Do Blog de Jamildo, com Agência Senado Quarenta e oito senadores usaram os cinco minutos previstos para falar à presidente afastada Dilma Rousseff (PT), na aguardada ida dela ao Senado para se defender sobre as acusações no processo de impeachment.

A petista fez um pronunciamento de cerca de meia hora na manhã desta segunda-feira (29) e depois ficou à disposição dos parlamentares para responder aos questionamentos por mais de 14 horas.

A maioria dos aliados não fez perguntas e usou o tempo para enaltecer as gestões petistas, defendendo que não houve crime de responsabilidade.

Os adversários, além de afirmar o contrário, trocaram críticas com Dilma.

No pronunciamento, a presidente afastada já havia classificado o impeachment como golpe, se comparado a ex-presidentes como Getúlio Vargas, ressaltado a sua luta contra a ditadura militar e chamado o governo interino Michel Temer (PMDB) de “usurpador”.

Muitas dessas palavras foram repetidas nas respostas aos senadores.

Pela manhã, 10 parlamentares perguntaram, entre eles o relator do parecer pelo afastamento definitivo de Dilma, Antonio Anastasia (PSDB-MG).

Houve um intervalo de uma hora e, na volta, Dilma já trocou farpas com Aécio Neves (PSDB-MG), seu principal concorrente nas eleições 2014.

LEIA TAMBÉM » Entre críticas e elogios, senadores questionam Dilma; veja como foram os 10 primeiros Veja o que falaram alguns dos senadores: Foto: Pedro França/Agência Senado » Aécio Neves O tucano ressaltou que nunca poderia imaginar que, desde o último debate, ainda nas eleições de 2014, em que foi derrotado por Dilma, iria reencontrá-la na situação de agora, na posição de ré.

Esse foi o ponto de partida para criticar Dilma por, mais de uma vez, ter vinculado as dificuldades por que vem passado, ao “inconformismo” daquele que chamou de “derrotado nas eleições presidenciais”.

Depois, Aécio disse a ela não ser “desonra alguma perder eleições”, sobretudo quando se defende ideias e se cumpre a lei. “Eu não diria o mesmo de quando se vence as eleições faltando com a verdade e cometendo ilegalidades”, atacou.

Veja o vídeo: Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado » Ronaldo Caiado O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) questionou por que somente os bancos públicos, como Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica Federal, não foram tratados como os bancos privados, que tiveram os juros equalizados mensalmente.

Os bancos ligados ao Estado sofreram os efeitos das chamadas “pedaladas”.

Dilma explicou que, no Plano Safra, menos de 10% dos contratos de empréstimo são firmados com bancos cooperados e, por serem um universo muito menor e mais fácil de controlar, puderam ter os pagamentos equalizados em dia.

A presidente afastada lembrou o quanto o investimento na agricultura familiar na agricultura comercial são importantes para a economia brasileira.

Caiado também questionou por que o governo Dilma optou por investimentos em países com situação democrática controversa, como Cuba. “Para acabar com o isolamento, para ajudar a sociedade cubana.

O Porto de Mariel é hoje disputado por todos que querem negociar com Cuba”, afirmou Dilma.

Ouça entrevista de Caiado à Rádio Senado: Foto: Geraldo Magela/Agência Senado » Lídice da Mata A resposta de Dilma a Lídice da Mata (PSB-BA) foi um dos momentos em que ela criticou o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmando que ele aceitou o pedido de impeachment depois que ela não cedeu a uma chantagem - o que o peemedebista nega.

Dilma Rousseff afirmou também que, em meio à crise, procurou poupar os programas sociais de cortes mais profundos.

Ela aproveitou para criticar o presidente interino, Michel Temer, pela apresentação ao Congresso da chamada “PEC do teto”, que determina que os gastos públicos estarão sujeitos apenas à correção inflacionária por 20 anos.

Para Dilma, a proposta, se aprovada, levará na prática a fortes cortes de investimentos em áreas como educação e saúde, devido ao fato de a população ainda ser em grande parte jovem e por atrasos ainda existentes em setores como ciência e tecnologia e no sistema educacional como um todo.

Para Lídice, o processo de impeachment é um “golpe parlamentar” que visa à retirada de direitos trabalhistas e a entrega do patrimônio público, como o petróleo da camada pré-sal.

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado » Magno Malta O senador Magno Malta (PR-ES) chamou os aliados de Dilma de “cachorros, que morrem com o dono” e questionou: “O que a senhora disse com tanta veemência, que não ia subir juros, que não ia faltar comida.

A sua veemência no processo eleitoral, a senhora tinha respaldo para isso.

A senhora é uma mulher muito inteligente, preparada e tinha conhecimento.

Agora eu pergunto: quem mentiu no processo eleitoral?

Foram os marqueteiros?

A senhora não tinha as informações?” A presidente afastada respondeu que não tem bola de cristal para prever o futuro. “É próprio do ser humano querer controlar o futuro.

Só que o senhor não controla o futuro.

Estamos no reino das estimativas.

Para o senhor ter uma ideia, o mercado e o governo acertavam num valor de crescimento do PIB ao longo de 2015 de 0,8% , e deu, no final, -3,75%.

Aí eu pergunto: quem mentiu senador?

Não se trata de uma relação de verdade ou mentira.

Trata-se de uma estimativa”, afirmou.

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado » Vanessa Grazziotin Uma das principais aliadas de Dilma, Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) afirmou que a presidente será vista pela história como uma vítima, ressalvando contudo que a maior vítima desse processo será o povo brasileiro.

Ela insistiu em que o processo que busca encerrar o mandato de Dilma só tem elemento político e nenhum caráter jurídico, sublinhando também que “o PSDB pagou R$ 45 mil por essa denúncia”.

Vanessa indagou da presidente quais os ganhos que o Brasil pode esperar caso ela retome o mandato na decisão que virá a público no final desse processo e pediu que ela explicitasse as propostas de plebiscito, de eleição direta e de pacto nacional, já antecipadas na carta que dirigiu recentemente ao Senado e ao povo brasileiro.

Veja a resposta: Foto: Geraldo Magela/Agência Senado » Cássio Cunha Lima “Golpe é vencer uma eleição mentindo a um país; golpe é quebrar uma empresa como a Petrobras; golpe é fazer terrorismo contra os mais pobres, como em todas as eleições fez o partido de Vossa Excelência.” Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) iniciou sua pergunta em ataque a Dilma.

Para o senador, não há duvidas sobre os crimes de responsabilidade cometidos, como abertura de crédito suplementar sem autorização legislativa. “A pena é severa demais?

Não.

Severo é haver 12 milhões de desempregados.

Duro é viver em um país que está há três anos em recessão: indústrias fechando, comércio encerrando suas atividades, um povo sem esperança, desiludido.

Isso, sim, é grave”, opinou.

A presidente afastada voltou a afirmar que sofre um “golpe parlamentar”. “Então, eu vou lembrar ao senhor o que foi amplamente noticiado pela mídia e que até o próprio acusador, um dos acusadores aqui presentes, declarou à imprensa: que a aceitação do meu pedido de impeachment tratava-se de uma chantagem explícita do Sr.

Eduardo Cunha com a qual infelizmente vocês se aliaram”, disse. “Então, é muito difícil começar-se a discussão dizendo que a culpa da crise são três decretos e a operação do Plano Safra.

Já disse que a operação do Plano Safra, baseada nos seus subsídios, tem efeito positivo sobre a demanda, e não um efeito restritivo”, acrescentou.

Foto: Marri Nogueira/Agência Senado » Armando Monteiro O senador pernambucano Armando Monteiro (PTB) usou seus cinco minutos para elogiar a gestão dela e defender um novo regime fiscal no País.

O petebista perguntou como isso seria possível e a petista defendeu a adoção de reformas para modificar a estrutura de receitas e despesas.

Armando foi ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no segundo mandato e é contra o impeachment.

Foto: Marri Nogueira/Agência Senado » Gleisi Hoffmann “Nunca pensei que como senadora tivesse que viver momento tão deprimente.

Não foi para isso que quis ser eleita”, afirmou Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil de Dilma e uma das suas principais aliadas.

Assista: Foto: Moreira Mariz/Agência Senado » Paulo Paim Em seu discurso, Paulo Paim (PT-RS) disse que o afastamento de Dilma terá como consequência o “ataque” a direitos sociais, trabalhistas e a “revogação” da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

O Palácio do Planalto chegou a responder em nota, negando corte de direitos.

Foto: Marri Nogueira/Agência Senado » Ataídes Oliveira O senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) afirmou que ela cometeu crimes ao editar decretos de crédito suplementar sem prévia autorização do Parlamento e ao atrasar pagamentos do que ele chamou de empréstimo do governo junto ao Banco do Brasil, no âmbito do Plano Safra.

O senador também acusou o governo Dilma de usar programas como o Bolsa Família, o Seguro-Defeso e o Fies para ganhar as eleições presidenciais de 2014.

Segundo ele, esses programas foram inflados naquele ano para que a presidente pudesse usá-los na campanha.

Além disso, Ataídes afirmou que o Brasil devia em 2003, interna e externamente, R$ 828 bilhões, montante que teria passado para R$ 4,1 trilhões atualmente. “O governo do PT gastou um rio de dinheiro e gastou mal.

O presidente Temer pegou uma herança maldita, ele vai ter que trabalhar muito com essa nova equipe econômica”, declarou.

Em resposta, Dilma Rousseff rechaçou a acusação de que teria cometido crimes com a edição de decretos de crédito suplementar ou com operações relativas ao Plano Safra.

Ela também negou que tenha usado programas sociais de seu governo para fins eleitorais.

Segundo a presidente afastada, o programa Bolsa Família, por exemplo, tem auditorias anuais e, apenas em 2014, mais de 1,3 milhão de beneficiários foram retirados do programa por não mais se enquadrarem nos requisitos necessários para receber o benefício. » Alvaro Dias Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado » Lindbergh Farias O líder da oposição no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), classificou o processo de impeachment como um golpe contra a população pobre e os trabalhadores, articulado por Temer e Cunha, e elogiou Dilma: “Está desmontando o golpe e comovendo o país.

Eu considero a senhora uma mulher admirável.

A senhora está aqui, de cabeça erguida, buscando justiça, novamente enfrentando um julgamento de exceção.” A presidente afastada destacou duas razões que enxerga para o impeachment: a intenção política de paralisar a Operação Lava Jato e o interesse econômico de aliviar os impactos da crise do país sobre a classe empresarial, em detrimento do povo — o que chamou de “programa reacionário” de governo. “Em toda crise há um conflito distributivo.

Isso ficou claro quando o ‘pato’ apareceu nas ruas. ‘Quem paga o pato’?

Ou seja, quem fornece os recursos necessários para o país sair da crise?

Alguns acreditam que só são os trabalhadores, a população mais pobre, as classes médias, os profissionais liberais, os pequenos empresários”, disse.

Foto: Moreira Mariz/Agência Senado » Tasso Jereissati O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) criticou o argumento usado pela presidente afastada Dilma Rousseff de que a crise econômica do país foi um reflexo da crise internacional.

Como comparação, o senador afirmou que, em 2014, o Brasil teve crescimento zero e a média mundial foi de 3,4%. “Não há qualquer correlação entre a crise internacional e nossa tragédia econômica”, disse Tasso.

A presidente acusou o Congresso Nacional de não ter sensibilidade para aprovar medidas necessárias para ajudar o país a sair da crise.

Muitos parlamentares, alegou a presidente, mudaram radicalmente de posição com relação ao governo interino.

Para ela, foi uma política de “quanto pior melhor" por parte dos oposicionistas ao seu governo.

Foto: Moreira Mariz/Agência Senado » Regina Sousa Trigésima a falar, Regina Sousa (PT-PI) afirmou que processo de impeachment também tem entre as suas causas o “machismo”.

Veja: Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado » Humberto Costa O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), foi o 31º senador a falar.

O petista tinha cinco minutos para fazer questionamentos à aliada, mas usou o tempo para criticar o governo interino Michel Temer e defender que não houve crime de responsabilidade.

Humberto Costa acusou o governo de fazer cortes em programas sociais, usando o Minha Casa, Minha Vida como exemplo, e atacou principalmente reduções em ações do Ministério da Educação, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

O petista chegou a afirmar que o ministro Mendonça Filho, também pernambucano e seu adversário histórico, já é chamado de “mãos de tesoura”.

Foto: Roque de Sá/Agência Senado » Telmário Mota “Lamento que no último tempo a liderança progressista que caracteriza o centro democrático se transmutou em liderança ultraconservadora, ultrafundamentalista, que não media e não tem parâmetros éticos, com esse PMDB jamais governaria ou conviverei novamente”, disse Dilma Rousseff em resposta ao senador Telmário Mota (PDT-RR), que indagou o que faria a presidente afastada se voltasse ao poder e foi aplaudido ao concluir sua fala. “Deus me livre do PMDB do mal.

Eu respeito vários integrantes do PMDB que ao longo da história representou o centro democrático do país.

Não podemos esquecer o PMDB de Ulysses Guimarães, o PMDB responsável pelas lutas que levaram à Constituição cidadã de 88”, afirmou a presidente afastada.

Foto: Roque de Sá/Agência Senado » Cristovam Buarque Horas depois de declarar voto a favor do impeachment, Cristovam Buarque (PPS-DF), perguntou a Dilma quais eram as qualidades de Michel Temer para que fosse escolhido vice tanto em 2010 quanto em 2014. “Michel Temer foi escolhido para ser meu vice porque supúnhamos que ele era integrante do PMDB democrático, progressista e transformador.

Mas isso começou a mudar entre o fim do primeiro mandato e o início do segundo.

Eu lamento muito por ter construído essa hipótese de que o vice representava o centro democrático que até então havia dado governabilidade ao País”, disse, se mostrando arrependida. “Eu respeito muito a tradição de luta do PMDB pela democracia, mas infelizmente esse processo não teve continuidade nos tempos recentes.

Este impeachment é fruto dessa mudança de comportamento.”