Em um dos capítulos derradeiros do processo de impeachment, a presidente afastada Dilma Vana Rousseff, 68, depôs ao Senado Federal, na manhã desta segunda-feira (29), quarto dia de julgamento do seu processo de impeachment.

Neste que pode ser seu último discurso como presidente da República, Dilma lembrou o período de militância contra a ditadura militar e disse que continuará lutando em defesa do seu mandato. “Como no passado, resisto.

Não esperem de mim o obsequioso silêncio dos covardes.

No passado, com armas, e hoje, com retórica jurídica, pretendem novamente atentar contra a democracia e o Estado do Direito.” Durante seu discurso, Dilma não deixou de alfinetar aqueles que são favoráveis à sua deposição.

Em crítica velada aos senadores que mudaram de posição, a petista afirmou: “Se alguns rasgam seu passado e negociam as benesses do presente, que respondam perante sua consciência e perante a história”. “A mim cabe lamentar pelo que foram e pelo que se tornaram.

E resistir.

Resistir sempre.” Dilma ainda disse que o resultado eleitoral de 2014 foi um “rude golpe em setores da elite conservadora brasileira.

Como é próprio das elites autoritárias, não viam na vontade do povo o elemento legitimador.

Queriam o poder a qualquer preço.” Como em discursos anteriores, Dilma disse estar com a consciência tranquila. “Por ter a consciência tranquila em relação ao que fiz na Presidência que venho pessoalmente à presença dos que me julgarão.

Venho para olhar nos olhos de vossas excelências e dizer que não cometi crime de responsabilidade.

Hoje o Brasil, o mundo e a história nos observam e aguardam o desfecho deste processo de impeachment”, ressaltou Dilma. ‘GOSTO ÁSPERO’ A presidente afastada afirmou que acusações contra ela no processo de impeachment fazem com que ela sinta “o gosto áspero e amargo da injustiça e do arbítrio”. “E por isso, como no passado, resisto. (…) No passado, com armas, e hoje, com retórica jurídica, pretendem novamente atentar contra a democracia e o Estado do Direito.” Dilma Rousseff ainda afirmou que o processo de impeachment foi aberto por uma “chantagem explícita” do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB).

Segundo ela, integrantes da “aliança golpista” exigiam que ela intercedesse para que deputados petistas votassem contra o processo de cassação de Cunha. “Contrariei interesses.

Por isso, paguei e pago um elevado preço pessoal pela postura que tive.” CHEGADA Foto: Jane de Araújo/Agência Senado A petista chegou ao Senado, por volta das 9h15, acompanhada por um séquito de apoiadores para fazer a sua defesa no julgamento do impeachment.

Ela foi recebida por congressistas contrários ao seu afastamento e estava acompanhada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo cantor Chico Buarque.

O senador Paulo Rocha (PT-PA) afirmou, pouco antes do início do depoimento de Dilma, que não há crime de responsabilidade a punir.

Para ele, há uma conspiração política e um processo de traição para se fazer a cassação do mandato da presidente.

O senador disse, também, que a presença de Dilma mostra que não há o que temer.