vão eleger Michel Temer presidente da República sabendo quem ele é, o que é um agravante”, disse. “De 18 presidentes, apenas oito foram eleitos democraticamente.
Três não concluíram o seu mandato.
Dilma, dependendo do que decidir esse Senado, pode ser a quarta.” Humberto finalizou o pronunciamento defendendo o retorno de Dilma para o cargo, para tentar levar adiante a proposta de plebiscito para a realização de novas eleições. “Temos uma decisão importante nas mãos, podemos entregar o Brasil a um usurpador, a alguém que não tem o voto”, disse.
E concluiu: “Sem a legitimidade do povo, o Brasil vai viver uma crise permanente e sem solução.”