O escritor Ruy Castro parece que adivinha.

Nesta manhã, no Senado, Dilma teve a coragem de se comparar a Getúlio Vargas e Jk, como vítima de golpe.

Na frase inicial, ela disse que todas as vezes que o interesse das elites econômicas e políticas foram feridos pelas urnas houve golpe de Estado.

Ruy Castro, na coluna da Folha de São Paulo Nem tudo era uma borboleta amarela.

O pavão ainda não abrira o seu “arco-íris de plumas”.

E Copacabana se domesticou para se salvar das pragas — “Ai de ti, Copacabana” — que ele lhe rogou.

Entre uma e outra dessas crônicas, as mais bem destiladas da língua, Rubem Braga se debruçava também sobre o dia a dia e escrevia sobre ele para pagar o aluguel.

Uma caixa com três livros, “Rubem Braga – Crônicas”, recém-lançada pela Autêntica, compõe-se desse material, publicado em jornais e revistas dos anos 40 até sua morte, em 1990, e dividido por assunto: música popular, artes plásticas e política, um para cada volume.

Para os mais jovens, que só conhecem o passado pela ótica do presente, o mais surpreendente será o sobre política.

Não, Rubem não gostava de Juscelino Kubitschek, a quem sugeriu, na esteira da construção de Brasília, fazer também uma escada rolante para o Cristo do Corcovado e prover de ar condicionado o Maracanã.

O vice de JK, João Goulart, era “um trêfego”.

E Luiz Carlos Prestes, líder dos comunistas, um dos políticos “mais errados do Brasil”.

Mas sua “bête noire” era Getulio Vargas.

Rubem nunca o perdoou por, enquanto ditador, censurar a imprensa, flertar com o nazismo, prender intelectuais e tolerar a tortura e o assassinato de inimigos políticos.

Quando Getulio voltou como presidente eleito, Rubem recusou-se a acreditar em sua suposta conversão à esquerda — classificava-o de um “ex-ditador oportunista e velhaco”.

Não o poupou nem na reação popular à sua morte, a 24 de agosto de 1954: “Foi um movimento histórico ou apenas histérico?”.

E já então alertava para a versão com que o veriam no futuro: “O que derrubou Vargas não foi nenhum ato contra ou a favor do imperialismo.

Foi a sua impotência em reprimir a corrupção, o escândalo, os crimes de sua gente”.

Lembra alguém?