O primeiro dia do julgamento do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) durou cerca de 20 horas, em sessão que ouviu os dois nomes indicados pela acusação como testemunhas.

Houve confusão entre os senadores contra e a favor da petista e várias questões de ordem.

Após reclamação do advogado José Eduardo Cardozo, Júlio Marcelo de Oliveira, procurador do Ministério Público no Tribunal de Contas da União, foi ouvido apenas como informante – estratégia que deve ser usada pela base aliada do presidente interino Michel Temer (PMDB) contra os convocados pela defesa.

Inquirido por mais de sete horas, por 29 senadores.

Apenas seis fizeram questionamentos ao segundo depoente, Antônio Carlos Costa D’Ávila Carvalho, ex-auditor fiscal de controle externo do TCU, este aceito como testemunha.

Ambos afirmaram que Dilma cometeu os crimes de responsabilidade pelos quais é acusada.

Depois desse resumo da sessão, saiba como foi a reunião em dez palavras: Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil Bate-boca O julgamento já teve a primeira confusão pela manhã, levando o presidente da sessão, o ministro Ricardo Lewandowski, a suspendê-la para que os ânimos se acalmassem.

Mas, em uma reunião de 20 horas com apenas dois intervalos (poucos minutos a mais ou a menos que das 13h às 14h e das 18h às 19h, já que não houve a pausa prevista para as 23h), não foi o único momento de tensão.

Durante a fala do procurador do TCU, por exemplo, senadores contra e a favor de Dilma voltaram a discutir acusando uns aos outros de estar usando o tempo de perguntas aos depoentes em tom político.

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado Ordem Não foram poucas as vezes em que se ouviu aquela já famosa frase: “Questão de ordem, presidente”.

Acostumado com a seriedade das sessões do Supremo Tribunal Federal (STF), Lewandowski reagiu às intervenções afirmando, já no meio da tarde, que não aceitaria mais aquelas que fossem necessárias.

Pela manhã já havia negado algumas.

O ministro chegou a dizer que os senadores decidiriam, não fazendo mais pedidos pela palavra, a que horas “iriam para casa”.

No fim, porém, saiu tudo no ritmo esperado, segundo as últimas palavras dele na reunião.

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado Atraso Com oito testemunhas previstas até o fim do julgamento, apenas duas foram ouvidas no primeiro dia.

E quase que só ficava na primeira.

Depois das questões de ordem e do tumulto da manhã, o procurador do TCU só começou a responder as perguntas dos senadores à tarde.

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado Troca Já à tarde, a retomada da sessão de julgamento foi marcada por um questionamento do advogado da defesa, José Eduardo Cardozo, que impediu que a primeira e principal testemunha da acusação no processo fosse ouvida nesta condição.

Júlio Marcelo de Oliveira está sendo ouvido apenas como informante.

O tempo todo senadores ficaram afirmando que, assim, ele não teria que falar a verdade - porém, diziam que não acreditavam que o depoente mentiria.

Crime Questionado pelos senadores da base aliada de Temer, o procurador do TCU afirmou que Dilma cometeu crime de responsabilidade ao abrir créditos suplementares sem autorização prévia do Congresso Nacional e disse que é “impossível” que a presidente não soubesse das chamadas “pedaladas” no Plano Safra, a não ser que não estivesse exercendo o papel.

Um exemplo usado por ele é que ela não teria que controlar questões mínimas do Planalto, como o pagamento de tapetes, mas sim bilhões gastos.

Foto: Jefferson Judy/Agência Senado Militante Júlio Marcelo de Oliveira disse ainda que votou em Dilma em 2010.

Ele ponderou que, dada sua função, não poderia deixar de apontar ilegalidade cometidas por ela. “Não sou militante contra Dilma”, disse. “Certamente, eu não seria capaz de votar em Dilma depois do que ela fez em 2013 e 2014”, completou.

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado Moral A primeira grande confusão da sessão começou quando a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) afirmou que nenhum senador tem condições morais para julgar o afastamento permanente de Dilma. “Qual a moral do Senado para julgar uma presidente da República?”, questionou, visivelmente exaltada.

A declaração foi interrompida pela manifestação indignada de outros senadores longe do microfone, entre eles, Ronaldo Caiado (DEM-GO), a quem Gleisi respondeu acusando: “o senhor é do trabalho escravo”, disse ao microfone.

Quem achou que acabaria por aí estava enganado.

Já nas últimas horas de sessão, a senadora Ana Amélia (PP-RS), voltou a reclamar do questionamento da petista, dizendo ter moral, sim, para julgar Dilma e alegando estar honrando o voto de mais de 13 milhões de gaúchos.

Mesmo com a mágoa da colega, Gleisi disse que não voltaria atrás.

Ficou por isso mesmo.

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado Discurso Era uma norma estabelecida por Lewandowski não usar o tempo de fala no depoimento de testemunhas para fazer pronunciamentos, sem interrogar o informante Júlio Marcelo de Oliveira.

Mas as senadoras Regina Sousa (PT-PI) e Angela Portela (PT-RR), depois do intervalo da noite, deram apenas sua opinião na réplica e, ao declararem que não fariam perguntas, Lewandowski respondeu: “Sem perguntas, sem resposta.

Passamos para o próximo senador.” Foto: Ana Volpe/Agência Senado Seis Vinte e quatro parlamentares se inscreveram para fazer questionamentos para Antônio Carlos Costa D’Ávila Carvalho.

Mas, com a decisão de Lewandowski de ouvir o segundo depoente ainda esta noite, só restaram seis para perguntar, a maioria contra o impeachment, como Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Paulo Paim (PT-RS).

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado Entrevista Antônio Carlos Costa D’Ávila Carvalho foi provocado por causa de uma matéria publicada pelo jornal Valor Econômico, em que foi acusado de não ter competência para acusar Dilma no TCU por fazer declarações públicas contra ela.

Claramente irritada, a testemunha respondeu que não aceitaria o questionamento ao seu trabalho e negou ter concedido a entrevista.

O jogo seguiu e, ao final do depoimento de menos de duas horas, incluindo as perguntas dos parlamentares, de José Eduardo Cardozo e de Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment, Lewandowski anunciou o fim do primeiro dia de sessão.

O plenário retoma o julgamento nesta sexta-feira (26), às 9h, para ouvir as seis testemunhas de defesa.

Novamente sem hora para acabar e com previsão de mais tumulto.